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  • Do amor - o dia em que Rimbaud decidiu vender armas

    O novo livro de Ana Rüsche escrito em duas partes divididas por dez anos de diferença (2007-2017) é novela que faz uma investigação ao mesmo tempo pessoal e reflexiva das possibilidades afetivas, literárias e políticas do amor “nos tempos da câmera”. Publicada pela Editora Quelônio, a edição é artesanal. Totalmente impressa em tipografia, capa em tipos móveis e corpo do texto em linotipo. Acabamento tem papel especial cinza na capa, impressa em verde e rosa, e costura manual. Em São Paulo: 3 de Março, 16h na Tapera Taperá Link para o lançamento: www.facebook.com/events/428823514217284/ Facebook da autora: www.facebook.com/anarusche.pagina/ #DoamorodiaemqueRimbauddecidiuvenderarma #literatura #AnaRüsche

  • A pintura mutante de inspiração paleozóica de Costaeira

    Gildecio Costaeira, artista nascido e criado no povoado Campo do Crioulo, pertencente à cidade de Lagarto, no Sergipe, inspira-se em ideias Paleozóicas de eras Ordovicianas e Jurássicas para criar suas pinturas de “mutação constante” dos elos entre plantas, fungos, animais e cores de um Brasil ao mesmo tempo novo e ancestral. Ele diz que “estudando as artes dos cinco continentes do planeta”, pensa na preservação e transformação das espécies ao longo das eras e também simultaneamente: “eu transformo e ao mesmo tempo dou nova vida a animais e plantas extintos e inéditos, minha arte é toda inspirada na criação natural”. Assim Costaeira nomeia seu processo artístico de Arte Natural Primitiva, conceito que expressa “a junção de vidas inexistentes” por meio do ato criador do artista, munido de sua capacidade de combinar cores, curvas e traços, possibilitando o surgimento “natural” de novos seres. O centro de sua estética é a cor: “na verdade as cores dizem tudo”, explica. E o centro de sua mensagem é a da preservação da beleza natural: “a natureza é o tema da esperança na criação, preservação e recriação. Na verdade, como não tenho a referência dos grandes pintores, meus mestres são os rios, os peixes, mamíferos, vegetais, aves, moluscos, répteis…” Nascido em 1978, Costaeira é artista desde criança. Seus primeiros trabalhos exibidos aos olhos do público, nos anos 90, foram capas de fitas-cassetes da banda de seu irmão Deon, a Lacertae. Ele lembra dessa época: “cada fita demo da banda Lacertae tinha uma capa diferente, personalizada, com desenhos à giz de cera feitos por mim”. Depois vieram experimentações em vários suportes, tais como discos de vinil e camisetas, além das telas convencionais. Dizendo-se descendente dos matutos do sertão sergipano, Costaeira também se considera totalmente influenciado pela cultura regional de seu lugar que, de certa forma, leva-o a associar as cores com uma maneira mística de ver o mundo: “A minha pintura tem a pureza de trazer as plantas e os animais extintos para serem transformados em telas irradiantes com cores fortes. Ela também traz seres luminosos do passado que viveram em nosso planeta e que, agora, são recriados em outras dimensões. Penso que essa é também uma proposta de tocar em ideias relacionas à arte e à educação”, explica Costaeira. Links: E-mail: costaeiraart@gmail.com unicampestre@gmail.com Site: www.costaeira.wordpress.com Facebook: www.facebook.com/costaeira Twitter: twitter.com/unicampestre Instagram: www.instagram.com/costaeira #Costaeira #LuamaSocio #Katawixi #pinturabrasileira #artenaturalprimitiva #Sergipe #Lagarto #CampodoCrioulo

  • Acerca da meditação, uma metodologia

    Meditar é uma prática valiosa e bem necessária nos nossos dias, no fundo sendo um ato sagrado e íntimo, por vezes mais difícil de se conseguir, outras vezes surgindo fácil e rapidamente, como numa súbita inspiração, mas que apela ou é favorecida por uma certa perseverança diária na vida justa e fraterna, e no alinhamento consciencial com o amor, o espírito, a Divindade… Muitas metodologias podem ser ativadas e eis então uma: Após um certo alinhamento ou desbloqueamento, para o que podemos fazer alguns exercícios de movimentação ou, já sentados, direitos e descontraídos, delinear alguns gestos e sons com os dedos ou mãos, estimuladores da energia nos meridianos que começam ou terminam nas mãos, de modo a limpar, harmonizar e elevar os sutis fluxos energéticos e psíquicos, ficamos mais prontos a singrar na viagem auto-consciencial e meditativa... No início podemos (e devemos...) fazer uma invocação da Divindade, dos Seres divinos, dos mestres, imams, santos ou anjos com quem nos sentimos mais ligados ou afins, que pode ser dita em voz alta, espontânea ou seguindo alguma oração ou mantra... Por vezes pode haver uma expansão consciencial imediata, pelo que este momento deve ser privilegiado ou mesmo alongado... Em seguida começaremos por observar o ritmo da respiração, descontraidamente, se quisermos sentindo as energias luminosas a entrarem, sendo retidas para nos purificarem e vitalizarem e, na expiração, saindo e deixando-nos mais harmonizados. Esta observação e interiorização será a base ou raiz do alinhamento meditativo, mas pode contudo focar a sua atenção inicial seja nas partes do corpo tensas ou mais necessitadas de energia (prana, ou shakti) equilibrante, seja nos chakras ou centros de força no corpo sutil... O foco da nossa consciência deve ser a auto-consciência verticalizante, e a plena atenção sobre os conteúdos objetivos que se manifestam em pensamentos, em geral derivados do que dança na nossa aura ou do que nos preocupa, dos nossos instintos ou carências, mas que aos poucos vão-se acalmando e dissipando, pois sendo vistos ou observados com mais interioridade e calma, estando nós a abrir-nos a níveis, canais e ligações identificativas superiores, vão perdendo as suas energias emotivas ou conflituosas que os tornavam por vezes repetitivos ou afetando-nos mais, sobretudo no sentido de pensarmos que não conseguiríamos desprender-nos deles e de acalmar as ondulações emocionais e mentais e portanto meditar... Depois de termos então apaziguado mais o nosso ser psíquico, tentaremos estar mais no coração, no silêncio, ou então no invocar mais intensamente o que intuímos ou recebemos de modo sensível na alma, de modo a que se comece a sentir mais a presença interna energética do Espírito e a sua ligação com o Infinito ou o Ser Divino, o que acontece normalmente pelo sentir, ver e ouvir interior e sutil... Se tivermos dificuldades, o que é normal, em chegar a um estado imediato de poucos pensamentos e a uma ligação maior da consciência consigo mesma ou com o espírito, deveremos de quando quando invocar, mantrizar, orar e adorar, com mais aspiração, a forma ou nome do Divino ou do aspecto ou atributo sagrado que mais nos toca, para isso podendo por vezes ainda contribuir, por exemplo, o inclinar-nos sobre o peito e aí juntar as mãos, sentindo bem nessa postura e a receptividade invocativa grata e humilde... Entre nós e o Espírito, ou mesmo a Divindade, não deveria haver tantas barreiras, véus e canais desviando-nos para outras direções e seres, pensamentos e imagens. E, por isso, estes momentos de aspiração despertante e de tentativa de unificação maior são valiosos, sendo reforçados, como já dissemos, pela criatividade ou fidelidade aos cantos, preces, mantras e mandalas (diagramas contemplativos), ou mesmo, como já referidas, pelas mãos juntas, que equilibram as polaridade e unificam sempre algo em nós. Mãos que podem depois elevar-se ao céu em forma de Graal, taça ou cálice, e acolher melhor as bênçãos luminosas ou, ainda, ao findar, derramá-las para as pessoas ou países que mais precisam. A meditação pode ser então considerada como uma destilação maior do elixir da imortalidade, como a criação do corpo espiritual perene ou dharmico (do sânscrito dharma, Ordem do universo), realizando-se então pela auto-consciencialização do Ser profundo, do Espírito que está em nós, que se sente (mais ou menos...) na circulação energética, no som sem som, na luz interior que começa então a ser mais vista no olho espiritual, na paz e amor, e que nos impulsionam assim a mais intuições, expansões de consciência e determinações, que desaguarão posteriormente na ação harmonizadora e libertadora do dia a dia... Meditamos, portanto, não só para nós, mas para os que nos estão próximos, o ambiente e os seres da Natureza e a própria Gaia, Gea, Tellus, Zamyat ou Terra, mas também para os espíritos sutis ou fora da existência física, desde os antepassados aos que mais gostamos, numa fraternidade cósmica, angélica e dévica, sentida e amada, sobretudo quando a Luz circula e emana visivelmente do coração ou do olho espiritual, ou que desce do Alto, e que, pelo nosso amor, chega até eles e deles recebe também sinais ou graças, como o símbolo das três Graças indica... Quando meditamos, ou apenas perseveramos no respirar consciente e no orientar e concentrar das ondas do pensamento, estamos a acalmar as ondulações psíquicas, a harmonizar os dois hemisférios, a dar coerência ao crescimentos das sinapses dos neurônios, a clarificarmos e lucidificarmos a nossa mente e alma, e estamos também ainda, unindo mundos e seres, personalidades e o Espírito Divino, talhando o corpo espiritual, dissolvendo ódios e separatividades, recuperando a nossa dimensão mais profunda, extensa e sábia, fiéis do Amor divino ou verdadeiro, cooperando assim na harmonização e iluminação planetária, na religação à Unidade, à Divindade, ao Supremo Bem... Boas meditações... Om Tat Sat... Tu és o Espírito... Pedro Teixeira da Mota é escritor e mora em Lisboa Blog: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com.br/ Facebook: www.facebook.com/pedro.teixeiradamota.5 Youtube: www.youtube.com/channel/UCTQwHXL9Ltw56J_hmNLLMeA ilustração do texto: foto de Walter Antunes #PedroTeixeiradaMota #Katawixi #meditação #fotoWalterAntunes

  • Dois poemas de Galvanda Galvão em Um Lance de Dentes

    entrevejo a cortina no espelho sou eu duvido uma hesitação sazonal espuma espera suspensa cidade história e maldição ondulo-me em palimpsestos assim passam-se os dias deambulastes árvore em flor derrubada e plantio a fúria cíclica sibilante parcial insólita ajunto o mar *** na minha cabeça um enxame de nuvens elas vão cair sei corro para alcançar viajante e inverno soletro letras procurando o narrador a história se faz ou é ao contrário agora pego a umbrella agasalhada dispenso Nicômaco a tempestade sopra a ruína o que é decisivo acontece Um Lance de Dentes, de Galvanda Galvão, pode ser encomendado pelo email: galvandagalvao@gmail.com #GalvandaGalvão #Poesia #Katawixi

  • A Mulher da Casa do Arco-Íris

    A Mulher da Casa do Arco-Íris – pré-lançamento O documentário de Gilberto Alexandre Sobrinho completa a trilogia do diretor sobre a cultura negra em Campinas e Região. O filme conta a história da Mãe Dango, sacerdotisa que rege a Casa do Arco-Íris do Candomblé Angola na cidade de Hortolândia. #AMulherdaCasadoArcoÍris #documentário #culturanegra #Campinas #GilbertoAlexandreSobrinho

  • MAIS 23 MESES PARA 2020!!

