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  • A política torturada na pintura de Neuza Ladeira

    A pintura de Neuza Ladeira impressiona pelo contraste entre tons sombrios e maduros e o frescor das formas florais de paisagens e pessoas conjugadas a pequenas belezas da vida. A atmosfera nublada de alguns dos seus quadros reflete talvez a sua história de horror político. Ela diz: "fui prisioneira com 20 anos e saí 2 anos depois. Fui muito torturada e fiquei um tanto alienada. Só em 2009 voltei a ser eu". Quinta-feira, 5 de janeiro de 2023 Daqui a 2 dias faço 74 anos, mas me sinto com 90. Tenho uma dor diária que me consome e só dá tristeza. Não consigo pintar e nem escrever estou no limbo! Mas mesmo assim amo as flores e suas cores, amo a diversidade, amo a liberdade, o amor... Apesar do absurdo que me habita, reparo o mundo, as guerras insanas, o homem do planeta com suas diferenças e coincidências. Tenho momentos de alegria e felicidade, mas o tempo maior é de suspiro. A minha vida foi conturbada, aos vinte estava prisioneira da Ditadura Militar saí 2 anos depois e devido às torturas fiquei alienada. Recobrei a consciência e me sinto mais em paz. Espero que esses 74 anos me suavize da visão que terei do mundo e da vida vivida. Pintora, mas também poeta, Neuza Ladeira passou a infância em Manhuaçu, Minas Gerais, e mora em Belo Horizonte desde 1964, cidade onde nasceu em 9 de março de 1950. "A poesia surgiu primeiro, adorava ir num sarau. A cidade que morava de vez em quando tinha esses eventos, sempre na casa de algum poeta. O tempo todo sonhava com poesia, tudo no pensamento. A pintura surgiu no ano 2000. Um dia andando na cidade resolvi comprar tinta, pincéis e papel e comecei, e pintei muito". Segunda-feira, 7 de março de 2022 Algo mudou Centrou Uma flor Perfumada Rosada No meio do mundo. Suas pinceladas grossas combinam-se com a especificidade de sua visão física e com certo ponto de vista psicológico sobre si. Neuza explica que tem 8 graus de miopia e que "atualmente sinto que sou mais uma na multidão". "Não me considero nem mais poeta, nem mais pintora. Convivo bem com as duas. A hora de cada uma é sagrada". Quinta-feira, 5 de janeiro de 2023 Eu aproveitei os dias chuvosos e chorei chorei pelas guerras, pelas injustiças chorei pelas ambições, invasão de territórios matar violentamente chorei pelas minhas mãos atadas boca muda, rigidez muscular pela minha insônia secular chorei pela fome, de tristeza sabendo que o mundo está virado. Para Neuza Ladeira "arte é a subjetividade. Tem a função estética e educacional. É tudo de belo e livre". Gosta sobretudo de Van Gogh e Picasso: "o primeiro pelas cores e o segundo por sua imaginação". Segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021 Sou linha texturas tecidas No âmago do tempo tecendo as fibras Fabricando o tecido Sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019 Só reparo as horas abertas Do relógio murmurando Velozmente os minutos As horas Sábado, 18 de fevereiro de 2023 Alma seca delicada onde o orvalhar é temporário. Sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023 Elas amam o papai Mas ele é a alegria da casa Com aqueles olhinhos risonhos Sagitariano e seu humor cáustico Tenho um rosário contra ele Mas elas o amam Então me calo e observo este amor. Segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019 O caracol repete Em sua concha A rotina diária Do introspectivo. Sábado, 12 de fevereiro de 2022 A Caravana Somos viajantes em curso A paz está aqui só que não vemos Alegres ou tristes como um grande lago Ilimitados sussurrando baixinho Recolhendo as correntezas e vicissitudes da vida Abundantes perturbados altivos vergados Caldeirões de impulsos ora alto ora baixo Devoradores da opressão do progresso gradual Penetração encontro reunião Diminuição dilatação No insondável na duração na retirada. Saiba mais sobre Neuza Ladeira: https://neuzaladeiraessencial.wordpress.com/ https://www.germinaliteratura.com.br/2014/neuza_ladeira.htm https://www.facebook.com/neuza.ladeira

