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  • A Câmera e O Canhão

    A Câmera e O Canhão livro de Alexsandro de Sousa e Silva O livro discute uma série de encontros e desencontros entre os regimes políticos de Cuba e do continente africano, mediados pela câmera cinematográfica e as guerras pré e pós-independência em África. O repertório de imagens, sons e debates foi pesquisado, virtual e presencialmente, nos dois lados do Oceano Atlântico, e constitui uma série de fontes documentais inéditas na historiografia. Trata-se de uma outra forma de compreender o Atlântico Negro, descortinando uma história de revisões dos paradigmas estéticos, políticos e étnico-culturais. O trabalho analisa um conjunto de películas, entre ficções, documentários e cinejornais, que retrataram os vínculos do regime político de Fidel Castro com movimentos de independência e governos africanos entre 1960 e 1991, bem como os aspectos políticos, econômicos e culturais da África. Instituições cubanas de produção fílmica, como o Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficos (ICAIC) e os Estúdios Cinematográficos e de Televisão das Forças Armadas Revolucionárias (ECITVFAR), destacaram-se pelo empenho em construir imagens que legitimassem a presença da ilha naquele continente. Entre os temas privilegiados nessa produção, a questão militar foi um princípio norteador da maior parte dos relatos audiovisuais, uma vez que os uniformizados de Cuba auxiliaram diversos grupos políticos africanos em guerras de emancipação e conflitos armados com países vizinhos. Nesse grande campo "anti-imperialista" e transatlântico, algumas tensões marcaram os diferentes contextos, sejam de ordem internacional, como as expectativas e desilusões com os aliados estrangeiros, sejam nacionais, como as complexas relações raciais na ilha e as representações dos soldados mortos em combate no continente africano. O livro A Câmera e O Canhão de Alexsandro de Sousa e Silva é uma publicação da Acervus Editora e esta´disponível para download. link para download Sobre o Autor Alexsandro de Sousa e Silva é Mestre (2015) e Doutor (2020) em História Social pela Universidade de São Paulo. Professor de Educação Superior na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Unidade Passos. Pesquisador das relações entre cinema e história na América Latina e África. Contato com o autor: e-mail: alexsandro.dses@gmail.com

  • A Terra Prometida

    Um pedaço no Paraíso rebatizado de América pelo homem europeu. Mas as belezas são acorrentadas pelo homem europeu, dos dois lados do Atlântico: pele preta, pele índia reunidas no subsolo do Paraíso, agora rebatizado de América. Apropriação do sangue, suor, almas. Desapropriação da Verdade e da Beleza A palavra rebatizada não tem nome definitivo: Floresta, Paraíso, Pau-Brasil, pau, Brasil, deserto. Latifúndio, cães latem fundo, donos da mentira na Terra Paraíso rebatizada, expropriada com a justiça que é de Roma, na mentira do sonho americano impresso pelo homem europeu no seu almanaque de mentiras via Gutenberg. Qual o pedaço seu no Paraíso rebatizado de América pelo homem europeu? Poderia estar na rede lendo Machado de Assis depois de nadar no Araguaia e colher pela manhã as frutas das árvores. Poderia? Mas existe o maior deserto do mundo a ser criado na Terra Paraíso Brasil: a profecia-promessa do homem europeu jurada sob a cruz da profanação dos povos do mundo no dia primeiro da primeira cruzada comercial precisa e será cumprida. Existe São Raimundo Nonato guardando o rebanho, orando, guardando o rebanho, orando. Qual o pedaço seu no Paraíso rebatizado de América? Na praça sob a imagem de Padre Josimo, Cacheado sonha. Sonha e trabalha. Josimo observa, Cacheado sonha. Sonha e sorri. E o Anjo finalmente pergunta: Qual o pedaço seu no Paraíso? F O T O Raimundo Nonato Silva Oliveira, o Cacheado na Praça Padre Josimo NOTAS SOBRE O BRASIL Cacheado: Raimundo Nonato Silva Oliveira foi assassinado aos 46 anos em Araguatins, Tocantins, cidade do Bico do Papagaio em 13 de Dezembro de 2022, por três homens encapuzados enquanto dormia com sua esposa. Padre Josimo foi assassinado aos 33 anos em Imperatriz, Maranhão no dia 10 de Maio de 1986 enquanto subia as escadas para o escritório da Comissão Pastoral da Terra – CPT. LINKS SOBRE O BRASIL Cacheado: Raimundo Nonato Silva Oliveira Líder do MST é morto a tiros enquanto dormia com namorada em Tocantins https://odia.ig.com.br/brasil/2022/12/6539656-lider-do-mst-e-morto-a-tiros-enquanto-dormia-com-namorada-em-tocantins.html Quem era o líder do MST morto por grupo encapuzado enquanto dormia no Tocantins https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2022/12/13/homem-morto-a-tiros-enquanto-dormia-com-namorada-era-lider-do-mst-no-tocantins-diz-pastoral-da-terra.ghtml Líder do MST no Tocantins é assassinado a tiros enquanto dormia https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2022/12/13/interna_nacional,1433154/lider-do-mst-no-tocantins-e-assassinado-a-tiros-enquanto-dormia.shtml Parentes e amigos se despedem de líder do MST morto a tiros enquanto dormia em Araguatins https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2022/12/14/parentes-e-amigos-se-despedem-de-lider-do-mst-morto-a-tiros-enquanto-dormia-em-araguatins.ghtml Tocantins: Líder do MST é assassinado enquanto dormia com namorada https://revistaforum.com.br/brasil/norte/2022/12/13/tocantins-lider-do-mst-assassinado-enquanto-dormia-com-namorada-128631.html Na cidade de Araguatins, líder do MST no Tocantins é morto a tiros enquanto dormia https://cultura.uol.com.br/noticias/54342_na-cidade-de-araguatins-lider-do-mst-no-tocantins-e-morto-a-tiros-enquanto-dormia.html Comitê DDH: Nota de pesar sobre assassinato de Raimundo Nonato Silva Oliveira, liderança do MST https://www.global.org.br/blog/comite-ddh-nota-de-pesar-sobre-assassinato-de-raimundo-nonato-silva-oliveira-lideranca-do-mst/ Líder do MST em Tocantins é morto a tiros por grupo encapuzado enquanto dormia https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/ultima-hora/pais/lider-do-mst-em-tocantins-e-morto-a-tiros-por-grupo-encapuzado-enquanto-dormia-1.3311851 Padre Josimo PADRE JOSIMO É ASSASSINADO A TIROS http://memorialdademocracia.com.br/card/padre-josimo-e-assassinado-a-tiros 35 anos do assassinato do Padre Josimo: mártir da luta pela terra https://www.ihu.unisinos.br/categorias/609142-35-anos-do-assassinato-do-padre-josimo-martir-da-luta-pela-terra Há 34 anos, padre Josimo era assassinado por sua luta em defesa da terra https://www.brasildefato.com.br/2020/05/10/ha-34-anos-padre-josimo-era-assassinado-por-sua-luta-em-defesa-da-terra Padre Josimo Tavares: 27 anos de martírio http://secretariat.synod.va/content/sinodoamazonico/pt/testemunhos-da-amazonia/padre-josimo-tavares--27-anos-de-martirio.html Memorial Padre Josimo Morais Tavares https://imperatriz.ma.gov.br/blog/nossa-cidade/memorial-padre-josimo-morais-tavares.html Josimo Morais Tavares https://mst.org.br/2006/07/21/josimo-morais-tavares/ Igreja homenageia Padre Josimo Tavares https://imperatriz.ma.gov.br/blog/nossa-memoria/igreja-homenageia-padre-josimo-tavares.html Padre Josimo Moraes Tavares E A Atuação Da Comissão Pastoral Da Terra (Cpt) Nos Conflitos Agrários Do Araguaia-Tocantins https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tde/2317