    Jupiter Apple! Júpiter Maçã! Para compreender o território Brasil, desde os atuais carnavais de rua verdadeiros ou falsos até o sistema político-carcerário. Uma indicação permanente do que é tudo isto chamado genericamente de as artes brasileiras ou como sobreviver respirando no sempre país do futuro. fotos de Jupiter Apple por Sidd Rodrigues A Marchinha Psicótica De Dr. Soup Júpiter Maçã Antes de nada eu gostaria de explicar Segue agora um mosaico de imagens mil Chamado a marchinha psicótica de Dr. Soup A noiva do arlequim e o malabarista Chegaram juntos com a fada e o inspetor nazista Chacretes e coristas em teatro de revista Bem-vindos a orgia niilista, ai que gostoso Que delícia, muito mais paulista Anunciados o homem-bala e a mulher canhão A musa do Pinóquio era bolchevista A mais formosa melindrosa pega na Suíça Suíça pra ela era pegar rapaz E pra provar minha querida O meu amor tão radical Eu escrevi essa marchinha Para tocar no carnaval O milênio passaria e a marchinha seguiria Sendo cult underground Mas até 2020 seria revisitada E virar hit nacional O timbre do Caetano é super bacana Não pense que eu estou copiando, que eu sou banana Peguei emprestado pras artes da semana Abrindo as portas da percepção Um tal de Aldous Huxley de cara, ficou doidão Tomando toda a solução Doidão é apelido para a paranóia Toda jibóia, toda bóia, toda clarabóia Querida, que tal baixar o televisor? Deitado no divã com Woody Allen Eu tive um sonho com aquele estranho velho alien Que era cabeça Bob Dylan, barba Ginsberg Allen E pra provar, minha querida O meu amor tão radical Eu escrevi essa marchinha Para tocar no carnaval O milênio passaria e a marchinha seguiria Sendo cult underground Mas até 2020 seria revisitada E virar hit nacional fotos de Jupiter Apple por Sidd Rodrigues #2020 #JupiterApple #AMarchinhaPsicóticaDeDrSoup #SiddRodrigues #Brasil #Paísdofuturo #JúpiterMaçã

  • Impressões não Impressas no Papel

    "Já se disse que o analfabeto do futuro não será quem não sabe escrever, e sim quem não sabe fotografar". Walter Benjamin um texto sobre fotografia sem fotos Em tempos de novas coisas velhas e de próxima tela, próxima postagem, esta linha deste parágrafo talvez já não esteja sendo lida. Mas ela continua ainda assim. Nunca antes no mundo - em números absolutos ou em outra contagem qualquer – houve tanta gente apertando um botão que gera uma imagem, independente de bela ou significante, de imagem qualquer ou foto inesquecível, afinal cada humano tem a sua medida de beleza e de significação. Bem distante de qualquer queixume sobre o valor da fotografia, que várias vezes toma conta de muitas discussões desde o início e torna infrutífero os diálogos, o que tentamos verificar aqui é que a questão-monstro-coisa não está na fotografia, mas no tempo e nas escolhas de cada um, muitas vezes disfarçados ou legitimados pelas falas, tais como o mundo é assim mesmo ou ninguém pode com a máquina-sistema. A atual ânsia generalizada de registrar tudo e a ânsia maior de publicar, gritar o status momentâneo ao mundo, fazem com que o próprio registro-foto-publicação do instante seja feito apressadamente e de qualquer forma, pois não se está com o pensamento nele, mas já no futuro-próximo registro-foto-publicação, seja ele qual for, mesmo quando nem se tenha ideia do que virá a ser. Alguém em algum dia recente me disse sobre a fotografia e o fotógrafo estarem definitivamente mortos. Argumentava ele que ao contrário das expectativas do início do século 21, o fácil acesso à produção e a imensa quantidade de pessoas fotografando não produziu a valorização da arte fotográfica, que as pessoas ao mesmo tempo que nunca fotografaram tanto também nunca viram tão pouco a fotografia do mundo e a fotografia feita pelos outros. O propagado amplo acesso à literatura e à música ou a qualquer arte universal parece não tocar o coração das pessoas. Cada vez mais temos concentrações de eleitos nessas áreas todas, o que não faz da fotografia a única arte ou linguagem em triste situação. Não se discute os mecanismos de manipulação para se produzirem os eleitos para as massas de consumo. Ainda assim as tentativas de fama persistem por todos os lados, o frisson por não se perder a oportunidade, a imaginação da exclusividade, da foto única, o novo-tema-novo jamais antes trabalhado. Essa imaginação pode por vezes levar ao delírio ou à paralisia mesmo que momentâneos. Outro amigo me contou sobre chegar num estúdio de música numa destas tardes, estava lá não para fotografar, sem câmeras ou equipamentos, quando soube que Ney Matogrosso também estava no estúdio. Este amigo que não tem o mínimo perfil de deslumbrar-se diante de artistas, mesmo da grandeza do Ney, entrou em pânico por estar sem sua câmera, tempos depois me contou envergonhado que após o pânico ficou paralisado e não conseguiu nem mesmo responder ao “Boa Tarde!” do Ney, ter uma conversa feliz como a coincidência da situação clamava. Parte da explicação de como as coisas estão ou para onde as coisas podem estar indo nesses tempos pode estar sinalizada em duas falas que vi-ouvi em dois recentes shows da mais elevada arte que um brasileiro pode alcançar como artista. Shows que assisti e que não fotografei. No lançamento em São Paulo do álbum Dos Navegantes, Edu Lobo, em determinado momento quando surgiu no palco uma certa brincadeira sobre o Grammy, contou que ao receber o prêmio tempos atrás, telefonou feliz para a sua própria mãe para contar a novidade e que ela perguntou se era o Grammy mesmo ou se era “aquele outro”, referindo-se ao Grammy Latino. Na mesma apresentação ele havia contado como considera estranho que a imprensa chame este trabalho novo de Dois Navegantes e não Dos Navegantes, já que até mesmo na capa do cd aparecem três artistas. Noutro show, o de Yamandu Costa, cuja grandeza não existem muitas palavras que possam definir, ele contou que após um recente cd seu ficar pronto, enviou-o pelo correio para a sua avó, que também ao telefone, depois de ouvir as músicas, disse a ele que era um cd que parecia inteiro feito de introduções. Tempos não-difíceis mas indubitavelmente curiosos. Percepções e sentenças instantâneas e variadas, as próximas selfies, o não escutar, o não debruçar-se sobre o outro, a impermanência, a muitas vezes desesperada procura por se fazer notado, a possibilidade ou impossibilidade de parar a vida para tomar um café com o velho amigo encontrado por acaso na rua no meio de um dia qualquer. Uma outra história também ouvida num show recente, de outro deus da música, Egberto Gismonti, mostra a face perdida da delicadeza nas relações humanas. Numa das trocas de instrumento ele contou sobre os segredos e maravilhas de certo luthier que leva anos (não o tempo de uma selfie no instagram) para preparar um pedaço de madeira que se transforma num violão mágico e único. Gismonti contou que após a ligação sobre a encomenda finalizada perguntou ao luthier se os violões iriam de João Pessoa para o Rio de Janeiro via transportadora e este respondeu que levaria pessoalmente “para aproveitar e tomar um café juntos”. Walter Benjamin, em 1931, na sua Pequena História da Fotografia, finaliza o texto equilibrando duas opiniões contrárias sobre a fotografia, emitidas ainda no século XIX por duas famosas personalidades, Antoine Wiertz, entusiasta otimista da fotografia, e Baudelaire, amargurado e pessimista com a nova técnica de reprodução de imagem. Benjamin lembra que Wiertz disse em 1855 que "em cem anos, essa máquina será o pincel, a palheta, as cores, a destreza, a experiência, a paciência, a agilidade, a precisão, o colorido, o verniz, o modelo, a perfeição, o extrato da pintura... não se creia que o daguerreótipo será a morte da arte". Já Baudelaire, em 1859, pronuncia palavras "sóbrias e pessimistas" a respeito da fotografia: "Nesses dias deploráveis, uma nova indústria surgiu, que muito contribuiu para confirmar a tolice em sua fé... de que a arte é e não pode deixar de ser a reprodução exata da natureza... Um deus vingador realizou os desejos dessa multidão. Daguerre foi seu Messias... Se for permitido à fotografia substituir a arte em algumas de suas funções, em breve ela a suplantará e corromperá completamente, graças à aliança natural que encontrará na tolice da multidão. É preciso, pois, que ela cumpra o seu verdadeiro dever, que é o de servir as ciências e as artes". Porém considerando essas duas posições contrárias, e indo além delas, Walter Benjamin situa o fotógrafo como o "sucessor dos áugures e arúspices", ou seja, aquele que capta o inconsciente, e coloca a fotografia como uma técnica de escrita e leitura do mundo comparável à escrita alfabética: "Já se disse que o analfabeto do futuro não será quem não sabe escrever, e sim quem não sabe fotografar". Atravessamos os séculos XIX e XX, estamos no século XXI e talvez a arte da fotografia ainda possa um dia desses existir não impressa no papel, mas nas mentes e nos corações. PS. A bandeira da Paraíba não tem nela escrito NEGO e sim NEGO. #WalterAntunes #fotografia #novafotografia #fotografianosdiasatuais #Katawixi #WalterBenjamin #Baudelaire #AntoineWiertz #EgbertoGismonti #YamanduCosta #EduLobo