  • O Homem Hidrológico

    É evidente que a situação ambiental dos recursos hídricos não anda boa. Toda base do desenvolvimento humano causa grandes mudanças hidrológicas, comprometendo a segurança alimentar e a prosperidade econômica. A aceleração do declínio dos recursos hídricos nos municípios é no mínimo preocupante. Diante do ganho econômico de curto prazo e a saúde dos sistemas hídricos normalmente escolhe-se o primeiro. Assim aproximamos rapidamente de uma condição crítica. Nos territórios, nas propriedades e na nossa casa. A grande ameaça, a verdadeira ameaça é a postura do homem. O modo elementar de gestão da natureza tornou-se hegemônico e vai levando a sociedade para um colapso ambiental. Em se tratando de água parece que o homem é incapaz de não destruir. Sem olhar, sem perceber, sem raciocinar, o homem relaciona-se friamente com a água. Em qualquer lugar ou empresa o problema com a água parece um exercício de futurologia; principalmente nas propriedades agrícolas. Com o peso dessa realidade, é preciso admitir que necessitamos de um “novo homem”: o "homem hidrológico". O homem hidrológico é aquele que vive intensamente suas relações com a água. Busca aprimoramento constante de suas ações em relação às formas de água presentes no seu cotidiano. O homem ciente do seu papel no ciclo hidrológico. O que percebe os efeitos de suas decisões principalmente quando se trata de recursos hídricos de superfície. No contexto do desenvolvimento o homem hidrológico se faz cada vez mais necessário. Instrumento de requalificação da ocupação e uso do espaço. Na adequação de modelos de gestão frente aos fenômenos hidrológicos presentes com as mudanças climáticas. A figura acima, tenta mostrar a representação esquemática do “homem hidrológico”. Afonso Peche Filho Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas www.iac.sp.gov.br

  • A triste realidade dos solos descobertos

    Sem alarmismo, mas com prudência, convém olhar com atenção os crescentes problemas que a exposição dos solos traz para áreas agrícolas. Seus efeitos atuais, em médio e longo prazo. Com a adoção do sistema convencional de preparo e condução de lavouras, quando a safra termina, fatalmente o solo está mais fragilizado, mostrando sinais de empoçamento, desarranjos superficiais, poeira em suspensão e invariavelmente processos erosivos, pequenos ou grandes. Mesmo que não aconteça erosão em grandes proporções, o agricultor sempre faz o sacrifício de perder a qualidade produtiva do solo que ele vem construindo a décadas ou mesmo em uma vida inteira. No atual estágio da agricultura brasileira e de todos países tropicais a cada safra o problema de controle da degradação das áreas produtivas fica mais complicado. É fato que com o passar dos anos as terras agrícolas aumentaram sua vulnerabilidade com o manejo convencional. Os dados da Embrapa, mostram que o Brasil tem por volta de 63.994.709 hectares de área cultivada e a Federação de Plantio Direto e Irrigação mostra dados em seu site que em 2018 o Brasil tinha por volta de 33 milhões de hectares com o sistema implantado. Só Deus sabe com que qualidade da cobertura e das práticas conservacionistas. Fato é que ainda temos no país uma enorme quantidade de área com solo exposto por pastos degradados ou por áreas que sofrem mobilização e exposição pela adoção de sistemas convencionais de plantio. Eis aí um excelente motivo para redesenhar o manejo tradicional e caminhar para um modelo que elimine a mobilização e adote constantemente a cobertura biodiversa do solo. Essa perda progressiva da capacidade produtiva do solo nada tem a ver com a falta de tecnologia, e sim com o modelo reducionista e impactante de ocupação e uso das terras agrícolas tropicais. O que ocorrerá na próxima safra? Quantos milhões de dólares vamos perder pela erosão? Qual é o custo ambiental de sacrificar áreas produtivas com a exposição dos solos? Respostas estas que eu gostaria de poder responder. No Brasil, parece que o planejamento de safra não inclui medidas efetivas de prevenção e controle de perdas da capacidade produtiva dos solos agrícolas. A avaliação produtiva das áreas sempre se refere aos dados de quilogramas de produtos colhidos por hectare, nunca quanto de degradação foi produzida. Processos erosivos de grandes proporções têm sido administrados sem que pareçam problemas, nem analistas e nem investidores levam em conta perdas por erosão na agricultura brasileira. Muito menos empresas que vivem do agronegócio brasileiro, somente o agricultor administra o risco ou fica no prejuízo. E aí vale o clássico ditado: “O agricultor passa, mas a terra fica e sabe lá como”. Afonso Peche Filho Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas www.iac.sp.gov.br fotos Walter Antunes