  • Uma Inconveniente Preocupação

    Já faz um bom tempo que vários pesquisadores e técnicos vêm alertando que a própria estrutura do sistema produtivo da agricultura brasileira tem associado sua existência à superexploração dos recursos do solo e da água. É comum ver propriedades agrícolas, grandes ou pequenas, praticando uma agricultura primitiva que de forma desequilibrada promove uma crescente afetação do equilíbrio produtivo nos diferentes ecossistemas brasileiros. Da mesma forma, outros autores enfatizam que a oferta de crédito e uso indiscriminado de tecnologia tem levado muitos agricultores a tomar decisões erradas de investimentos, aumentando os riscos de insolvência e perda da terra. A queda da capacidade produtiva do solo e a escassez de água são lentas, produtos de impactos ambientais cumulativos como é o caso da compactação do solo e o assoreamento de represas e lagos. O aumento da produtividade de lavouras e a rentabilidade de mercado em determinadas condições pode ocultar a degradação lenta e progressiva das terras. Em áreas irrigadas, a perda da capacidade produtiva pode ser ainda mais rápida e severa. O alto investimento tecnológico com manejo inadequado condena o irrigante a uma situação crítica que em muitos casos o excluí da atividade. Soma-se a esta dramática situação, o passivo ambiental gerado e um alarmante processo de destruição contínua aumentando a vulnerabilidade ambiental às chuvas tropicais e à radiação solar intensa. Áreas degradadas desqualificam propriedades e causam impactos irreversíveis aos cursos d’água. Assim, começa a decadência do espaço rural nos municípios. Com política de desenvolvimento agrícola pífia o município degrada seu território no atacado e faz gestão ambiental no varejo. Afonso Peche Filho Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas www.iac.sp.gov.br

  • FÁTIMA BARROS !!

    Sem palavras, que não são necessárias. Fátima Barros. Apenas e sempre: Fátima Barros !!

  • ISTO AQUI É SÃO PAULO

    Aqui é Sampa, cumpadre, terra do bandeirante, Que largou sua família sozinha a pedir esmola, Foi ao sertão escravizar índio guarani e xavante, Saiu este paulista pra matar o negro quilombola. Aqui é Sampa, cumpadre, território quatrocentão, Onde a riqueza brotou do sangue de Luanda, Neste lugar, para quem produz faltou até o pão, Para o barão do café exibir o terno na varanda. É lugar único em que republicano é escravista, Onde a senzala fria foi armadilha para o italiano, Em que caiu também japonês, seguinte da lista, Porque a mais-valia funciona, esse é o plano. Na terra de capitães do mato, agora há cidade, Onde um chicote canta sobre mulher e criança, A mão de 14 horas move a fábrica, a sociedade, Um Matarazzo, de fazer fortuna, nunca se cansa. Porque cá o rico faz o que quer, não o que deve, Ergue suas mansões, cercadas de tanta pobreza, No governo assassina a mãe que aderiu à greve, O burguês mantém o privilégio, sua falsa realeza. Aqui, todo suor humano está a serviço do capital, O corpo do trabalhador, explorado, é descartável, No excluído se põe a culpa pela falta e pelo mal, Diz a duquesa: "sem mérito, você é responsável". Aqui é o lugar onde se cria a Oban, da Ditadura, Onde estudantes e operários apanham nus, Porque a elite do conde a democracia não atura, Os corpos da rebeldia vão apodrecer em Perus. Esta, compadre é a terra linda, urbe mais bela, Cujos filhos enjeitados vão dormir ao ar da Lua, É onde bruta especulação bota fogo na favela, O presente do nobre é palácio, do povo é a rua. Texto: Walter Falceta Fotos: Walter Antunes site: walterantunes.com