  • Breve diálogo sobre 13 questões para as esquerdas

    Sob o olhar espantado de Walter Benjamin, um diálogo breve a partir de 13 questões para a esquerda propostas por Walter Falceta e 14 pontos colocados por Walter Antunes sobre caminhos e esquerdas que podem ou não ser vislumbrados por esses tempos. 1. Walter Falceta: Se é raro, hoje, o macacão sujo de graxa, ou seja, se minguou a "classe operária", qual grupo organizado, disciplinado e particularmente interessado pode liderar o processo da mudança? Walter Antunes: Nenhum grupo deve se arrogar ser a vanguarda das lutas que muitas vezes nem mesmo existem. Sem nenhum egoísmo segue o dito popular: "cada macaco no seu galho, cada um com seus problemas". Corre-se o risco de no meio da festa ouvirmos: "o que vocês estão fazendo aqui?" Ver Manderlay de Lars Von Trier. 2. Walter Falceta: Se um simples computador portátil pode ser o "meio de produção", desloca-se o ponto de sustentação tradicional da análise marxista referente à desigualdade. Portanto, como definir a nova matriz da disputa entre classes? Walter Antunes: Não há luta de classes. Não há nova matriz. O computador é o braço do escravo. O mandatário livrou-se de dar comida/casa e cuidar das feridas do seu animal de tração mandando-o se virar com o fim da escravidão. Passou a ter um escravo sorridente na linha de produção, que cuida da própria habitação, saúde, se não estiver ok é substituído instantaneamente por outro escravo livre. Em tempos de cyber-escravidão o escravo passou a ser investidor do negócio do mandatário, pagando por tecnologia, desenvolvendo conhecimento e trabalhando à distância do chefe. Ver A Natureza do Espaço, Milton Santos. 3. Walter Falceta: Como estabelecer uma ponte de convergência com os novos trabalhadores, se o trabalho formal está desaparecendo e parece inevitável a multiplicação dos autônomos, chefes de si mesmos? Como fazer de conta que a chamada economia compartilhada (com todos os seus defeitos) inexiste? Walter Antunes: Se não há incômodo, não há luta. Então não há necessidade de ponte. A ponte existe quando dois pontos desejam ser ligados. Nesse momento de satisfação universal através do consumo não ocorre isso. Ver o mapa recente de vendas de smartphones e cerveja. 4. Walter Falceta: No caso dos novos empreendedores, como vilipendiar o empenho, ou seja, o mérito, dos antes proletarizados que encontraram a inserção social por meio da livre iniciativa? Walter Antunes: Não há livre iniciativa. Não há empreendedor. É a replicação apenas da dominação, funcionando tão eficazmente que promove na mente do escravo explorado a ideia de ser livre e participante do jogo. Substitua o verniz tecnológico e pseudo-moderno por correntes que a falsa ideia desaparece. Ver Trocando as Bolas, John Landis. 5. Walter Falceta: Como assegurar causas mundiais se a esquerda abandona, gradativamente, o ativismo verde? Se o ambiente se degrada mais rapidamente, e esse processo afeta, sobretudo, a vida dos setores economicamente subalternos, como esquivar-se dessa obrigação moral? Walter Antunes: O ambiente não se auto-degrada. Tudo é eleição. A quantidade de cabos e fios e conexões e a satisfação do "subalterno" no seu quintal todo concretado sem árvore alguma, dentro da sua piscina de plástico para duas pessoas adultas ou três crianças enviando mensagens por WhatsApp de moradores de rua sendo humilhados. Quantas abelhas são mortas por WhatsApp enviado? Ver Os Simpsons - O Filme, David Silverman. 6. Walter Falceta: Se a vida em sociedade exige a projeção dialética ou a alteridade amorosa, como admitir nas ditas fileiras progressistas aqueles intolerantes à subjetividade transcendente (ou religiosa) do indivíduo? Walter Antunes: Se ainda necessitamos refletir e invocar regras de bom convívio em termos de avanços progressistas da sociedade do politicamente correto é que não estamos resolvidos suficientemente em nós mesmos, não quanto a aceitação do outro, mas quanto a sua própria existência. Ver Viagem por Um Mar Desconhecido, Krishnamurti. 7. Walter Falceta: Se a população mundial se multiplica rapidamente, como gerar condições dignas de vida sem crescimento econômico? Como fugir da armadilha matemática das políticas compensatórias? Walter Antunes: Num mundo sem correntes físicas como suporte para a escravidão, o próprio escravo define o tamanho da sua dignidade. Um quartinho de quatro metros numa pensão da Aclimação, uma beirada sob o minhocão. No geral o piso da dignidade atual passa por ter uma boa conexão para a web e estar bem nas fotos da rede social do momento. Ver Ela, Spike Jonze. 8. Walter Falceta: Se desapareceram os Rockefeller e os Matarazzo, vigorando agora uma realidade de centrais produtivas pulverizadas em sociedades anônimas, onde encontrar o egoísta "dono da fábrica"? Walter Antunes: O "autônomo", o de "livre iniciativa" tem ao final da sua "prestação de serviço" que emitir uma nota fiscal. Esse é o caminho. Ali está o nome do seu patrão egoísta, muitas vezes bem próximo e sem tantos capangas por perto como antigamente. O ponto é que a proximidade atual com o patrão causa no explorado a sensação exata da sua insignificância ou no melhor dos olhares a certeza exata da incerteza da sua insatisfação. Ver 1900, Bernardo Bertolucci. 9. Walter Falceta: Como lidar, no escuro, com o processo brutal de acumulação por meio de capitalistas não empreendedores e de sociedades de investimento? Walter Antunes: "Siga o dinheiro" disse o "Garganta Profunda" para os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein. A escuridão é a única marca universal da humanidade ocidental pós Idade das Trevas. Banco de Boston? Companhia das Índias Ocidentais? Estrada de Ferro Sorocabana? Ver O Nome da Rosa, Umberto Eco. 10. Walter Falceta: Como disputar o território das narrativas no confinamento confortável das bolhas digitais? Como fazer comunicação efetiva sem protagonismo e sem redes de difusão? Walter Antunes: O território atual das narrativas e as redes de difusão são invenções e apropriações dos mandatários inclusive os digitais. Impossível vencer qualquer jogo ou guerra dentro desse universo pré-estabelecido pelo dominador ainda mais quando o dominado ingenuamente se sente livre e agente importante dentro desse processo de dominação. O protagonismo da luta não existe apenas por não existir luta alguma acontecendo. Ver Apocalipse Now, Francis Ford Coppola. 11. Walter Falceta: Como evitar a arrogância de presumir conhecer as razões, dores e satisfações dos estratos marginalizados dos morros e das periferias? Como eliminar a educação pedante de mão única e construir uma relação educativa de reciprocidade? Walter Antunes: Será que não chegou o ponto de entendermos que O Quilombo, se é que ele existe, não precisa e não tem nada para aprender conosco? A esquerda "tradicional" historicamente se arroga como vanguarda apostólica salvadora do mundo, enquadrando segmentos da sociedade como enfermos desvalidos que precisam ser guiados para as águas da salvação. Um misto de auto-compaixão com uma falsa compaixão ao próximo na tentativa de parecer desinteressada por si mesma e à frente do tempo na preocupação com causas universais. Típico de um ideal jesuíta de superioridade sobre os índios que serviu apenas aos exploradores europeus. Ver A Outra Face de Moisés, Gary Weis. 12. Walter Falceta: Em um mundo fragmentado, com demandas sociais transversais, algumas claramente assumidas também pelos conservadores, como constituir um esforço organizado que não contemple também, cotidiana e seriamente, as questões das mulheres, das comunidades LGBT, das porções étnicas vítimas do preconceito e das parcelas da juventude marginalizadas? Walter Antunes: A própria fragmentação é instrumental máximo de dominação, por isso contemplada pelo sistema mandatário. A divisão, subdivisão, células, moléculas, permite o emprego correto da substância mais eficaz de controle até que um olho olhe para o outro olho e não se identifique fazendo parte do mesmo corpo. Ver Frankenweenie, Tim Burton. 13. Walter Falceta: Como ainda se apegar às cartilhas estabelecidas a partir da observação de uma sociedade que desapareceu? Walter Antunes: Cartilhas quando estão sendo impressas falam de um mundo que não existe mais. As diretrizes e resoluções de um congresso muitas vezes horas depois são poeira no tempo. A esquerda praticante de dogmas é igual à pior direita. Se reinventar, estar atento o tempo todo (não em alerta), aberto verdadeiramente ao mundo são armas que a esquerda um dia terá de praticar se quiser deixar de ser apenas um clube de reunião de saberes e boas intenções. Ver 451, Ray Bradbury. 14. Walter Antunes: Treze questões é um bom número. Três com um somados dão o quadrado, símbolo da materialidade da vida na terra, propósito de ação principal do discurso da esquerda em qualquer tempo. Ver Simão o Caolho, Alberto Cavalcanti. Walter Falceta é jornalista. Walter Antunes é fotógrafo. Os dois fazem parte do Coletivo Democracia Corinthiana. Foto: Kleber Garcia em cena de Aspectos Fenomenológicos do Método Crítico-Paranóico - de Salvador Dali. Criação: Kleber Garcia, Luama Socio, Harlen Félix, Tiago Landin e Marlon Morelli. #questõesparaasesquerdas #WalterFalceta #WalterAntunes #AspectosFenomenológicosdoMétodoCríticoParanói #SalvadorDali #KleberGarcia #HarlenFélix #TiagoLandin #MarlonMorelli #dilemasdaesquerda #Katawixi