  • A terceira margem do terceiro tempo

    Uma mensagem colocada numa garrafa e lançada num rio pode chegar ao mar? Quanto tempo demoraria para chegar ao destinatário? Cem dias? Cem anos? Nunca? Cem dias, uma métrica recentemente muito propagandeada, é o tempo usado como período de trégua para um novo governo poder se estruturar noutras latitudes distantes da colônia pau-brasil. Numa colônia que encena ser país, importam-se sempre modismos e novidades preferencialmente inócuas: "é preciso dar tempo para a adaptação mesmo que já se tenha governado antes". Boiando pelos rios a mensagem na garrafa, cem ou duzentos dias pode ser um bom tempo quando se tem no meio disto uma Brasília vandalizada, golpeada, com todos os símbolos da República escarnecidos pelo pior tipo humano dos trópicos, um tipo que não é a totalidade, mas que é grande, volumoso, atuante, sempre presente e altamente definidor da realidade brasileira ao longo de 523 anos. “Ser julgado pela história” é uma citação que tem se repetido em variadas bocas de políticos nas últimas décadas: "o julgamento da história", "ficar bem com a história", "ter o seu merecido lugar na história". Essa história a que se referem está sempre no futuro, o Brasil era ou foi ou é ainda o “País do Futuro”, faz cem anos que o Brasil é o “País do Futuro”, um futuro que demora sempre a chegar. Cem dias ou duzentos dias ou cem anos: qual o tempo para uma mensagem numa garrafa chegar ao destinatário? Imaginando livremente o conteúdo da mensagem dentro da garrafa que boia num rio em direção ao Atlântico procurando o destinatário, sempre reverberando a citação do julgamento da história: "A história será implacável com os que hoje se julgam vencedores", considerando toda a experiência adquirida e vivenciada pelos políticos que citam Darcy Ribeiro, pensamos numa carta que tenha conselhos cordiais travestidos em sutis perguntas: 1 Depois da grande experiência de quatorze anos no poder - alguns historiadores consideram dezesseis os anos de governo - pode-se repetir as mesmas estratégias de alianças políticas, as mesmas táticas e políticas econômicas, as mesmas medidas para “desenvolvimento do país” que foram postas em prática naquele período e que como dizem os políticos que tanto citam a história, “foram completamente destruídas” na sequência, num período bem menor de tempo: os seis anos entre 2016 e 2022? 2 A experiência de aquecimento da economia, através do consumo desenfreado, oferta de crédito, isenções para grandes empresas, financiamento com dinheiro público de velhos e novos negócios das oligarquias, mostrou-se insuficiente para a real transformação das desigualdades do Brasil. O cidadão nivelado a sujeito consumidor: “a primeira geladeira, a primeira TV, a primeira casa, a primeira moto”, até “o primeiro diploma conseguido por alguém da família", tudo isso evaporou com uma ou duas canetadas, levando a situação do explorado brasileiro ao nível mais baixo em décadas, incluindo a perda dos direitos trabalhistas e previdenciários, algo impensável de se imaginar antes de 2002. É apenas esse mesmo método que se pretende executar novamente e depois ficar torcendo para "se dar bem com a história"? 3 Entre 2002 e 2022 se acelerou a compreensão para a questão da continuidade ou não da vida no planeta Terra. A razão humana através de todas as ciências, até mesmo as do norte colonizador, sabe e reafirma cotidianamente, diante do escancaramento das tragédias por todo o planeta, da visão da natureza vilipendiada pela mão do homem: estamos no último momento de parar, recuar, aprender e salvar a Terra e a própria existência humana. Não se consegue mais enganar a ninguém com os "estudos e dúvidas" financiados pelas grandes corporações multinacionais que durante décadas minimizaram os efeitos da destruição do planeta pela ação humana. Não há outra alternativa para a sobrevivência da humaninade que se nomeia civilizada que não seja a reinvenção de todo o seu modo de vida: romper com os milhares de anos de ação destrutiva e se alinhar apenas como mais uma espécie que habita o planeta, nem menos, nem mais importante que todas as outras. Por que um governo que deseja "ficar bem com a história", que se nomeia defensor da vida e da pluralidade da vida insiste em repetir a destruição? Desenvolvimento do "agronegócio" na Amazônia? Estrada "ferrogrão" rasgando terras indígenas, florestas, reservas nacionais para levar comida dos brasileiros para fora do país? Exploração de petróleo na Foz do Amazonas? Dinamitar leitos de rios para aprofundar a calha e permitir que navios transportem minérios e grãos para países distantes? Construir Belomonte e provocar todo o tipo de destruição ambiental e humana? Não, Belomonte não precisa mais ser feita, foi licenciada, construída e colocada em funcionamento entre 2003 e 2015. De que lado da vida e da história estão os vencedores? 4 Dizem que "centrão" é apenas mais um nome brasileiro para a mesma organização que habita o parlamento desde 1822, uma organização fundamentada na exploração do povo brasileiro e das riquezas do país, através das mais variadas estratégias de utilização dos três poderes em benefício próprio: escravidão, impunidade, financiamento via dinheiro do povo como fundo perdido. Esse centrão de 1822 fez parte do governo entre 2003 e 2016. Se é fundamental ficar bem com a história, que história é essa que aceita esse centrão em 2003-2016 e 2023? Uma história cega? Os explicadores dos mistérios brasileiros poderiam contar para o povo e para a própria história os segredos e benefícios para o Brasil e para o seu povo dessa organização “centrão” ser historicamente maléfica para o país desde 1822, mas como num truque de mágico, se tornar boa e necessária para o governo quando esse é eleito diretamente pelo povo com a promessa de transformação profunda do país, promessa de eliminar a miséria e a fome, promessa do fim da exploração do seu povo e de todo o país exatamente pelo próprio “centrão”. 