  • Futebol signo cultural da república

    Um diálogo sobre coisas da república e do futebol, num estilo quase debate de boteco autêntico, 11 X 11, entre um embarque e outro na plataforma para o Novo Mundo. 1 Luama Socio: O futebol, assim como outrora os espetáculos de gladiadores é um elemento de harmonia da república. É o tipo de cultura elaborada de cima para baixo com justas correspondências de baixo para cima. Tem nas suas origens históricas uma associação com a ideia de camada popular trabalhadora. Como espetáculo promovido pelos governos para apascentar as massas há a contraparte do próprio povo se considerar como integrante de uma nacionalidade através da identificação com o esporte. Walter Antunes: Os conceitos de harmonia e de república, bem como o do próprio futebol podem e são moldados ao gosto do freguês ou do filósofo em qualquer tempo. A apropriação da festa e do genuinamente popular “pelos de cima” para perpetuação de sistemas de dominação ao longo da história é facilmente observada em qualquer enciclopédia ilustrada. Uma disputa sob bandeiras é o ápice disto seja numa pátria de chuteiras ou numa república de bananas. 2 Luama Socio: Alguns contos do Alcântara Machado, em “Brás, Bexiga e Barra Funda” ilustram o papel do futebol como mediador cultural na formação da identidade do povo da cidade de São Paulo na primeira metade do século XX. Ali o futebol é contextualmente naturalizado. É o cenário de disputas amorosas e emoções juvenis da camada popular. Esse é um exemplo de elaboração do tipo “de baixo para cima”. Já a elaboração “de cima para baixo” pode ser exemplificada através de um texto da jornalista Gabriela Costa, em que consta que o período em que o futebol foi mais evidentemente “utilizado” pelo estado brasileiro foi durante a Ditadura Militar (1964-1985): “Neste período - especialmente entre 1966 e 1971, no governo do general Médici -, a agência especial de relações públicas ligada ao Regime promoveu a associação entre a imagem da Seleção Brasileira e o governo militar”. Muita gente se lembra ainda do slogan depreendido de um jingle da época cujo núcleo leva a expressão “90 milhões em ação, salve a seleção”. Walter Antunes: A crônica sobre a formação de uma cidade ou de uma vila pode ter a sorte de encontrar um cronista mais ou menos atento a certos detalhes, mais ou menos romântico e esperançoso. Arqueólogos que sejam minimamente verdadeiros dentro da proposta ciência vão sempre poder verificar através das ruínas e escombros o que de fato movia o surgimento e a manutenção do povoado e o quanto eram esperançosos e atentos seus poetas e cronistas quanto ao apito da fábrica e ao relógio da praça da Sé. Estudos que comprovam a utilização do esporte em favor da continuidade de um projeto de poder sempre acrescentam luz para a conversa, não importa que sejam sobre a Alemanha Nazista ou as Ditaduras sul-americanas. Quanto ao Brasil o golpe militar já estava consolidado e aceito pela população desde 1964 muito antes da Copa do México de 1970. Assim como todos os golpes no país sempre foram assimilados ou apoiados pela passividade quase total da população. A ditadura civil com disfarce de ditadura militar se estendeu até quando foi do interesse dos mandatários. Supor que o Tricampeonato da Copa do Mundo e a conquista da Taça Jules Rimet deram novo gás aos golpistas com a manipulação do povo é o mesmo que supor que pudesse haver uma revolta popular contra o regime após a não conquista da Copa de 1966, a primeira sob a ditadura e tida como título assegurado pelos torcedores antes mesmo da bola rolar. 3 Luama Socio: Sêneca (4 a.C - 65 d.C) enfatiza o papel ordenador das festividades na organização da república já na época áurea do império romano: “Os legisladores instituíram os dias festivos para coagirem publicamente os homens a se alegrarem, interpondo ao trabalho uma interrupção necessária”. Este antigo filósofo obviamente descarta qualquer ideia de benefício à pessoa de personalidade filosófica, advinda da integração à massa submetida à autoridade: “E, certamente, nada é pior do que nos acomodarmos ao clamor da maioria, convencidos de que o melhor é aquilo a que todos se submetem. (…) Morremos seguindo o exemplo dos demais. A saída é nos separamos da massa e ficarmos a salvo.” Walter Antunes: Contra o Carnaval, o Futebol e a grande festa local ninguém nunca pode, sejam autênticos os rituais e as celebrações, ou já completamente manipulados pela “Lei Vigente”. Sêneca com sua inegável sabedoria está infelizmente também na raiz do estereótipo vazio de personagens contemporâneos que na arrogância da auto-consideração por seus notórios conhecimentos se distanciam ou se aproximam do povo conforme a moda. Seria assustador se não parecesse já tarde demais para uma mudança, constatar que as instituições que se gabam de serem grandes nesta nossa república da bola, adotaram desde sempre esse mesmo comportamento individual do sábio distante do povo, o que leva à própria morte do saber e o rompimento entre o conhecimento, a sabedoria e a vida, replicando o próprio Sêneca com sua morte tão absurdamente distante de toda sua obra. 4 Luama Socio: Há a utilização metafórica do futebol para designar momentos do jogo político. Por exemplo, o Paulo De Moraes escreve (na rede social mais utilizada) seu desalento diante do desgoverno atual posicionando-se como um torcedor ou jogador imaginário com parcas esperanças de vitória diante do adversário golpista: “A Estratégia de quem não tem nada a perder, porque já perdeu tudo: Neste caso, a única possibilidade, não de vencer, mas de superar a derrota do golpe, é a de aproveitar todos os pênaltis (risos). Ou seja, as oportunidades táticas. A Estratégia de quem não tem nada a perder, porque já perdeu tudo.” Walter Antunes: Sabendo que o jogo começa como espetáculo com a chegada das simpáticas naus Santa Maria, Pinta e Nina e que a preparação para o “jogo do Brasil" é a própria continuação do Império Romano como nos lembra Darcy Ribeiro, é apenas por um gesto de simpatia que torcemos pelo lado mais fraco, aquele time que todos sabem que vai resistir boa parte do tempo, mas ao final dos noventa minutos acabará perdendo para a equipe mais forte. Já que é um jogo com ganhador já sabido. Não que o lado mais fraco seja o mais fraco, mas por ter assumido desde 1500 o papel de fraco e explorado, e insistir nele ao longo dos séculos. Então o golpe na verdade não é um campeonato, nem mesmo uma partida, apenas uma fração do jogo de Cabral. 