  • Passarinho

    Ele não quis nem molhar o bico. Nem se aproximar do farelo de biscoito. Eu estava em casa e o pássaro havia entrado pela janela. Deixei à vista água e farelo, enquanto criava coragem para mostrar a ele a saída. É agora, eu pensava, mas logo vi que não conseguiria mover um dedo em sua direção. Se fosse até bem pouco tempo atrás, quando eu não tinha tantos medos. As asas davam-me susto a cada vez que eu tentava me aproximar. Se eu o afugentasse com um pano até que ele encontrasse o espaço da janela aberta... Mas ele ficava naquele canto do vidro e quando se debatia era apenas para cima um pouco, e nunca para os lados. Também, do outro lado do vidro era só luz à sua frente, lá em baixo o topo das árvores, o abismo que importava mais que tudo naquele instante. Como poderia contornar a barreira do vidro que para ele não existia? O único jeito era eu mesma apanhá-lo e soltá-lo no rumo certo. Mas parecia frágil demais para tê-lo em minhas mãos, tive pavor que se desmanchasse ou quebrasse uma asa com o simples toque. Ou talvez ele me bicasse. Olhei para a ponta do bico, era pouco provável que me arrancasse a pele. O medo do contato era pelo receio do desconhecido. Ele tinha medo de mim também. Partia-me o coração vê-lo pressionar a cabeça contra o vidro a cada vez que eu voltava à sala decidida a agir. Bicava a transparência que o dividia do mundo, sem compreender, eu então desistia de me aproximar, ele me dizia fique aí... e eu ficava. Tudo para não vê-lo debater-se. Por isso abandonei a convicção de superar meus medos e chamei o zelador do prédio. Para ele não tinha problema nenhum. Mas com a mesma naturalidade com que afirmava isso, adiava a ajuda para daqui a uma hora. Não dava para esperar, não por mim, mas pelo pássaro, como seu coraçãozinho aguentaria mais uma hora a separá-lo do mundo? Os poucos voos contra o vidro já comprometiam as penas de sua cauda, onde havia sinais de combate. Aí me armei de coragem fruto de minha indignação e pensei que se para o senhor na portaria tudo aquilo era tão simples assim, eu mesma arregaçaria as mangas. Aproximei-me. Dessa vez, o pássaro não se mexeu. Era uma rolinha, eu chamaria de rolinha o que não era nem beija-flor, nem sabiá, bem-te-vi ou pardal. A penugem de um acinzentado lilás. Olhinhos redondos, o bico encurvadinho de lado... Ele decidira ficar parado e me olhava como estátua, sem piscar. E reagindo à sua decisão, também eu virei pedra. Poderíamos ficar uns bons minutos ali. Mas não quis permanecer no jogo, pareceu-me injusto fingir que acreditava na sua astúcia, e que ele me enganava com seu disfarce que lhe dava tanta força. Apesar do alívio em ver que ele afinal desistira de debater-se. Pelo menos me dá tempo para pensar. Mas ali pensar era o pior a se fazer, e no instante em que, num sopro, afugentei o pensamento, lancei as mãos ao alto e não foi de uma vez como eu pensava, foi em fuga no bater de asas que minha mão direita aparou seu corpinho, e com a mão esquerda fiz a base onde ele de repente ficou quietinho. Era um corpo real, não se esfacelava como as mariposas, não fugia fácil como os insetos, não me causou sobressalto. Ele se rendeu assim que sentiu as minhas mãos nas asas. As asas se encaixaram com jeito sem quebrar, dois passos meus e já estávamos no centro da janela aberta. Havia uma rede e tive medo que ele se atrapalhasse, fiz-lhe um carinho com a ponta do dedo, e não tive mais tempo para mais nada: numa explosão ele se lançou através da rede no ar que durou infinito até o parapeito de uma janela mais alta. Ali ficou um quarto de hora, recuperava-se do susto, parecia bem, mas eu estava determinada a não abandonar minha vigília enquanto ele não batesse novamente em retirada. Atendi o telefone e mantive a conversa sem tirar os olhos do parapeito da janela em frente. Ele não se movia. O que esperava para juntar-se aos outros nas copas das amendoeiras e dos flamboyants em flor? De repente meu amigo se lançou, o voo esperado, mas despencou, sem bater as asas, tive tempo de pensar se ele se atirava ou caía, mas sem fôlego pude ver perfeitamente quando ele girou o peito firme, as asas fechadas junto ao corpo em espiral, já era dono de seu rumo, e sumiu na folhagem viva, espessa. Susana Fuentes é autora do romance Luzia (7Letras, 2011), finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2012. Seu livro de contos Escola de Gigantes (7Letras, 2005) foi selecionado para a Biblioteca do Professor no programa “Rio, uma cidade de leitores”, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro em 2010, sendo distribuído entre os professores da rede do município. Doutora em Literatura Comparada e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, desenvolve pesquisa de Pós-Doutorado UERJ/FAPERJ. Teve seus contos publicados em diferentes antologias e escreveu a peça teatral Prelúdios: em quatro caixas de lembranças e uma canção de amor desfeito, onde também atua. Em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim no Rio de Janeiro em 2009, foi selecionada para participar do festival de teatro The New York International Fringe Festival em 2012 e convidada para encerrar o 4º Festival Nacional do Conto em Florianópolis, em 2014, no SESC. Participou em 2014 e 2015 do Salão do Livro de Paris, do Printemps Littéraire Brésilien na Université Paris-Sorbonne, e de leituras n’ A Livraria em Berlim. Do livro Escola de Gigantes, o conto Sumaúma e reco-reco, ‘Tiger and the Silk Cotton Tree’ na tradução de Alison Entrekin, faz parte da edição especial de Junho de 2015 sobre o Brasil da revista Wasafiri - International Contemporary Writing. Saiba mais no blog: http://entretrancosetamancos.blogspot.com.br/ #SusanaFuentes #Literaturabrasileira #literaturabrasileiradoséculoXXI #NovaLiteratura #contobrasileiro #conto #Katawixi

  • Seo Carlão do Peruche & Os Sobrinhos

    Seo Carlão do Peruche se apresenta no Teatro do Sesc 24 de Maio acompanhado do seu grupo Os Sobrinhos - especialmente formado para estar junto deste grande mestre do samba. Ronaldo Gama, Anderson Borba, Olegário de Paula, Ananza Macedo, Ligia Fernandes, Richard Fermino, Tiago Prates, Koka Pereira, Léo Carvalho compõem o grupo que com sofisticados arranjos valorizam e respeitam a música do Seo Carlão. A história do Seo Carlão do Peruche se confunde com a história do samba paulista. Nascido em 1930 na rua Pirineus, entre a Santa Cecília, os Campos Elíseos e a Barra Funda, regiões fundamentais para a formação do samba na capital. Morou também no bairro do Bixiga. Integrante da mítica escola de samba Lavapés, a mais antiga escola de samba paulistana ainda desfilando no carnaval paulista. Ainda jovem participou com outros amigos da fundação da Escola de Samba Unidos do Peruche no bairro da Casa Verde. Conhecedor das origens do samba paulista, das tradições de Pirapora do Bom Jesus, do encontro com o jongo e o congado. É um dos mais destacados nomes do samba paulistano, ritmista, partideiro, compositor, intérprete e possuidor de uma das mais claras visões sobre o samba feito em São Paulo. Seo Carlão do Peruche & Os Sobrinhos Sesc 24 de Maio Domingo, 3 de dezembro, 18h00 https://www.sescsp.org.br/programacao/138477_SEO+CARLAO+DO+PERUCHE #CarlãodoPeruche #Sesc24deMaio #SambaPaulista

  • Oficina de Textos: Criatividade, Consciência e Técnica

    A “Oficina de Textos Katawixi: Criatividade, Consciência e Técnica” trabalha vivências de criação de textos dirigidas por Luama Socio. Proporciona ao participante o reconhecimento de conexões possíveis entre a manifestação criativa da palavra e a realidade subjetiva de cada um. A Oficina é direcionada a pessoas que têm interesse em auto-conhecimento a partir da prática da expressão com a palavra, melhoria na comunicação escrita, aprofundamento da compreensão de estruturas textuais e aperfeiçoamento de produções criativas de qualquer gênero. É uma oportunidade para artistas de todas as áreas, professores, gestores, comunicadores, jornalistas, profissionais liberais, produtores culturais, estudantes e filósofos. As vivências constituem-se de práticas de percepção, pensamento, leitura e escrita no formato de exercícios individuais, exercícios em grupo e diálogos O objetivo é a imersão do participante na experiência da criação e produção de textos de vários gêneros. Os encontros são estruturados nos eixos metodológicos das práticas de percepção, pensamento, leitura e escrita. O centro de cada encontro constitui-se a partir desses eixos específicos, sucessivamente. Todos eles expressam-se estruturalmente em todos os encontros. A Oficina de Textos Katawixi acontecerá em setembro e outubro em quatro encontros, com a duração de quatro horas cada um. O ideal é a participação em todos os quatro encontros. Cada um deles também pode ser vivenciado separadamente. Luama Socio é doutora em filosofia pela USP - Universidade de São Paulo, mestre em teoria literária pela UNESP - Universidade Estadual Paulista, compositora, professora, escritora. Quando: Aos sábados, dias 21 e 28 de Outubro, 18 e 25 de Novembro, das 15h às 19h. Onde: São Paulo Inscrições, valores e mais informações pelo email: katawixi@yahoo.com ou telefone (011) 941 839 244 Vagas limitadas - para pessoas a partir de 21 anos #LuamaSocio #katawixi #OficinadeTexto #CriatividadeConsciênciaTécnica