5 O petróleo junto com a atual corrida pelos minérios é o principal elemento e símbolo do colonialismo hoje. Todos os países e lugares que apostaram e propagaram a ideia de desenvolvimento e auto-suficiência através da exploração do petróleo e dos recursos naturais, mentiram para os seus povos. Ditaduras, corrupção, destruição da natureza, monopólios, enriquecimento ilícito, miséria do povo, ausência total do respeito aos direitos humanos, esse é o rastro deixado pelo petróleo na Ásia, na África, na América. Enquanto existem até países vizinhos produzindo gasolina sem petróleo, investindo em tecnologias verdadeiramente sustentáveis para deixarem de ser colônias, outros se entregam e afundam mais na opção por exploração e desvio dos seus recursos naturais. Por onde anda a promessa do biocombustível sustentável brasileiro? Energia eólica, energia solar num país gigantesco e tropical: por onde andam? O Brasil tem sete mil quilômetros de litoral e não busca a energia limpa retirada dos movimentos das marés do oceano. Pode alguém querer enganar a história dizendo que um dos principais pilares para o novo desenvolvimento do país tem como base a reconstrução da sua empresa petrolífera? 6 A Histórica Constituição de 1988 determinou o prazo de cinco anos para a demarcação das terras indígenas, as terras daqueles que estavam no Brasil muito antes de 1500. Entre 1991 e 1994 foram demarcadas 139 terras. No período de 1995 a 2002 outras 145 terras tiveram a sua demarcação. Nos anos de 2003 a 2016, foram demarcadas 100 terras indígenas. A constituição determinava 1993 como ano limite. Trinta anos depois nem mesmo metade das terras foram demarcadas, isso considerando os históricos quatorze anos do governo "Um País de Todos". Para a história, como fica alguém que tem a oportunidade de realizar a demarcação das terras indígenas e não o faz? 7 É possível algum “governo popular” transformar o Brasil, fundado sobre a apropriação das terras indígenas e sobre o trabalho escravo, sem fazer a profunda e definitiva reforma agrária também proclamada na Constituição? 8 A demarcação das terras quilombolas após 35 anos da Constituição também aguarda pela história. Apenas 7% das terras quilombolas foram demarcadas desde então. O momento se apresenta como ótima oportunidade para quem deseja entrar para a história como “verdadeiro vencedor” ao lado do seu povo, fazendo a efetiva demarcação e entrega da terra a quem verdadeiramente pertence. 9 O Turismo no Brasil, alardeado como fonte de desenvolvimento, não ultrapassa seis milhões de visitantes por ano, mesmo com toda a diversidade e pluralidade de atrativos naturais, históricos e culturais, mesmo o país tendo sediado com gigantesca propaganda os dois principais eventos esportivos do mundo: a Copa da Fifa em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. Por comparação: a Croácia recebe 12 milhões de turistas ao ano, o México 45 milhões. A história explicará um dia os verdadeiros motivos que fazem com que se esconda o Brasil dos turistas, do mundo e dos próprios brasileiros? 10 Ano após ano todos os governos tratam a educação como canal para atender aos interesses de empresas, empreiteiras, fornecedores, desde materiais didáticos até a construção de prédios que quase sempre de desfazem antes mesmo do término de um mandato presidencial. A essência da transmissão do saber, a relação mestre-aluno, metodicamente é atacada, com a política permanente de desvalorização do professor e o investimento contínuo no desestímulo do “verbo estudar/aprender”. É priorizada a formação de analfabetos funcionais como mão-de-obra para vagas precarizadas num mercado de trabalho inexistente, ao mesmo tempo em que se vende como promessa o engodo do empreendedorismo como única forma de ascensão dentro do país-colônia: “o indivíduo necessita apenas da sua própria genialidade, dedicação, sorte e ‘algumas dicas da internet’ para atingir o céu da prosperidade.” Como “entra para a história” quem entrega oficialmente a educação do povo para a pirataria de empresas disfarçadas pelo rótulo de “instituições de educação sem fins lucrativos” que mais lembram rótulos de cervejarias? Afinal aquele que os politicos tanto têm citado quanto à história e ao futuro, o mesmo Darcy Ribeiro estabeleceu: “A crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto.” 11 Com o centrão participando do governo de 2003-2016, junto com todos os partidos da velha política brasileira, com um vice-presidente de "confiança" escolhido em 2010 e novamente escolhido em 2014 por aqueles que se preocupam com o "julgamento da história", com o acesso ao consumo de todas as camadas da população durante o período, se com todos esses elementos "favoráveis", ainda assim a experiência do autoproclamado "governo transformador" foi encerrada com a destituição da presidenta via impeachment, o que esperar quando a trajetória toda se repete com os mesmos acordos com a velha política, com o mesmo "equívoco acertado" do escolhido vice atual, com a mesma total ausência de participação popular nos destinos do país? Caberá a quem explicar para a história por que em nenhum momento buscou-se a efetiva atuação do povo no dia-a-dia da construção e condução do país e do seu destino? 12 O futuro único para o Brasil ser uma nação é o da proteção da vida. Começa por justiça, pela justiça definitiva dos direitos dos povos indígenas, dos quilombolas e dos trabalhadores da terra que não podem cultivar e viver em paz na própria terra. Passa pela dignidade da transformação do pensamento e compreensão de que sem a preservação da natureza todo o território brasileiro vai se transformar em imenso deserto. O desenvolvimento não se faz com asfalto, concreto e painéis luminosos de consumo, isso tudo nem emprego nunca gerou. A única possibilidade para o Brasil é romper o ciclo de imitação dos países europeus colonizadores, se reinventar como vanguarda da sabedoria do equilíbrio e preservação da natureza, formar cidadãos e não autômatos, exportar sua cultura e beleza e não sua terra. Apenas quem é movido pelos próprios interesses nascidos e alimentados na corrupção pode fingir não enxergar o futuro possível e insistir em manter o país na roda destruidora e perversa do consumo total que consome e destroi toda a vida. Alguém preocupado com a história e o futuro ainda tem dúvidas?