5 Luama Socio: A metáfora aponta para a estrutura política da qual o futebol faz parte. Se o futebol fôra instrumentalizado pelos militares, também serviu ao governo Lula à identificação com o povo. Professores universitários (Mascarenhas, Silva e Ribeiro dos Santos), num artigo relacionando o “Lulismo e o futebol”, escrevem: “No Brasil, parece ser correto afirmar que falar sobre o futebol é uma forma de falar sobre o país. (…) A capacidade retórica de Lula, capaz de cativar interlocutores os mais distintos, mas também alcançando com maior ressonância a população mais pobre, justifica-se, em grande medida, pelo uso da metáfora. (…) Não por acaso, o ‘futebolês’, inteligível a quase todo brasileiro, sem excluir os mais ricos e sofisticados, foi uma língua usada para falar de perto ao povo mais pobre”. Walter Antunes: Lula não falou ao povo mais pobre e se falou, esse povo não ouviu, por estar demasiado ocupado em trabalhar ou ocupado em se tornar o primeiro universitário da família ou estar comprando a primeira casa da família ou estar acendendo a primeira tomada de energia elétrica da família ou viajando pela primeira vez de avião para rever a família. Se existe mesmo um lulismo, ele não falou ao povo como o chavismo, já que aquele povo venezuelano, mesmo sob cerco cruel e desumano, não aceita a volta dos 500 anos que antecederam Chaves. Lembrando o mestre do futebol Neném Prancha, ensinando aos jogadores para não dar chutão e sim priorizar o passe rasteiro: “a bola é feita de couro, o couro vem da vaca, a vaca gosta da grama, então a bola é no chão”. 6 Luama Socio: Os professores mencionados acima citam um discurso feito por Lula em 2010 durante a cerimônia de entrega do Prêmio Nacional de Direitos Humanos: “Quando vai chegando o final do governo, a gente vai tendo a sensação de que estava assistindo a uma partida de futebol, e eu vou falar em futebol, porque as pessoas mais humildes compreendem mais se eu filosofar futebol. Então, nessa partida de futebol, eu não tenho dúvida nenhuma de que nós estamos ganhando o jogo de quatro a zero, cinco a zero... E aí, nós temos três tipos de torcedor: nós temos aquele torcedor muito otimista, que acha que era impossível fazer mais, que nós fizemos de tudo, que os gols foram os mais bonitos que já foram vistos dentro do Maracanã. Nós temos aquele pessimista, aquele que fica: “Pô, só cinco a zero! Por que não fez 10? Porque não fez 15? Poderia ter feito mais!”. Também não vai acontecer. E aquele que é um pouco o que vocês são: o torcedor forte emocionalmente, mas também forte racionalmente, que vocês estão contentes com o 5 x 0 mas, ao mesmo tempo, acharam alguns gols bonitos, outros mais ou menos, outros feios, e acham que o time poderia ter feito mais, se não tivesse perdido tanta bola, se não tivesse dado passe errado. A política é um pouco assim. Eu sei que nós fizemos muito, mas eu sei também o quanto falta ser feito neste país”. Walter Antunes: A principal fala de Lula sobre futebol passou despercebida pela quase totalidade das pessoas e hoje é já esquecida. Em 2007 ele disse sobre o rebaixamento do seu querido time: “O Corinthians tem que pagar e aprender pelos seus erros”. Talvez por ser metaforicamente/simbolicamente o mais brasileiro de todos, Lula estivesse prevendo o que estaria por vir. Num rápido paralelo política/futebol temos: o arco de alianças e partidos não confiáveis/a diretoria do time; a grandeza do Brasil/Corinthians; a força desprezada do povo brasileiro/torcida fiel. O jogo segue. Independente do governo ou presidência do time, o que importa é a vida e o Corinthians em campo, sabe-se que o juiz é ladrão - no campo de futebol e na política, mas insiste-se em jogar a partida. 7 Luama Socio: A estrutura mítica do futebol, no mais pleno sentido grego do termo, foi apontada por um erudito político brasileiro, fundador do PSDB, o Artur da Távola (1936-2008), de uma forma bastante interessante. Ele explica que o mito básico de todo esporte é o suplício do herói, a luta permanente da força com a harmonia. “O futebol mitologiza a vida por representar a vitória do trabalho, da regra, da lei, do conhecimento, do melhor preparo. Significa a operosidade, a defesa do território (ou da propriedade) através da ação conjunta da comunidade (o time). Esta ‘comunidade' tem os líderes, guerreiros, sacerdotes, defensores, artistas, penetradores sorrateiros, estrategistas, teóricos e pensadores”. Walter Antunes: O Sr. da Távola poderia ter levado um pouco da sua erudição para o partido que fundou, até porque os tucanos são aves míticas assim como a távola é redonda. Poderia ter mostrado por lá, também alguns preceitos dos boleiros como: não se fura a fila para ser titular, jogador com ego inflado não ganha campeonato, bola na trave não altera o placar, se macumba ganhasse jogo o campeonato baiano terminava empatado, o jogo só termina quando o juiz apita. É preciso aqui entender tudo isso também metaforicamente com relação à política. 