  • Da Lagoa do Peixe ao Forte de São Miguel, uma viagem pelo Sul

    A Lagoa do Peixe é um delicado santuário ecológico que fica nas imediações da cidade de Mostardas, no Rio Grande do Sul, próxima também à Lagoa dos Patos. Mostardas seria hoje um balneário relativamente comum, se não tivesse junto a si a Lagoa do Peixe. Claro, as praias abertas irrestritamente ao público são lindas e muito agradáveis. O farol é um dos mais bonitos do Brasil. Mas quem ama a Natureza dificilmente deixará de tentar visitar a Lagoa do Peixe. Isso é possível contatando um guia credenciado, com autorização para entrar no Parque da Lagoa do Peixe que regula a visita de turistas em quantidade limitada. A paisagem da Lagoa do Peixe é verdadeiramente uma riqueza de variedades: elementos de florestas, dunas, lagos, ilhas, praia. E o principal: a incrível variedade de pássaros! As cores que surgem com eles, nessa paisagem, são de um indefinível sombreado: tons de branco, marrons, pretos, vermelhos e as águas sempre muito brilhantes. Garça-moura, Maguari Flamingos, Ostreiros Maçaricos, Gaivotas Mergulhão Trinta-réis, Gaivotinha, Gaivotão Trata-se de uma grande festa dos pássaros. Aqui na Lagoa do Peixe eles fazem um banquete. A comida, obviamente, são os peixes, que abundam na Lagoa e no mar. Os pássaros namoram, têm filhos, conversam com os amigos. Pelos lados do mar a água é revoltosa. Na praia, todos estão pescando, limpando, voando, andando, em bandos, às vezes solitários. Assemelha-se também a uma peça fantástica encenada no Teatro da Natureza. Como esse lugar é muito diferente dos ambientes a que estamos acostumados, sua visão provoca um efeito de irrealidade, assim como quando assistimos a um filme e sabemos que aquilo é irreal. A diferença nesse caso é que não se trata de um filme. No mínimo o corpo do visitante da Lagoa do Peixe entrou no ambiente da peça por alguns momentos, e ainda vai achar, depois disso, que toda aquela paisagem existirá lá, sempre, como um tesouro guardado no cofre dos tesouros ecológicos do Brasil. É uma coisa deslumbrante ver a Lagoa do Peixe de perto. Até agora - na verdade desde 1986 -, esse lugar importantíssimo para várias espécies de aves migratórias e outros seres da Natureza, é relativamente protegido da destruição dos humanos através de estatutos de ordem política, científica e cultural, que protegem a área em nível de Parque Nacional. Infelizmente, parece, na atual política brasileira, tem havido uma predominância dos partidários dos interesses dos proprietários locais em detrimento de uma possessão estatal garantindo políticas de âmbito federal e internacional. Parece que a visão dos “homens de poder” do momento, os proprietários e políticos dos desgovernos dos brasis, está convencida de que o caso da Lagoa do Peixe é de uma peça de teatro que pode ser extinta ou, na pior das hipóteses, passar a ser exibida por outros bilheteiros. O incrível é que o Rio Grande do Sul parece já ter praticamente cada milímetro do seu solo cultivado, quando não, a terra é pasto para o gado. A Lagoa do Peixe protegida não é uma maneira fútil de tratar a realidade ambiental. Trata-se de um canto do istmo entre o mar e a Lagoa dos Patos, nas proximidades de um dos maiores portos do país, com um gigantesco dique seco, onde se constroem e se reparam navios em meio a plataformas de petróleo, bases militares navais, infinitos arrozais e à “poluição biológica” dos extensos pinheirais importados do Canadá. A Lagoa do Peixe definitivamente não precisa ser “desreservada”. Sua suprema importância está nessa reserva. Mesmo do ponto de vista da vantagem inteligente segundo padrões de lucro, o Parque é decerto mais vantajoso - respeitando e dignificando também seus habitantes humanos - do que o simples ceder às pressões parciais, as quais são sempre inevitáveis. Seguindo nossa jornada pelo istmo, outros lugares peculiares e belos, por essa região, estão inscritos no destino do viajante do Sul. O próprio istmo já é uma coisa fantástica. Em alguns trechos vê-se o mar de um lado e as imensas águas associadas à Lagoa dos Patos do outro lado. Desloca-se por uma área alagada de beleza singular. São José do Norte, importante cidadezinha que dá acesso, através das águas, a outra cidade mais importante, Rio Grande (antiga capital do Rio Grande do Sul), possui uma encantadora igreja de 1832. E Rio Grande, por onde se chega então, navegando pela Lagoa dos Patos, é um cartão postal, com seu cais e suas praças. A famosa Praia do Cassino é a maior praia contínua do mundo, indo de Rio Grande até Chuí, uma das mais lindas que já vi: lisa, espelhada, calma, sem maré. Nas fase de Lua Crescente, ali, no céu, é possível distinguir a certa hora especial, com extrema nitidez, de um lado o Sol, do outro, a Lua. Dali o viajante deve se estender até Chuí, divisa do Brasil com o Uruguai, cruzando campos, numa visão de extenssíssimas distâncias, o que só é possível por conta do relevo tão plano. De Chuí, passa-se para o lado do Uruguai, onde se descobre o curioso e belo Forte de São Miguel, de cor ferrugem brilhante, construído com pedras de quadrado perfeito pelos espanhóis em 1734 em tempos e terras disputadas por portugueses e espanhóis. Por entre as fendas do chão e das paredes do Forte, as flores agrestes e a vasta paisagem lembram-nos do contraste entre os tempos da Natureza e da História. Desse ponto em diante o viajante já está em outra dimensão. fotos Walter Antunes #Katawixi #LagoadoPeixe #Mostardas #RioGrandedoSul #LagoadosPatos #PraiadoCassino #Chuí #RioGrande #SãoJosédoNorte #Uruguai #FortePortuguêsSécXVIII #IstmoSul #Brasil #ParquesNacionais #Ecologia #LuamaSocio #WalterAntunes #FotosdeWalterAntunes

  • Samba do Congo, Encontro de Compositores

    A Frente de Resistência Samba do Congo é um coletivo de compositores e sambistas fundado em 2011 na Vila Brasilândia na cidade de São Paulo para tocar, cantar e compor sambas. A vontade de produzir, aprender e compartilhar a riqueza do samba faz o Samba do Congo atuar no dia-a-dia através de diversas ações com o foco na composição de novos sambas, execução de obras de sambistas paulistas e a divulgação de suas histórias, incentivando a pesquisa e a valorização da nossa cultura. O encontro de compositores é um espaço democrático e aberto para se mostrar e cantar novos sambas, fazer parcerias e novas amizades através do samba e cultura paulistas. #SambadoCongo #katawixi #EncontrodeCompositores #SambaPaulista