  • Cinco práticas agrícolas sustentáveis que você precisa conhecer

    Hoje em dia, muito se fala sobre sustentabilidade, mas, para a maioria das pessoas é um termo genérico, com significado difuso, muitas vezes atuando mais como um fetiche consumista moralista, do que uma preocupação consciente com seja lá o que for. Hoje vamos destrinchar esse termo e exemplificar práticas agrícolas sustentáveis, para que observemos os campos e produtos do nosso Brasil com outros olhos. O que é sustentabilidade? Como diria Voltaire, “antes de conversar comigo, defina seus termos”, de acordo com o Portal da Indústria, mantido pelo CNI/SESI/SENAI/IEL, sustentabilidade “é a capacidade de usufruir dos recursos naturais presentes no planeta sem comprometer o uso dos mesmos para as gerações futuras”. O autor desconhecido, ainda completa que, a sustentabilidade ambiental “relaciona-se à capacidade de suporte, resiliência e resistência dos ecossistemas”. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), “agricultura sustentável envolve fatores como conservação do solo, da água e dos recursos genéticos animais e vegetais, conservação ambiental e uso de técnicas apropriadas, economicamente viáveis e socialmente aceitáveis”. Outro termo que considero importante para a nossa conversa é “segurança alimentar”, que significa, nas palavras da FAO, “a segurança alimentar ocorre quando todas as pessoas têm acesso físico, social e econômico permanente a alimentos seguros, nutritivos e em quantidade suficiente para satisfazer suas necessidades nutricionais e preferências alimentares, tendo assim uma vida ativa e saudável”. Todos esses termos e suas definições formais precisam ser levados em conta por agricultores, governantes e ativistas conscientes e responsáveis. Observando-os com cuidado, vemos que eles se complementam, uma vez que promovem justiça a todos os envolvidos no processo da alimentação. Conheça algumas práticas agrícolas sustentáveis Enquanto no mercado, o marketing apela para galinhas criadas soltas e verduras orgânicas, práticas agrícolas sustentáveis para a produção em larga escala, que realmente põem a comida na mesa do povo, são deixadas de lado. Não que criar a galinha solta não traga conforto ao animal, ou que a verdura orgânica não seja mais saudável, mas essa é apenas a ponta do iceberg da sustentabilidade. Antes de prosseguirmos, já que tocamos no assunto “galinha solta”, acho relevante observar que, no aspecto da preservação ambiental, criar milhares de galinhas soltas não gera um impacto positivo, afinal, elas pisoteiam e reviram o solo, comem todo tipo de broto e semente, além dos insetos, mas dentro do contexto da agricultura familiar, ou do controle de pragas, essa prática é altamente sustentável, algo que podemos comentar em outra ocasião. Agora vamos a uma pequena lista contendo algumas práticas agrícolas sustentáveis pouco difundidas para o público. Plantio direto Assim como na maioria das práticas agrícolas sustentáveis, o Brasil é líder mundial na tecnologia do plantio direto. A técnica surgiu no hemisfério norte, mas foi trazida ainda nos anos 70 pelo produtor Herbert Bartz, do norte do Paraná, que a implementou e descobriu que funciona muito bem em terras brasileiras. Ao longo das décadas, a técnica vem sendo aprimorada por empresas públicas e privadas, através da experiência de pequenos e grandes agricultores. Não foi necessariamente o viés da sustentabilidade ambiental que tornou esta uma das práticas mais populares do Brasil, mas sim da sustentabilidade e independência econômica. O plantio direto consiste em, ao invés de limpar toda a palhada da área após a colheita, mantê-la sobre o solo. Dessa forma, com o solo coberto, a estrutura dele é mantida, facilitando a infiltração da água, o abastecimento de lençóis freáticos, reduzindo a necessidade de irrigação, preservando os nutrientes do solo, além da microbiota, que é responsável por manter e produzir nutrientes e facilitar a absorção deles pelos vegetais. Outro benefício observado, é que, como a massa seca de vegetais, da mesma forma como ocorre com todos os seres vivos, é composta principalmente de carbono, conservar a palhada ao longo dos anos promove a captura do carbono presente na atmosfera, afinal, o carbono vegetal provém da fotossíntese, ou seja, do ar. Mas não se preocupe, a palhada não vai se acumulando indefinidamente, pois ela vai sendo devorada por insetos e microrganismos, que acabam retornando parte do carbono ao ar, mas ainda assim, capturam uma parcela considerável. Entretanto, essa palhada morta pode favorecer a proliferação de pragas, demandando ao agricultor a adoção de mais uma prática, que também promove a sustentabilidade, a rotação de culturas, além de outra um tanto controversa, que veremos adiante. Rotação de culturas Como o nome sugere, a rotação de culturas consiste em alternar a cultura agrícola ao longo do tempo, conforme o calendário de produção e a incompatibilidade de pragas. Dessa forma, após o plantio de uma espécie, outra bastante