8 Luama Socio: O mais interessante, na análise de Artur da Távola, é que o elemento específico e diferenciador do futebol (em comparação com o sistema de pontuação dos outros esportes) é que é o esporte que “permite a mais elevada taxa de acaso” associada a uma privilegiada potencialidade orgástica. Infelizmente esse traço distintivo vem sofrendo tentativas de apagamento pela cultura da repressão disseminada na atual fase da civilização: “O momento do gol, por sua explosão e caráter de prazer total, é o instante de liberdade no qual o homem ganha o direito da plena expansão, do salto, do grito, da desrepressão. Limitar a efusão orgástica é grave manifestação simbólica do ânimo de repressão subjacente nas limitações dos autores das regras." Walter Antunes: Durante anos vimos em setores intelectualizados e da mídia, essa persistência em comparar o gol ao orgasmo. Para o boleiro verdadeiro o jogo não substitui os outros aspectos da vida e outras paixões. Ele sabe que a vida é maior que o próprio futebol, que depois dele outros virão chutar a bola. Sobre a “atual fase da civilização”, talvez muitos não previssem que “a satisfação, o orgasmo, o prazer total”, pudessem se resumir em tão pouco tempo, de forma voluntária, e em escala planetária, ao onanismo-smarthphoniano. Alguém pode lembrar de Barbarella como enviada do planeta Terra - onde não se pratica mais “sexo carnal”, apenas se usa cápsulas para replicar sensações deste processo - chegando a um longínquo planeta e encontrando seres em diferentes “estágios civilizatórios”, desde o excluído que a reintroduz à tradicional forma de contato orgástico até o revolucionário responsável e consciente que prefere usar a “pílula do amor” para não parecer um mero selvagem. Em tempos de selfie-stories tudo isso é apenas uma fichinha de orelhão. 9 Luama Socio: outro lado, refletindo a identificação do povo brasileiro, com todas as suas mazelas e características específicas, projetadas na relação com o futebol, Artur da Távola diz: “Enquanto o país como um todo não realizar o grande metabolismo interno de suas fraquezas e forças, de suas caraterísticas, defeitos, estilos e virtudes, viverá por certo, da ilusão da vitória, do ‘milagre’, do ‘maior do mundo’, enquanto, a seu lado, medram a miséria e a iniqüidade social”. Walter Antunes: Retornamos ao campo de jogo, mais precisamente voltemos ao Estádio do Pacaembu na tarde do domingo, primeiro de maio de 2011, clássico pelas semifinais do Campeonato Paulista, o Corinthians de Tite versus o Palmeiras de Scolari. O que menos importa é a vitória do time alvinegro e a classificação para as finais. O mais importante é o ensinamento filosófico que ficou eternizado na história, e que não veio de Sócrates (nem do jogador, nem do filósofo), mas do treinador alvinegro para o eterno admirador de Augusto Pinochet, técnico palestrino: “ Fala demais! Fala demais!” 10 Luama Socio: Sêneca, estoico, portanto um tipo filosófico bastante “senso comum”, metódico, metafísico e enfim culpado de valores a serem refutados pela dialética; esse filósofo que figura entre os mais vendidos livros de bolso em aeroportos e rodoviárias; um vento de lucidez crítica que vem dos tempos áureos e frescos do império romano; já aludia ao que que viria a ser também o futebol apontando para a frivolidade desse tipo de “cultura”: “Seria exaustivo demais examinar cada um daqueles que desperdiçaram a vida em jogos de xadrez, de bola, ou bronzeando-se ao sol. (…) Ninguém duvida serem muitos os que se cansam sem nada fazer”. Walter Antunes: Sêneca sempre exato com as palavras nos coloca a responsabilidade que temos perante nós mesmos e nossas vidas. Uma humanidade que se desperdiça individualmente desde sempre entre suas opções: caçar mamutes congelados ou não, fazer rabiscos em cavernas, rabiscar milhares de anos depois sobre os rabiscos nas cavernas, torcer feito louco por um time de futebol, assistir cabeças serem decepadas e o sangue jorrar em arenas romanas ou até mesmo incendiar a própria Roma. A responsabilidade com o ser e o agir. 11 Luama Socio: Na visão de Sêneca, a futilidade do tipo de conhecimento que perfaz a literatura e o discurso produzidos pelo futebol estaria classificada entre os maneirismos do afã típico de quem acha importante colecionar informações sobre feitos considerados quantitativamente gloriosos através da história. É possível resgatar aqui a crítica a esse conhecimento feito de uma historiografia quantitativa, transformada em estatística, e portanto em “ciência”, grandemente ajudada atualmente pela memória dos computadores, de modo que pode-se dizer sem medo de errar que, em futebol, a “história” é uma ciência exata. “Esse foi um legado dos gregos, procurar saber quantos remadores tinha Ulisses, se foi a Ilíada ou a Odisséia que foi escrita primeiro. (…) Eis que essa paixão de aprender coisas inúteis tomou conta dos romanos”. Walter Antunes: Nestes tempos de contabilidades e disputas sanguinárias por curtidas em sistemas binários e não binários, de proliferação de almanaques e “sábios instantâneos” no Instagram ou não, de futebol de autômatos, de donalds e mitos de um único dia, verificamos as certeiras palavras de Sêneca e cada vez mais sentimos que Vicente Matheus também estava certo ao agradecer à Antartica pelas Brahmas enviadas para a festa. Referências Bibliográficas “Comunicação é mito”, Artur da Távola. “Da tranquilidade da alma”, “Aprendendo a viver”, “Sobre a brevidade da vida”, Sêneca. “A estreita e histórica relacão entre futebol e política”, Gabriela Costa. https://www.huffpostbrasil.com/gabriela-costa/a-estreita-e-historica-relacao-entre-futebol-e-politica_a_21670047/ “Lulismo e futebol: os discursos de um torcedor presidente”, Fernando Mascarenhas, Silvio Ricardo da Silva, Mariângela Ribeiro dos Santos http://www.seer.ufrgs.br/Movimento/article/viewFile/41837/28914 #LuamaSocio #WalterAntunes #Futebol #Política #PoliticaBrasileira #metáforasfutebolísticas #futebolepolítica #copadomundo2018 #paísdofutebol #Katawixi