  • O Kolombolo, as raízes do carnaval, e o renascimento nas ruas

    Os caminhos se cruzam Histórias, cidade, lugares, pessoas Uma história na verdade, nunca tem o seu início verdadeiramente identificado. Ela é sempre resultante de outras histórias que num determinado momento entram em conjunção, misturando-se, fundindo-se e transformando-se afinal numa nova história. Com o Kolombolo não foi diferente, de modo que não podemos falar exatamente de um começo, mas de vários. Começo por mim porque são as lembranças que me chegam mais facilmente. E também já adianto desculpas se elas me falham, tantas são as pessoas, os lugares e os fatos que se alinharam ao longo destes últimos quinze anos para fazer do Kolombolo, a entidade que ele hoje é. Esta é uma tentativa de, nos limites deste artigo, tentar retraçar este caminho. Eu tinha uma militância cultural na UESP – União de Escolas de Samba Paulistanas, desde 1985, quando ainda não havia a Liga, e todas as escolas e blocos reuniam-se em torno desta então, única e gloriosa entidade do samba paulista. Lá entre idas e vindas e inúmeros projetos, mas sempre com a benção e o apoio do meu padrinho no samba, Marcos dos Santos, (fundador junto com Hélio Bagunça, Maria Helena, Ademir Fonseca, entre outros, da tradicional escola de samba Tom Maior), realizamos em 2000 um antigo sonho: o CDMS - Centro de Documentação e Memória do Samba de São Paulo, com base no vasto acervo acumulado pela UESP desde 1974. Durante dois anos o Centro desenvolveu um intenso trabalho catalogando e disponibilizando livros, documentos, imagens, vídeos e áudios acumulados em 26 anos de atividades da UESP com o samba da cidade. As atividades, porém, se expandiram e em pouco tempo, o amplo salão do CDMS recebia os ensaios quinzenais das Tias Baianas Paulistas e os almoços mensais de confraternização da Embaixada do Samba Paulista. O centro de documentação tornara-se um local de encontro, aonde de inúmeras formas, a memória do samba paulista congregava sambistas de todas as idades, interessados em manter viva parte significativa da cultura negra da cidade de São Paulo. Foi neste contexto que quatro histórias diferentes começaram a se cruzar para dar origem àquilo que seria no futuro, o Kolombolo diá Piratininga. Renato Dias, então vocalista do grupo Sinhô Preto Velho, que junto com Lígia Fernandes Araújo participava de programas socioculturais na Escola de Samba Império da Casa Verde, andava muito preocupado com os rumos que o Carnaval paulistano havia tomado nas últimas décadas. De um passado não muito distante aonde a cidade era tomada por blocos, escolas de samba, afoxés, sambas-de-bumbo, bandas, batalhas de confete, concursos e inúmeros outros eventos espontâneos, o Carnaval desaparecera das ruas, para esconder-se no isolamento da Marginal Tietê. O sambódromo, em que pese a sua importância para consolidação dos desfiles oficiais, isolava-se da cidade viva e de sua cultura original, tornando-se um espetáculo com hora marcada para começar e terminar, a antítese da folia de Momo. Intrigado com este estranho processo social, Renato descobriu o CDMS e passou a realizar ali parte de suas pesquisas. Sempre inquieta e com uma extraordinária capacidade para entender os misteriosos caminhos do samba, Lígia Fernandes era quem acalmava o jogo e colocava a bola no chão. Mesmo compartilhando e construindo os nossos “delírios de revolução sambista”, era sempre ela quem, de forma doce e absolutamente delicada, nos indicava um caminho concreto para realizá-los, mesmo que nem sempre com a amplitude com que os concebíamos. Naqueles primeiros dias ainda não dava para perceber, mas Lígia iria se revelar uma extraordinária produtora musical e artística, que ajudou a dar forma, luz e cores aos projetos e sonhos de todos nós. Na quarta ponta da história, a roda de samba semanal do Projeto Samba Autêntico acabava de encerrar um brilhante ciclo no Villagio Café, legendário reduto do samba de raiz na cidade de São Paulo. Precisando de um novo lugar, e de preferência no mesmo Bixiga, o líder do projeto, T.Kaçula, já conhecedor das atividades da UESP nos procurou em busca de uma parceria. E assim, da Praça Dom Orione (aonde ficava o Villagio) para o seu novo endereço, bastou a roda de samba atravessar a Rua Rui Barbosa e pronto: o salão do CDMS passava a receber semanalmente compositores da velha e da jovem guarda do samba, cuja principal preocupação era enaltecer o samba da Paulicéia. T.Kaçula, ainda que jovem, possuía já muitos quilômetros rodados nas estradas do samba paulista e como tal, era e é, possuidor de um repertório regional simplesmente inesgotável. Hábil e múltiplo instrumentista, compositor de grande inspiração, carisma e uma especial capacidade de interação com o público, ele foi durante muito tempo, a viga mestra de muitas e muitas Praças do Samba. Foi assim que nos conhecemos, mas não podíamos jamais imaginar que naquele momento, mesmo sem a gente saber, começava uma nova história em nossas vidas, e porque não, nas vidas do próprio samba e do carnaval paulistanos. No entanto, dois anos após a sua fundação, o CDMS tornou-se mais do que um acervo preservado, transformou-se num ponto de congregação permanente de sambistas interessados na memória e nos fundamentos do samba paulista fosse em escolas, comunidades ou rodas de samba da cidade. E foi justamente esta característica local que permitiu que estas quatro pessoas, eu, Renato, Lígia e T. Kaçula nos cruzássemos e posteriormente formatássemos o que viria a ser o Kolombolo. Talvez tendo extrapolado os limites inicialmente imaginados para o projeto, a diretoria da UESP resolveu encerrar os eventos do salão, permanecendo as atividades do CDMS voltadas exclusivamente para as atividades de consulta ao acervo. Inconformado com os acontecimentos, eu me afastei por um tempo, assim como os outros três amigos. Pouco tempo depois, fui convidado pelo Renato para uma roda de conversa sobre a história do samba de São Paulo em um apartamento na Vila Medeiros. Ao final do encontro, Renato, Lígia e eu especulávamos sobre a ideia de fundarmos uma entidade voltada para a pesquisa, preservação e difusão do samba paulista bem como de sua matriz cultural de origem africana. Em 15 de maio de 2002 nascia assim o Mocambo Paulistano, tendo desde o início, o Galo como símbolo. Meses depois uma entidade nos procurou alegando já ter o mesmo nome e como a pessoa que ligou parecia muito decidida em brigar pela exclusividade, preferimos não iniciar um conflito. Pesquisando um dicionário bantu, começamos a ver qual nome poderia ser adotado, levando em conta a presença marcante deste povo na formação da cultura brasileira e da paulista em particular. Procuramos por galo e não deu outra: era Kolombolo e seria de Piratininga, em homenagem à São Paulo, cidade de todos os brasileiros. Um pouco mais adiante convidamos o querido parceiro T. Kaçula, para nos ajudar a implantar definitivamente o grêmio de resistência cultural. Tivemos vários endereços, inclusive na rua dos Andradas, mas na maior parte do tempo o Kolombolo morava mesmo era andando. É nesta parte da história que surgem duas pessoas que se não foram fundadores, são certamente um divisor de águas na história do Kolombolo: Guga Stroeter e Gisela Moreau. Portadores de uma visão absolutamente clara da cultura brasileira, ao mesmo tempo lúcida e sonhadora, foram os responsáveis pelo assentamento definitivo do Kolombolo em terras da Vila Madalena. Inicialmente através de parceria que resultou na série de apresentações no saudoso Blen Blen Club, em que o Kolombolo cantava e contava sobre o samba paulista, sempre com a presença constante de grandes bambas da cena sambista. O resultado tinha sido tão bom que estreitada a colaboração, surgiria o projeto “Memória do Samba Paulista”, série de 12 cds gravados com a nata da velha guarda paulistana, até hoje uma obra de referência para quem quer conhecer o samba de São Paulo. Mas o principal ainda estava para acontecer. Com a instalação da Sambatá, produtora musical de Guga e Gisela, no número 164 da Rua Belmiro Braga. Numa nova demonstração de confiança no trabalho do grêmio, o uso da casa foi compartilhado, permitindo assim que o Kolombolo finalmente conhecesse a estabilidade de uma sede. Uma generosidade para a qual toda gratidão nunca será suficiente. A partir daí surgiu a Praça do Samba, fortaleceram-se os desfiles do Cordão Carnavalesco, criou-se a Ala de Compositores e uma infinidade de atividades foram desenvolvidas tanto na nova sede como também por toda a cidade. Seria demasiadamente longo descrever a quantidade e os detalhes dessas ações culturais, mas passados quinze anos desde o seu surgimento, pelo menos duas coisas merecem, sem falsa modéstia, um destaque especial como contribuição do Kolombolo ao cenário cultural da cidade. O samba paulista na pauta Trazer para o centro do palco a produção sambística de São Paulo não foi uma iniciativa exclusiva do Kolombolo. Tampouco a ênfase em bater diuturnamente na tecla da memória da cultura negra na metrópole paulista, pode ser atribuída como algo que tenha origem neste grupo. Inúmeras outras experiências já tinham sido anteriormente desenvolvidas, inúmeros outros coletivos ou instituições realizaram projetos voltados para estas questões, com maior ou menor grau de sucesso. Sambistas e artistas preocupados com esta herança cultural também realizaram importantes obras, apresentações e intervenções as mais diversas. A novidade do Kolombolo foi tornar esta determinação uma bandeira permanente e norteadora de absolutamente todas as suas atividades. Confundida frequentemente por alguns como mero bairrismo, a determinação do coletivo reside em torno do fato de não se encontrar um único argumento, minimamente razoável, para que não se cantem nas rodas de samba da nossa cidade, os compositores que aqui produziram ou produzem suas obras. Composições que se encontram no mesmo nível de qualidade de quaisquer que sejam as referências em qualquer canto do Brasil. Composições que são reflexos diretos da convivência, quando não da sobrevivência, nesta bela e sofrida cidade. Composições que contam e refletem partes essenciais das nossas vidas, almas e identidades. Somente uma espécie de “colonialismo” cultural pode explicar porque não tratávamos com o mesmo carinho e deferência um Ideval Anselmo e um Cartola, um Geraldo Filme e um Paulo da Portela, um Talismã e um Nélson Cavaquinho, um Toniquinho Batuqueiro e um Wilson Moreira, para ficar apenas em breves exemplos. Porque cantavam-se uns e simplesmente silenciavam-se outros? E notem que não se pedia que um fosse preterido pelo outro, pedia-se apenas que ambos fossem cantados e lembrados como estrelas de uma mesma constelação. No entanto, como os pratos da balança insistiam em não se equilibrar, continuamos colocando todo o peso de nossa atuação ao lado do samba paulista, já que do outro lado, juntavam-se o histórico preconceito contra o samba de São Paulo, a força de uma mídia cultural que só valoriza o mero entretenimento em detrimento da arte e os estereótipos de um conceito de “brasilidade”, centrado num pseudopadrão “carioca”, completamente superado pela diversidade da realidade cultural brasileira. Certamente nossos esforços ainda exigem complementos, mas através destes 15 anos de insistência e resistência levando a bandeira do samba paulista, conseguimos sensibilizar muitas rodas de samba e movimentos culturais sambistas de São Paulo a incluírem com mais frequência em seus repertórios sambas de compositores paulistas. Também temos a honra de ter influenciado ou inspirado a criação de outros projetos permanentes de samba com ênfase na produção sambística local, seja vinculada à velha guarda seja às vanguardas do samba paulista, entre eles o Samba do Congo na Zona Norte e o Samba de Tempo na Zona Leste. Um lugar muito especial nesta área, ocupa a bateria Galo de Rinha de nosso Cordão Carnavalesco, comandada pelo Mestre Funk Buia e cujos ritimistas são integrantes natos da Torcida da Associação Atlética Ponte Preta do Jardim Leme, Zona Sul. Por outro lado, até mesmo quando somos criticados ou mal compreendidos na expressão de nossas ideias, conseguimos por via reversa, colocar o samba paulista como tema de um debate cada vez mais necessário. O carnaval de novo na rua A segunda contribuição do Kolombolo foi mais difícil de realizar. Simplesmente porque na mesma proporção em que o samba e o carnaval sempre tinham sido vistos como a antítese da “capital do trabalho”, as ruas tinham se tornado a antítese do conceito de espaço público, lugar que se tornou de uso exclusivo dos automóveis e do capital sobre rodas. Num país de forte matriz africana como o Brasil, a cultura popular sempre fez das ruas seu endereço e palco principal, mas na metrópole “que não pode parar”, ela foi expulsa das avenidas, largos e praças centrais. Frequentemente se ouve falar de que este ou aquele projeto cultural foi proibido; ou foi obrigado a se mudar de seu local de origem por “perturbação da tranquilidade”. Não surpreende afinal, que num país tão brutalmente racista e desigual como o nosso, a cultura seja vista como uma perigosa ferramenta de soberania popular. No caso do samba, a simbiose desenvolvida com o carnaval, fez com que as escolas associassem seus próprios nomes aos bairros de origem, de modo que se tornaram sinônimos tais como Nenê e Vila Matilde, Mocidade Alegre e Limão, Rosas de Ouro e Brasilândia, isto quando não se assumiam os nomes integralmente como por exemplo, Lavapés, Peruche e Morro da Casa Verde. Até mesmo antes das escolas de samba, durante a idade de ouro dos cordões carnavalescos, entre os anos 10 e 40, os desfiles do Camisa Verde e Vai-Vai, conheceram sempre um longo trajeto. Começando pelas ruas do bairro em que nasceram, Barra Funda e Bixiga respectivamente, estendiam-se ao longo de todo o centro da cidade num cortejo que durava horas e envolvia toda a população por onde passavam. Isto sem nos aprofundarmos muito na múltipla variedade de blocos, bandas, afoxés, sambas de bumbo, choros e grupos de regionais que faziam de São Paulo, um caleidoscópio artístico e musical nos dias em que o governante era Momo e a folia era a lei. Se voltássemos mais atrás na História desta cidade, que insiste em negar sua profunda parcela de negritude, encontraríamos as congadas, os moçambiques, os batuques, as festas das irmandades negras e os caiapós espalhados por todos os cantos da Pauliceia. O Kolombolo, devoto direto desta cultura afro-paulista, escolheu ser também um Cordão Carnavalesco, para justamente propor a reflexão sobre este passado e a necessidade urgente de voltarmos a ocupar as ruas massivamente nos dias de carnaval. Para jogar fora e bem longe a camada de opressão secular que nos roubou os espaços públicos e vetou a livre expressão da cultura popular. Obviamente não fomos os primeiros, nem os únicos a propor a recarnavalização das ruas, tantas são as organizações populares de cultura que resistiram em seus espaços e estão aí para nos ensinar como se sobrevive com dignidade na selva de pedra, sem apoio público, sem verbas e sem patrocínios. Mas o que o Kolombolo colocou como um princípio, ao lado de sua postura cultural em recolocar a formação de cordão carnavalesco no palco principal do carnaval, foi o compromisso político de reocupação das ruas como espaço de manifestação popular na cidade. Compromisso inseparável, inequívoco, inegociável e norteador de nossa atuação. Começamos pequenos, quase simbólicos. Como parceiros do Projeto Samba Autêntico frequentávamos habitualmente a então Rua do Samba, um projeto que floresce da usina de música, cultura e arte da Rua General Osório, a Loja Contemporânea, tocada durante tantos anos pelo saudoso Seu Miguel Fasanelli e seus bravos colaboradores. Os eventos na rua atingiam um ritmo vertiginoso quando ia se aproximando o carnaval de modo que foi quase uma decorrência natural que fizéssemos deste marco cultural de São Paulo, o local de nosso primeiro cortejo em 2007 quando cantamos a marcha-sambada “Esporão de Ouro”. No ano seguinte, tivemos a honra de desfilar pela primeira vez em nossa nova casa. Por onde passaram Acadêmicos, Tom Maior, Bloco Boca das Bruxas, Pérola Negra, Bando Sete e tantos outros grupos, talvez ainda anônimos. Um território histórico do samba paulista, muito antes de virar novela, e moda. A Vila Madalena. Impossível não lembrar que neste ano, trabalhando com nosso cordão irmão e parceiro de luta, a Confraria do Pasmado, realizamos um histórico encontro de estandartes em frente ao Sacolão da Vila. Neste ano a marcha-sambada foi “O Galo Pioneiro homenageia Dionísio Barbosa”. Seguiram-se outros cortejos, todos eles captados pela lente ao mesmo tempo, sensível e lisérgica, do fotógrafo e parceiro de todas as horas, Walter Antunes. O movimento ganhou adesões, parceiros, outros cordões, blocos, até que em maio de 2012 o movimento finalmente ganhou projeção à altura de sua importância. É lançado o Manifesto Carnavalista, plataforma de princípios de várias organizações populares carnavalescas que conduziu ao que hoje se tornou de fato, a recarnavalização das ruas da cidade. Claro que daí surgiram inúmeras outras questões como as relações com o poder público e com o poder do capital, hoje, infelizmente quase indistinguíveis. Um assunto que por si só daria um novo artigo. Seja como for se alguém tinha alguma dúvida...definitivamente e sem falsa modéstia, não viemos a passeio neste mundo. Com o axé de Nhô João de Camargo estamos cumprindo nossa missão. Somos da falange Plínio Marcos que nos guia em nossa inspiração maior: “Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre.” Max Christian Frauendorf Historiador pela FFLCH/USP, especialista em Gestão de Arquivos pelo IEB-USP, atualmente trabalha é responsável pela área de gestão documental da FAPESP. Foi coordenador de carnaval, jurado, instrutor de jurados, idealizador e coordenador do Centro de Documentação e Memória do Samba da UESP – União das Escolas de Samba Paulistanas. Ex-membro do Departamento Cultural do GRCSES Vai-Vai . É fundador do Kolombolo. www.kolombolo.org.br #Katawixi #MaxChristianFrauendorf #samba #sambapaulista #carnavalpaulista #carnavalderua