distinta é escolhida para sucedê-la, conforme as orientações agronômicas. Por exemplo, após uma safra de milho, podemos cultivar o feijão, plantas vulneráveis a pragas bastantes distintas. Dessa forma, a policultura ocorre ao longo do tempo, e não do espaço, viabilizando ainda mais os processos mecânicos e a alta produtividade. Outro benefício advindo desta prática é que os vegetais não apenas sugam o solo, seu metabolismo e a forma como enraízam, pode produzir nutrientes, em especial o nitrogênio pelas leguminosas, assim como pode melhorar a estrutura do solo, um caso clássico é o das gramíneas, como o milho, que possuem raízes finas e profusas, que aumentam a porosidade do solo, facilitando a infiltração da água e proporcionando habitat para insetos e microrganismos benéficos às culturas. Uso responsável de defensivos agrícolas e fertilizantes Muito difamados, os fertilizantes e defensivos agrícolas têm papel importante, mesmo para quem busca uma agricultura sustentável, desde que utilizados com responsabilidade, afinal, eventualmente, pode ocorrer uma grande infestação, demandando o uso de defensivos para não inviabilizar a produção, o que não apenas traria enormes prejuízos para os agricultores, como também colocaria em risco a segurança alimentar da população. Já os fertilizantes são sempre obrigatórios na agricultura de alta produção, afinal, mesmo com o plantio direto, produtos são tirados da terra em um ritmo maior do que são repostos, dessa forma o agricultor não tem alternativa, senão aplicar fertilizantes, que podem ter origem das fezes fermentadas de animais, de rochas moídas, ou de processos químicos industriais. Em todos os casos, é muito importante o monitoramento e a orientação especializada para que não haja erros, que causariam prejuízos ambientais e financeiros. Ao aplicar defensivos inadequados, no momento errado, ou em quantidade inferior à necessária, o produto não fará efeito e o agricultor terá prejuízo com a praga e com a compra do produto. Em quantidades exageradas, pode causar desequilíbrio ambiental, prejudicando outros insetos, até mesmo mamíferos, aves, contaminando rios, lençóis freáticos, matando peixes, envenenando a água que bebemos e causando prejuízos ao agricultor, que comprou um produto extremamente caro, em quantidade maior do que o necessário, com o risco de receber multa e ter a lavoura posteriormente impactada pelo desequilíbrio causado. Outra prática importante para o uso consciente dos defensivos, é reservar uma área da lavoura onde não serão aplicados, que será, ao menos parcialmente comprometida pela praga. Isto pode parecer estranho, mas Darwin explica: ao aplicar o defensivo sobre toda a lavoura, toda a praga vulnerável será exterminada, restando apenas os indivíduos resistentes, que se reproduzirão e infestarão novamente a área, de forma que o produto não servirá mais para eles. Reservando uma área, muitos indivíduos não resistentes sobreviverão e se reproduzirão com os demais, diluindo o gene da resistência, que demorará mais a se manifestar. Outra prática neste mesmo sentido, é mudar o defensivo aplicado, de tempos em tempos, conforme a orientação especializada. Integração floresta-lavoura Esta prática consiste em manejar a floresta para produzir dentro dela, sem desmatá-la completamente. Isto faz mais sentido em culturas não mecanizadas, em espécies que se beneficiam, como o café, ou na criação de animais. Dessa forma, espécies nativas são mantidas e o produtor pode até mesmo acabar descobrindo produtos que são extraídos desses vegetais, como folhas, frutos, galhos e seiva, que podem ser utilizados para fins alimentares, medicinais, ou para fazer artesanato. Existem espécies nativas que podem demorar séculos para alcançar o estágio adulto, além de outras que beneficiam de diversas maneiras os vegetais que as rodeiam, por isso, até mesmo grandes culturas podem permitir que alguns desses indivíduos permaneçam, sem impacto em processos mecanizados. Barraginhas A ideia das barraginhas é bastante simples, mas genial! A pessoa precisa moldar o terreno, de maneira que, em chuvas, a água não escorra longas distâncias pela superfície, o que levaria os nutrientes embora para os rios, que ficariam contaminados e causaria erosões. A modelagem deve favorecer a formação de pequenos lagos, as barraginhas, onde a água fica contida e pode infiltrar no tempo que o solo é capaz de proporcionar. Dessa forma, além de evitar todos os problemas citados, o agricultor tem menos gastos com irrigação e as estradas ficam mais seguras e com manutenção mais barata. Você conhecia essas práticas de agricultura sustentável? Percebe como elas não apenas favorecem a sustentabilidade ambiental, mas também a segurança alimentar? Quando têm o conhecimento, os agricultores querem adotar práticas sustentáveis que valorizem sua terra, tragam economia e permitam que ela continue produzindo ao longo do tempo, por isso, compartilhe este texto! Ariel Leon Socio Bonfim Redator em Diolinux, estudante de engenharia e computação