  • Para a Vitória de Lula Já no Primeiro Tempo

    Brincadeiras muitas e memes, muitos memes à parte, está na hora de resolver se isso é mesmo uma eleição da "última oportunidade de salvar o país", de "vencer o monstro do fascismo", ou apenas um entretenimento festivo para distração das mentes brasileiras. As coisas: 1 Um dos principais motes da campanha do PT é a urgência diante da miséria que assola o país, com boa parte da população sem ter o que comer, usando como retrato de tudo isso as cenas terríveis com as pessoas em desespero em filas para adquirir ossos. 2 Em entrevista recente publicada em revista norte-americana, fartamente reproduzida a sua capa pela auto-proclamada militância, o candidato Lula respondeu que não tem proposta econômica para o país neste momento, que a economia se discute depois da eleição compondo com as forças que vão governar (foi perguntado a ele sobre o futuro e não sobre o seu governo do passado). 3 Além dos inúmeros memes distribuídos para produzir envolvimento nas redes sociais, memes "fofos" e inócuos em termos de conquista de votos contra o "fascismo" e a tragédia que assola o país, memes que transmitem a ideia de que está tudo bem, tranquilo e feliz no país, surge agora a bizarra conversa de "lula com chuchu - um prato para acabar com a fome dos brasileiros". Mensagem ofensiva a quem não tem gás para cozinhar, que não tem dinheiro para comprar pão, para quem vai trabalhar à pé por não ter dinheiro para a condução. Mensagem ofensiva para quem ainda não perdeu o senso do ridículo e a própria inteligência. 4 Detalhe ainda mais constrangedor desse prato que vai "acabar com a fome" enquanto as pessoas estão na fila do osso, é que não surge da iniciativa dos simpatizantes, mas do próprio comando de campanha de Lula. Outro detalhe não menos absurdo: o preço do quilo de lula fresca é em torno de 60 reais. É isso mesmo? Essa brincadeira com receita para acabar com a fome dos brasileiros que está no site e na campanha do Lula começa com 60 reais o quilo? 5 Muitos eleitores e "militantes" passaram a ter um comportamento de replicantes de material inócuo que não toca as mentes da população, que precisaria ouvir e saber de argumentos para votar. Muitas pessoas passaram a ter o comportamento de fã-clube e não estão abertas ao debate político para fora das suas bolhas imaginárias. Se não conseguem dialogar com parceiros de longa data, como vão conquistar o voto do eleitor abduzido pela doutrinação fascista? 6 Pela máxima "derrotar o fascismo e salvar o Brasil" promove-se a perseguição a qualquer um que mantenha a lucidez e a crítica, com a utilização de acusações como "traição, entreguismo, fascismo" e outras bizarrices, acusações feitas pela "militância" que se transforma a cada dia em fã-clube cego e infantilóide. Vejam linchamento recente feito à Fernanda Montenegro. 7 Se alguém ponderar sobre o passado histórico e o perigo do vice, sobre a morosidade da campanha, a falta de clareza para o debate do momento presente em contrapartida com as realizações de 20 anos atrás, se debater sobre a incoerência de alianças com aqueles que tramaram contra a presidente Dilma, a pessoa é imediatamente colocada no paredão fantasioso dessa "militância fã-clube". Na impossibilidade do fuzilamento real nesse paredão acontece o cancelamento e a inclusão nas listas (todos sabem que existem essas listas de cancelados). A pessoa nem precisa entrar na esfera de se assumir compromissos definitivos com os povos indígenas, quilombolas, trabalhadores sem acesso à terra, qualquer coisa dita serve como pretexto para cancelamento. 8 Não bastasse a inoperância dos partidos políticos, das instituições brasileiras, da população, que permitiu que o ocupante (mesmo com o genocídio) se mantivesse no cargo maior do país e ainda que pudesse estar de igual para igual com os outros candidatos como se fosse um democrata e não um inimigo da democracia e do povo, ainda temos um posicionamento festivo e pouco definido da campanha de Lula. Detalhe importante é que muitos do "fã-clube" consideram as outras candidaturas um desserviço ao enfrentamento do "candidato fascista", exigem a retirada dos candidatos e o apoio direto ao Lula, algo que contraria a essência da democracia e tudo o que Lula sabiamente sempre defendeu: a liberdade e a pluralidade de visões e opiniões. 9 Toda semana surgem notícias de alteração do comando da campanha de Lula. Isso sugere transferências de responsabilidade, ninguém assumindo responsabilidades, o que contradiz completamente o argumento da gravidade do momento e da importância desta eleição, "a última oportunidade de nossas vidas de construirmos um país de verdade". 