  • Todo Mundo Lê Lacan

    Sentados em gostosas cadeiras, sob a sombra da mangueira do quintal, Roselena e Walker Dante conversam sobre “o Sujeito” e chegam à conclusão de que todo mundo lê Lacan, principalmente o Seminário 11. A partir disso conversam: W.D. - A questão do Sujeito, que se pode depreender da extensão da leitura de Lacan sobre o Inconsciente freudiano, leva à consequência de se considerar a opinião linguística como base - tanto do Inconsciente quanto do Sujeito - como perfeitamente válida, porque o “Inconsciente é homólogo ao Sujeito”, seja o que for que isso signifique. O Inconsciente é como uma textura na paisagem psicológica do Sujeito. Não se adentra aqui pelas amplidões do “coletivo” junguiano; mas, no entanto, contudo, Lacan ama os símbolos e a leitura antropológica poética de Lévi-Strauss. Roselena - Não se pode desconsiderar também o horizonte kantiano do Lacan nessa ligação da Língua com o Sujeito. W.D. - Parece então que o Sujeito de Lacan é universal intrinsecamente, qualquer coisa é universal daí, tudo é universal, pois cada uma das coisas está fechada em si e pode também ser discernida em separado. Qual é a diferença disso com a ideia do Inconsciente coletivo? Em que essas duas teorias, a do indivíduo e a do coletivo, se opõem? O conceito de coletivo também parece garantir a universalidade. Ou não? Tanto um como outro elemento dessas teorias terapêuticas psicológicas em uso talvez sejam muito semelhantes quanto ao instrumental e fundamento linguísticos, o qual emergirá privilegiadamente no processo de análise ou psicanálise. Roselena - Então essa base, ou seja, o Sujeito, tão enfatizada teoricamente, deverá também ser identificada sobretudo ou, no ponto de partida, ao analista, ao terapeuta. Me parece uma incrível temeridade essa, de ocupar o lugar de analisador de alguém. O Sujeito analista se me afigura como o guardião da sala de espelhos. Na pior, melhor, ou única hipótese disponível, o paciente é aquela pessoa que precisa passar por uma vertigem de possibilidades de identificações. Mas e esse analisador… quem é ele? W.D. - Com essa evocação da imagem do labirinto de espelhos você me fez pensar no sentido do contraste entre os conceitos de “individual” e “coletivo”. Talvez uma diferença que se possa apontar entre as impressões teóricas de Freud e Jung nessa questão, é que o primeiro dá ênfase ao Sujeito individual como centro de um processo psíquico ou psicológico ou, na verdade, linguístico. E Jung enfocaria de uma certa forma especial as semelhanças entre os processos individuais compreendendo-os num espectro mais generalizado de traços psíquicos. Mas o interessante é que, instrumentalmente, o ponto de vista de Freud tem a aparência de estabelecer um ponto de partida metodológico mais “acessível”, ou seja, a individualidade visível, quiçá concreta, do indivíduo analisado. Nesse ponto concreto acessa-se uma linguagem e daí um “saber”. Em Jung, elementos heterogêneos à instrumentalidade circunscrita, tanto por essa espécie de concretude, quanto pela teoria advinda dela, podem entram em consideração. Ou essa visão sobre Jung seria irrelevante para uma comparação do legado desses sábios à nossa compreensão da dimensão psicológica? Roselena - Você está mudando de assunto. Vamos voltar ao tema inicial? Parece que a caracterização do Sujeito como o ponto para o qual também converge o conceito de Inconsciente, traz junto um agradável sabor de aceitação, que é a própria bondade do ato terapêutico. O Sujeito é essa paisagem, com suas montanhas e vales. Os significantes, as palavras, não são um jogo simples, com regras rígidas, mas sim partes de uma espécie de quebra-cabeça, o qual deverá ser montado sob a direção do analista. W.D. - Você me fez pensar agora no contrapeso da bondade terapêutica. O Sujeito, que é eixo da Língua Universal, como ele pode estar relacionado com a barbárie? Desculpe-me o salto tonal. Roselena - Vamos voltar novamente ao tema do começo? De alguma forma é bonita a emergência dessa singularidade do Sujeito freudiano do Lacan. O padrão dos significantes, da fala, das palavras, das expressões via verbo, vai sendo desvendado pelo analista tendo como centro esse falante Sujeito, esse paciente junto a ele. Cada uma dessas pessoas, o analista, o paciente… uma paisagem singular. Um dos pontos do problema proposto por Lacan está na tentativa de conjugar esse método da singularidade, esse princípio, esse ponto de partida, com um discurso teórico que obviamente generaliza e formaliza procedimentos, como qualquer outra teoria, e converte-se em mais um mapa do tesouro perdido por entre as mãos de todos nós, subconscientemente moralistas, éticos e analistas. W.D. - Parece que você acha que esses sábios estavam preocupados com alguma harmonia oculta, já que você acha que há uma forma, mesmo que difusa, de beleza, aqui. Então, no caso do analista ser artista, ele vai tentar buscar ou resgatar o Sujeito como se o Sujeito fosse a chave ou a peça que falta num quebra-cabeça de coerência harmônica por entre as formas dessa paisagem que é, pasme: o Sujeito! Leia o belo livro da Dra. Pankov relatando o tratamento dado a pacientes esquizofrênicos, utilizando técnicas de construção de discurso através de palavras também, mas sobretudo a partir de atividades de modelagem, pintura, desenho. Roselena - Eu acho sim, que essa abordagem da singularidade no Freud de Lacan nos lega um sabor de esperança quanto à dignidade que confere ao ser humano essa própria ideia de singularidade e unidade de sua personalidade ou de Sujeito que possa chamar de si ou a si. E ligando paradoxalmente essa teoria da singularidade com a teoria do Inconsciente coletivo que vemos, por exemplo, nos mapas psicológicos, observamos que a singularidade se comprova como um fato para o Sujeito. Exemplo: mesmo que, “tecnicamente”, as “estratégias” de propaganda e o sucesso de vetustos mapas de tipos universais de personas sejam amplamente utilizados e considerados eficazes, comprovando a vulgaridade das singularidades da paisagem psicológica de todos nós humanos, Lacan explica como no além da Língua - e aqui, no caso, incluindo a Tradição judaica, arcabouço freudiano, na Língua Mesma -, a singularidade se vela e revela no tradicional jogo cabalístico fundado no Deus Único, inominável e de mil nomes. Esse ponto fecha com o método da psicanálise, o qual se atualiza no encontro e, de novo, no qual a singularidade é também uma concretude, e jamais uma abstração, para Lacan. W.D. - Mas aí eu também poderia argumentar que nesse ponto junta-se o um ao múltiplo: o um do Deus Único, judaico, e o múltiplo da massa nebulosa, indeterminada, mas determinante e útil miríade de simbolismos culturais de todas as épocas e oportunidades, no nível da Explicação no estatuto científico, didático e formal do ensinamento sobre essas coisas. Roselena - Me parece que você está reduzindo a psicanálise a uma formalidade! Essa terapia psicanalítica, embora religiosamente pressuponha o Deus Único, não se pode dizer dela, de modo simplista, que tenha como meta obscura a conclusão do “inominável” como inefável verdade comparada ao verbalismo obsessivo do Modo Ocidental. O Caso da Paciência é muito ilustrativo: claro que, só quando “não se tem paciência” é que se pensa e se fala dela, mas quando se é ou se está na paciência, “nem se percebe sua existência”. A palavra é sempre o substituto do que não está ali, do que não se sente, mas se tem memória de que se sentiu. A estética chinesa ou japonesa dos escritos zen é minimalista e espontânea frente às paisagens estudadas e detalhadas do teatro das personas espalhadas da zona ocidental. W.D. - Agora foi você que fez uma digressão bastante descontextualizada. E vou me permitir complementá-la com outra: uma coisa interessante ocorre no campo da Teoria da Escolha (Livre Arbítrio). Onde estará a escolha do Sujeito, já que a pluralidade do quadro do Inconsciente está dada? Aí, parece que o autor e, conjuntamente, o autoritarismo do Deus Único, emerge em sua grandeza, como uma daquelas estátuas da Ilha de Páscoa emergindo de repente no meio de um… areal? Roselena - Tudo bem. Já que você foi tão longe, te desafio: se em outras teorias o humano é o universo, quem será erigido como rei do reino? W.D. - Vejo que as metáforas da profundidade e da extensão se impõem: profundidade do Inconsciente e extensão verbal. Na imaginação, essas duas abstrações se fundem em filmes, quadros, romances e sei lá que mais: livros de história. Roselena - Continua pairando a questão do Sujeito. Do ponto de vista pragmático: o Sujeito analista pressupõe, “sente”, a existência de um outro Sujeito, quiçá (e é desejável e saudável que assim seja) o paciente. A Dra. Ida Rolf* expressa isso bem. A prática da Dra. Rolf tem um imaginário firme, fixo, como base metodológica, que é a configuração anatômica dos músculos, ossos e fáscia. Mas esse imaginário tem um limite. O limite está, é óbvio, no outro. W.D. - Olha o Paredão! Roselena - As artes do espelho, do caleidoscópio, mandalas, danças circulares e rede de computadores são desse nosso tempo eterno da pedra, da Caverna! W.D. - Adiciono aqui mais uma digressão em nível de complemento cósmico à sua fala: ao debruçarmo-nos por entre esses reflexos, criamos todo nosso mundo, seu e meu, por entre todos os nascimentos e mortes, aparecimentos, desaparecimentos, deformações e consertos. Roselena - OK. Chega, vai! * Ida Rolf desenvolveu o “rolfing”, um método de cura para pessoas que sofrem de desorganização muscular imperceptível e não-óbvia, condição que contribui para conferir doenças físicas e psicológicas ao Sujeito. FEITIS, Rosemary. Ida Rolf fala. São Paulo: Summus, 1986. LACAN, Jacques. O Seminário, livro 11. Versão de M. D. Magno. Rio de Janeiro,: Zahar, 1979. PANCOW, Gisela. O Homem e sua Psicose. Campinas: Papirus, 1989. #Katawixi #filosofia #LuamaSocio #WalterAntunes #Inconsciente #Sujeito #Freud #psicanálise #Lacan