  • Como o solo adoece

    Doença do solo deve ser considerada um fenômeno complexo e multifatorial, influenciado por fatores como ocupação e uso inadequados, redução progressiva da biodiversidade, fogo, plantas exóticas, monoculturas, manejo equivocado de tecnologias. São os denominados impactos ambientais cumulativos e sinergéticos. São cumulativos aqueles impactos que ocorrem de forma frequente, produzidos pela dinâmica de ocupação e uso das áreas para produção; são sinergéticos os impactos em associação simultânea, produzindo ou contribuindo para uma ação coordenada. O adoecimento do solo agrícola pode ser entendido como o surgimento de condições negativas para o desempenho vegetativo e reprodutivo das plantas cultivadas. As condições negativas são popularmente conhecidas no Brasil como “cansaço” das terras, degradação, fadiga ou contaminação. Além disso, fatores ambientais como o clima e o tipo de solo podem aumentar a complexidade do adoecimento. Na prática, os sintomas desse “estado doentio” começam com o aparecimento de poeira, poças d’água e crostas superficiais. Tudo começa com o desmatamento e a exposição do solo à radiação solar intensa e às chuvas torrenciais frequentes. Ao longo dos anos o efeito acumulado da mobilização contínua, vai fragilizando de forma lenta e gradual, condenando áreas aos processos erosivos. O perfil epidemiológico do solo permite identificar os fatores tecnológicos, operacionais, biológicos, químicos e físicos que levam ao seu adoecimento, mas o principal fator é, sem dúvida, a “miopia tecnicista” de profissionais e agricultores que negam a possibilidade de caminhar para uma transição agroecológica, praticando atividades mais harmoniosas com a natureza, fundamentadas nos aspectos do desenvolvimento ambiental e humano da agricultura. Afonso Peche Filho Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas www.iac.sp.gov.br fotos Walter Antunes

  • O Chamado do Cacique Raoni

    O Cacique Raoni faz o chamado para salvar a Terra. Link para o encontro do Chamado do Cacique Raoni: institutoraoni