10 Ao mesmo tempo em que se faz a campanha pela necessidade de eleger uma grande bancada "progressista" para o congresso, pouco se propaga e pouco se define efetivamente. Vejam o exemplo do estado de São Paulo sem nenhum nome definido para a disputa ao senado. Vejam Minas Gerais sem nenhum candidato do campo "progressista" ao governo estadual. 11 Um observador atento às pesquisas, sabe que a vantagem que a candidatura Lula apresenta no atual momento (em qualquer instituto de pesquisas) não é suficiente para vencer a eleição no primeiro turno e que da forma que o cenário está posto também não garante vitória no segundo turno. Apenas a conquista de mais eleitores através de trabalho incessante no cotidiano das ruas junto ao povo é que pode produzir a vitória. Redes sociais, novas mídias e antigas importam, mas nunca substituirão o trabalho da conversa olho no olho com o eleitor. O problema aqui é: o que foi feito da aguerrida militância? Quem foi que ano a ano trabalhou pela desmobilização da militância através do esvaziamento dos núcleos de participação do partido? 12 Numa ponta da teia temos um "fã-clube" agressivo que não aceita nenhum questionamento sobre qualquer tema que envolva personagens do PT ou das administrações passadas do partido, nada que envolva debater antigas e novas alianças com personagens não apenas suspeitos, mas condenados por corrupção, pegos com as malas de dinheiro do povo na mão. Os partidários do método "fã-clube" de fazer política pregam como fanáticos: "não é hora de debater", "o debate promove divisão", "o Brasil vai acabar se Lula não vencer no primeiro turno", "é a luta do bem contra o mal", "você prefere o satanás e não o Lula?". Parecem os seres replicantes da "Revolução dos Bichos" seguindo o "Garganta", porta-voz da fábula. Na outra extremidade da teia temos um repetitivo e monótono discorrer sobre um passado que para o povo é longínquo, distante da realidade de 2022, longe do que se espera para o futuro, uma não abordagem dos temas essenciais ao povo: trabalho, emprego, comida na mesa para a família. Esse discorrer vazio de "feliz de novo" não toca o coração das pessoas, nem as que viveram o período do governo Lula e Dilma, nem as que não haviam nascido em 2003 e vão votar neste ano. Risoto de chuchu com lula, foto de sunga, foto de bolo de casamento, remix de música, coraçãozinho feito com as mãos e beijinhos pra torcida são produtos para a bolha do "fã-clube", não dialogam com a massa dos pobres que foi obrigada a se adaptar a sobreviver sem contar com nada e ninguém, batendo o escanteio e correndo para cabecear (para usar uma imagem simples do futebol que Lula tanto adora). O povo diz em resposta: "ACORDA!!" 13 Por tudo que aconteceu desde o fim da ditadura dos generais, nessa sempre nascente e frágil democracia brasileira, há percepção de que a letargia e a falta de clareza e objetividade, se não forem resolvidas até o final do mês de maio, impossibilitarão o tempo para recuperação posterior. Não adianta deixar para setembro, quando as torneiras dos recursos governamentais (dinheiro do povo) estiverem abertas, quando as redes de mentiras e ódio estarão a todo vapor e as lideranças locais e regionais de coronéis estiverem em plena ação colocando o cabresto sobre o voto do eleitor. Nota: Essas observações são de quem está atento ao país e às eleições, eleições que muitos querem seja tutelada. Não consideramos aqui apenas o momento "bom" das pesquisas, mas o que pode acontecer até o 31 de dezembro de 2022, incluindo nisto o comportamento deslumbrado que levou aos resultados da eleição de 2018. Apenas quem lucra com o sofrimento do país ou quem é louco deseja a continuidade do que está aí destruindo o Brasil e matando o seu povo. Todos os que têm críticas aos governos do PT, ainda assim torcem por uma vitória contra o genocida para que cesse a insanidade que tomou conta do país. Quem tem lucidez sabe que o povo terá que passar a fazer política no dia a dia. Não basta votar e esperar que uma única pessoa reconstrua ou construa um Brasil que está para ser feito desde 1500. Ainda há tempo para se trabalhar pela vitória. Se é que o objetivo disso tudo é mesmo a vitória sobre o "fascismo" para reconstruir o país e não apenas cumprir tabela, jogar pra agradar a torcida "fã-clube" organizada, sem na verdade se importar com o resultado final, um show de entretenimento. Se for pra valer mesmo tem-se que abandonar o meme-feliz, apresentar propostas sobre o hoje (não o passado), colocar as sandálias e ir até onde o povo está. Ainda há tempo! Desde 1500, ainda há tempo! Saudações do Corinthianismo! Boa Lua de Maio para Todos!!