  • Pássaros e orixás como roupas do invisível

    Pássaros, orixás e pessoas parecem figuras bordadas no universo pintado de Renê. Linhas retas e fluidas, lado a lado ou em quadros diferentes, são experimentadas nas estruturas das formas daquilo que para o artista é puro espírito ou pura cor, porque aqui espírito é cor. As figuras são como roupas do invisível. Descobre-se estampas e medidas geométricas disfarçadas nas penas dos pássaros, um coração costurado no peito de uma mulher e a força das divindades na rigidez de efígies hieráticas que, de acordo com o artista, foram vislumbradas através do carnaval. Xangô Nanã Oxum Renê explica: "tenho a necessidade de expressar a complexidade e a diversidade das várias correntes de manifestações religiosas que enriquecem o nosso país, tornando-o único. A matriz afro-brasileira me surgiu como necessidade de composição através da observação constante das fantasias ricamente confeccionadas nas escolas de samba do nosso carnaval. A variedade estilística me dá base inspiratória e não impõe limites para as possibilidades de criação". Eis que surge uma Yemanjá psicodélica e expressiva de um sofrimento atento: "o sincretismo brasileiro é uma de nossas preciosidades. Refletindo sobre a questão, busquei unificar a fé africana com o cristianismo, personificando-os em um único elemento. Assim, "Maria das dores de Yemanjá" é a mãe dos crucificados, açoitados e esquecidos. Derrama o teu leite, lágrimas de sangue, alimentando a esperança dos oprimidos, banhados pelas águas de teu infinito amor!", diz Renê. Maria das Dores de Yemanjá Maria das Dores de Yemanjá Mais abstratos e individualizados, ainda que universais, são os pássaros espirituais inventados por Renê: "além da paixão que tenho pelo pássaro em si, pela sua capacidade de observar a vida de pontos mais elevados com plena liberdade, ele representa também a minha necessidade de transcender limites. Busco no modo simples de vida destes seres incríveis a inspiração para minha vida prática. O pássaro tem em si a beleza da plumagem, do canto, da visão acima das paixões dos homens e não se envaidece". Da pintura, a poesia não se separa no mundo de Renê. A abordagem do sofrimento por meio de uma mulher emudecida e de uma criança abandonada passa pela delicadeza do olhar como um poema: "creio que este é um tema onde meus pés estão fincados no chão, observando, sentido e devolvendo através da arte os "sentimentos do mundo", como bem escreveu nosso Drumond ou " Drumundo". Procuro colocar o dedo na ferida deste corpo social que dói todos os dias com os mais variados sintomas de doenças sociais. A solução para uma doença não se dá através da negação, mas, antes de tudo, pelo enfrentamento sério, duro e pungente. Só assim avançaremos". Renê conta que seu trabalho tem a influência da longa história da arte. Menciona como inspirações principais os artistas da Bauhaus, a famosa escola de arte do modernismo alemão, e da " plêiade de 1922 aqui do Brasil, contudo, Paul Klee é o mestre que despertou a minha alma para o mais além. Não posso deixar de falar do Aldemir Martins, Picasso e dos muralistas mexicanos". O processo de criação de Renê acontece numa mistura de "pura intuição e experimentação de técnicas". Complementarmente, a visibilidade de sua arte se dá principalmente através do ciberespaço. Renê diz que nesse momento "as redes sociais são como chaves que libertam artistas dos grilhões do elitismo, promovendo a expansão de forma democrática. Na minha singela opinião, a arte urbana deu o primeiro passo de uma revolução que a as redes ampliaram de forma imensurável. Meu principal meio de venda e divulgação é através da rede. Hoje tenho clientes na Espanha, Portugal, França, Suíça e EUA por conta deste meio revolucionário". Richard Renê nasceu em 06 de março de 1990, distrito de Perus, São Paulo. Desde muito cedo demonstrava talento para as artes visuais, quando passava horas de sua infância reproduzindo desenhos animados que via na TV. Aos 22 anos, Renê iniciou um curso de design de interiores na Escola Técnica Estadual de Artes de São Paulo, quando descobriu-se como artista, participando de concursos de desenho livre promovidos pela escola, onde ganhou destaque. Autodidata, Influenciado pelas cores do grafitti efervescente da capital paulistana e artistas de vanguarda da primeira metade do século XX, Renê desenvolveu técnicas originais, mesclando materiais múltiplos afim de obter resultados visuais diversos para os diferentes temas abordados em seu trabalho. Renê vai da fantasia mais livre à crítica social mais angustiante, numa busca incessante para incluir a diversidade de emoções e sentimentos que movem a vida humana. Hoje, Renê segue com sua produção artística na cidade de Ourinhos, onde reside desde 2018. instagram Richard Renê

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