  • Os dilemas da vida de Rosa Luxemburgo num filme de Margarethe von Trotta

    O filme “Rosa Luxemburgo” propõe não apenas uma leitura historicamente contextualizada da faceta política da revolucionária polaco-germânica Rosa Luxemburgo (1871-1919), mas também do seu lado humano e feminino, ou seja, da mulher sensível, culta e intensa, sempre cercada de muitos amantes. Os momentos naturais de fragilidade e hesitação -- sim, uma Rosa -- são conjugados com os de determinação e coragem -- todavia, uma Rosa vermelha --, destacando-se como intelectual e líder política em uma época na qual as mulheres sofriam, ainda mais do que hoje, com toda ordem de preconceitos, mesmo nos círculos ditos “progressistas”. Conforme é apresentado no filme, Rosa Luxemburgo (interpretada pela atriz alemã Barbara Sukowa) é uma mulher que, não obstante ser oriunda de uma classe social abastada, assume um compromisso firme com a luta da classe operária de seu tempo, sem recuar mesmo diante da perseguição, da prisão e da ameaça à sua vida. Não se sente amedrontada pelo autoritarismo dos Impérios russo e alemão, tampouco teme discordar com veemência das posições de seus “camaradas” da social-democracia. Movida por uma avassaladora paixão, sofre uma espécie de transfiguração quando está em âmbito público: a mulher sensível e afável aparece como uma oradora implacável e sagaz diante da militância partidária e das massas, respeitada até mesmo pelos adversários conservadores. Entremeado por momentos de lirismo, de lembranças da infância, dúvidas e angústias existenciais, o filme delineia os principais momentos da biografia política de Rosa Luxemburgo, desde sua prisão na Polônia (na época, sob a égide da Rússia) até seu assassinato trágico durante a revolução na Alemanha entre 1918-1919, passando pelo período de prisão durante a I Guerra Mundial. Ao longo do filme são retratadas algumas lideranças históricas do Partido Social-Democrata Alemão (SPD), como Karl Kautsky, E. Bernstein, Clara Zetkin, Karl Liebknecht, entre outros. Além disso, uma parte significativa das cenas tem por enfoque a relação de Rosa com esse Partido, amiúde marcada por tensão e polêmica. Conforme é revelado pelo desenrolar da trama, os dilemas de Rosa com o SPD podem ser resumidos em duas grandes questões. A primeira delas é a necessidade do Partido construir uma aproximação com as massas, radicalizando sua estratégia, na concepção de Rosa. O Partido opta pela via da democracia parlamentar, o que, com o tempo, se revelará uma capitulação diante do jogo político da burguesia, a qual desarmará qualquer perspectiva de ruptura revolucionária. A segunda é a questão do imperialismo e do militarismo em que o capitalismo do começo estava mergulhado desde o final do século 19. Rosa pressente nuvens carregadas a nublar o céu da Europa, até a tempestade da Guerra irromper furiosa no horizonte, com um nível de barbarismo e mortandade como nunca antes tinha sido presenciado. Como escreveu na época o poeta austríaco Georg Trakl, cujo ulterior e dramático suicídio teve relação inequívoca com os horrores da Grande Guerra: “...E levemente, nos canaviais, soam as flautas sombrias do outono./ Oh, dor orgulhosa! Vós, brônzeos altares,/ Uma dor portentosa alimenta hoje a chama escaldante do espírito,/ Os filhos que ainda hão-de nascer.”(“Grodek”, 1914; tradução: J. Barrento) O filme de Margarethe von Trotta expõe o posicionamento majoritário dos sociais-democratas alemães, os quais, apesar dos protestos de Rosa e de outros militantes, acabam por apoiar a entrada do Império alemão na I Guerra, aviltando o internacionalismo da tradição socialista e operária. A posição radical de Rosa contra um conflito bélico “nacionalista” a ser travado por trabalhadores contra trabalhadores nas trincheiras tem um custo, entretanto: a prisão. O filme reconstrói com a devida dramaticidade o momento em que, com a Revolução Russa de 1917 e a derrota acachapante da Alemanha na Primeira Guerra, cujo resultado será o colapso do Império alemão e a consequente criação da República de Weimar, Rosa Luxemburgo e seu colega Karl Liebknecht (filho de Wilhelm Liebknecht) separam-se em definitivo da social-democracia no poder e optam por uma tentativa de insurreição armada no quadro de crise política e social do país. A revolta, porém, malogra, pois provavelmente seus artífices políticos superestimaram a força e influência dos espartaquistas no meio militar. Em seguida, os revoltosos são reprimidos ferozmente com o apoio e conivência do governo de coalização do qual a social-democracia participava. Nesse contexto de agitação e derrota política, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht acabam assassinados de forma brutal por grupos paramilitares de direita que, mais tarde, seriam a base de sustentação do nazismo... O martírio após uma revolta fracassada -- como outrora o trácio Espártaco -- foi o último voo dessa águia, como Lênin a chamou posteriormente, em forma de homenagem, apesar da existência de algumas divergências entre eles. Embora o roteiro não explore tanto este aspecto, é amplamente conhecido o fato de que Rosa enxergava tendências perigosas mesmo no leninismo, como afirma a pesquisadora Isabel Loureiro: "Ela se opunha à concepção leninista de partido-vanguarda porque temia acima de tudo a separação entre dirigentes e dirigidos, chefes (como dizia ironicamente) e massas, tal como estava acontecendo no processo de burocratização da social-democracia alemã, que ela acompanhou de dentro. No seu entender, o papel da liderança é acabar com a divisão entre vanguarda e massa, é transformar a massa em líder de si mesma. A disciplina arbitrária imposta pelos dirigentes às bases retira a responsabilidade delas e as infantiliza, num movimento que leva o partido a transformar-se num aparato burocrático dominado por uma camarilha de líderes ‘infalíveis". Rosa Luxemburgo, contudo, não viveu mais alguns anos para presenciar nos rumos da Revolução socialista na Rússia o hiato crescente entre dirigentes e massa, partido e classe operária, a tomar contornos policialescos, autocráticos e soturnos com a emergência do estalinismo. Pode-se dizer em retrospectiva, sem exagero ou cair em um clichê: o fracasso da revolução socialista na Alemanha, com o apoio dos sociais-democratas, não só ceifou a vida de figuras políticas extraordinárias como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, mas abriu caminho para algo muito pior do que a tirania do II Reich e o rufar de tambores da Primeira Guerra: a solução nazifascista, alimentada em um clima de crise social e econômica, humilhação, ressentimento e desespero que marcaria a Alemanha dos anos 20. Filme: “Rosa Luxemburgo” (no original, "Rosa Luxemburg"); Direção: Margarethe von Trotta; País: Alemanha/Tchecoslováquia; Ano: 1986 ARCARY, Valerio. O assassinato de Rosa Luxemburgo à luz da História, s/d. Disponível In: http://www.cefetsp.br/edu/eso/valerio/artigosinergia.html BERCOVICI, Gilberto. Estado e marxismo no debate social-democrata dos anos 1920-1930, In: Direito, sociedade e economia: leituras marxistas. Alaôr Café Alves et. Alii. Barueri: Manole, 2005, pp. 73-90. BUONICORE, Augusto. Rosa Luxemburgo: a Rosa Vermelha do Socialismo. Portal Vermelho, s/d. Disponível In: http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=5626&id_coluna=10 LOUREIRO, Isabel. Rosa Luxemburgo era uma defensora apaixonada da Liberdade, Entrevista à Fundação Rosa Luxemburgo, 05/08/2013. TRÓTSKY, Leon. Tirem as mãos de Rosa Luxemburgo!, 1932 (original). Causa Operária online. Disponível In: http://www.pco.org.br/teoria/tirem-as-maos-de-rosa-luxemburgo/eojo,s.html Daniel Plácido é professor do ensino básico, licenciado em Filosofia pela USP, especialista em História pela PUC-SP e mestrando em Filosofia pela UFU. Atuou também como professor em cursinhos populares. Co-editor da revista Mística Revolucionária: https://misticarevolucionaria.com.br/

  • No Pomar da Vida & O Trabalhador

    Duas músicas do grande baluarte do samba Seo Carlão do Peruche exclusivas para a Katawixi. No Pomar da Vida & O Trabalhador, do trabalho do Seo Carlão do Peruche & Os Sobrinhos. Os Sobrinhos do Seo Carlão são Olegario Junior (violão), Anderson Borba (cavaco), Ronaldo Gama (baixo, arranjos, direção musical), Ananza Macedo, Luama, Ligia Fernandes (coro), Koka Pereira e Tiago Prates (percussão), Léo Carvalho (bateria), Romulo Larico Pampa (trombone). Janis Narevicius e Diego Bueno (assistentes de produção). Realização de Walter Antunes para Astúcia Artes. Seo Carlão do Peruche fotos por Walter Antunes

Katawixi é um lugar de crítica,
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