  • Estigma

    Uma borrasca de vidrilhos coloridos invadiu minha vida, ardendo fumaça embaçada nas retinas defumadas, fumando cigarro do vizinho sem ser fumante, aliso a aerostática de meu estômago. Olho meu estômago, estou magro. Corpo presente, alma ausente. Sinto-me como desembocaduras de olhares afoitos; um furor de riso, cabelos grávidos de experiência (velho). Cabelo granulado de granizo, lábios lavados no beijo, lavas de insepultas paixões. Molho o malar no esgar frente ao espelho, miro a medusa: - penso, me usa! Um torpedo uivaste invade a sala de meu pulmão, acendo a pálpebra de espanto, o septo nasal da fome do mundo me espanta, rastilhos de passos descalços. O lado nupcial de mim avisa que sou mole demais nas paixões, outros me taxam de leviandade e me vejo gordo demais; tatuada uma teia no seio, sou o teorema algébrico da ignorância. Uma tocha surdina me dá uma alfinetada ardida nas asas do vento. As cavidades de breu querem degustar a sílaba entre os lábios. Quero acender o fósforo para explodir o fogo. Pego a faca que cantou a dor do forte, faço germinar granizos no idioma de sol brilhante, vejo a urdidura do equilíbrio dos mundos, a vida inconclusa até na morte. Mendigo mergulhado na sarjeta, chuva nupcial de grãos de arroz. Insepultas esperanças nadando no cérebro, navalha ossuda na ponta do olho, pedregal linfático na película futurista de pirâmide moderna com luz solar nos subterrâneos. Cuspo labaredas no interior do pigmento de água. Crio a cápsula anil do silêncio, engulo a pílula sonífera no travesseiro. O cão uiva meu sono acordado, o vaga-lume veloz vasculha o vazio, uma voz viril de minha consciência enrosca cristais no rastilho de meus pensamentos. Vasilha vazia, barriga chia, pensamento dói. Neste teorema algébrico de confabulações, supõe-se a pena máxima de execução para o feitor do esforço redobrado. Quais não foram as emoções, derramadas em folhas vazias, preenchidas de sentimentos, quando se resolve derramar o que se tem dentro. Amanheceram as pálpebras umedecidas de quebranto, em pleno voo de sonho. Aventureiros do nada; afogados no âmago do desencanto, somos o protótipo do estereotipado do nada. Lanças disparadas de discos voadores nos injetam a fagulha de nossa fragilidade tecnocrata. Na multidão da areia do mar sou bancário. Ab aeterno sem chance de ser banqueiro. O abismo se entreabre as pernas deixando transparecer a renda do fundo do poço sem luz. O barulho da água no mundo invisível. Pego o ábaco e calculo no nada existindo. Não mar, não praias, não sol, não lua. A dúvida no meio da rua. O escuro nos dá um medo tragado pela ineficácia de sermos atados de poderes que transformam o nosso redor. Não possuímos o escudo que pique as balas como farinha; não temos embutido o segredo que dilacere o ódio das pessoas. Não eclodimos as pirâmides de nosso próprio orgulho. Somos escravos da impotência humana a nós próprios. Ineficientes no combate à fome; sequer possuímos os trigais que se vertem em pão. Os donos dos trigais colecionam dólares, usam viseiras contra o sol e se escondem na urbe sedentária e inóqua. Como se tudo isso não bastasse, estampado no atestado de nascimento o espaço para a data da morte. Burlamos todos os conhecimentos dessa verdade e nos orlamos de vaidade, presunção, arrogância. Donos da verdade, da justiça. A miopia da inércia incomoda nosso intento de sábios. Ávidos de clarividência, sequiosos de poder, ostensivamente engalfinhando-se no sono da insensatez. É mister se enquadre nesse universo de nossos pensamentos a gota salutar do otimismo. Para compreender a essência do aprendizado eterno. Para absorver a lição divina intermitente, para saborear o encanto destilado nas cascatas das cordilheiras. Para ser a sacarose adoçante do mau humor. Quero ser adubo em terra infértil, o propósito do inesperado, a agulha sísmica que recoloque o eixo da terra em seu grau perfeito de encaixe. Tenho um affair no afogadilho da esperança de anjo, embevecido dos ditames do encanto da vida, perfazendo a álgebra da criação sendo liquefeita em meu cerebelo, aceitando o sinal de pó na origem. Algures há um braço que me espera, que nos espera, querendo que nos abracemos, a nos dizer: vem filho, sua lição está ao final. Nas alturas do inconcebível, nas entranhas do incongruente, no limiar do intransponível as cabeças semióticas como a nossa. É magia a mais. Bolha de fagulhas espumantes de amor, carinho transbordante de sais purificadores, dedicação derretida em vasilhas ferventes de doação. Deus é essa energia flutuante que nos faz emergir de afogamentos afrodisíacos, de estrangulamentos ulcerosos em nossa moral, de dilúvios desastrosos em nossos mananciais explorados por preceitos banais de usura. As amplitudes de nossos vértices, a fogosidade de nossas vértebras, a antóptose do passado frurido, esse anuir em ser descendente do transcendente, conviver com a cápsula missionária da vida, passando a limpo os traumas inumeráveis e insondáveis pelo intelecto de nossa filosofia engolida por diapasão ilusionário de se gozar a vida pelas latrinas da torpeza. Doenças infiltradas em nossa inanição de coágulos, expandindo os meios de locomoção em seu contágio, os dentes de fome proliferando no mundo (aparentemente conhecidos seus limites). A carga geográfica da fotografia da violência. A radiografia do ódio mordendo a ranhura dos jornais. Borboletas formando o mosaico da biosfera que se gera automaticamente, se administra sem fórmulas senegalescas. O buraco na camada de ozônio buzina nos microscópios dos cientistas, abre a cratera de nossa galáxia, ameaça os estrondos dos meteoritos, traz o cataplasma para o câncer de pele, arranca o calor dos labirintos do centro da terra. Buraco negro no triângulo das Bermudas. Jeans. Gins. Licores de Baco. A cópula das árvores fluidifica flores. A criteriologia da verdade em falso, neurastênicos de íons deflagrados. A noite invadida por mariposas e cigarras. Dedilho o debulhar dessas angústias. Acordo e olho o quarto. Deglutino a ruminacão do paradeiro de meu intestino, por donde e como devo me conduzir no aqueduto de minha vazão. Fico perdido entre a decisão de comprar ou doar, do fazer indiferente ao agir consciente contra mim, dilapidar o patrimônio em troca da fome de outrem. Sou vaga-lume da sombra covarde de não me decidir pela janela da secularidade viável da propagação das humanidades, pelos pigmentos dos embriões da continuidade das faces históricas. A página a ser virada. Dilatadas as diligências do espaço, despidas as perguntas dos filósofos gregos, desertificadas as drágeas de hormônios, afastadas as unhas da ganância. O ecoturista na célula mater do pólen das pupilas do sonhador, a centopeia de Marte, anéis de Saturno, espadas de São Jorge. Existe um empacotador da virada do século vinte sempre a postos, as bandeirolas na esquina, em que se dobram os milhares de tempo. Estampilha divina. Voz do vento que assobia. A eugenia se faz espiritualmente, com formas definidas em planos superiores; não por força desconexa e trajetos forçados. A Escandinávia é passado. A faca derrete a febre do ouro. A garganta aumenta a força na gruta. Genuflexão. Aumento do respeito na crença. Quando nascemos possuímos um histerômetro na epiderme. Incubação de aves. Inundação da explosão natural das coisas. Os momentos certos advindos por mágica. A leveza de linhas líquidas. Saliva espumante do desejo curioso. Lufadas de perguntas escorrem por todo o cérebro, inundando de dúvidas. Jorra pensamento. Evaporam respostas. As moléculas perambulam nos íons. Os prótons. Os neutros. Músculos murmurando a jovialidade de outrora, hoje endurecidos na velhice. Muralhas de não-aceitação de novidades, najas proliferando magos da quiromancia. Nevascas de paranoias sondam os incrédulos; metralham de frases zombeteiras os fervorosos divulgadores das palavras dos profetas. O néctar do ser humano é a perseverança, o pisar nos escombros da imundície. Orifícios do corpo expelem invontades de aceitação. Pálpebras pesadas penetram na luz da noite. Estudam a palavra dos apóstolos, tiram películas dos manuais esotéricos. Quero perpetrar isso nos anais de mim. Tudo isso pulula em minhas veias, lateja na safena. É como se derrubasse um Partenon por dia. Relâmpagos abrem crateras nas montanhas. Sinto-me o tecelão de minhas têmporas brancas. A Ursa maior de meus tentáculos. Vasculho as cavidades do mistério. Por detrás da cortina uma verdade me espera. Para depois da morte. Têm certos dias em que amanheço sombrio. Hoje não. Estrangulo minha angústia em meu aniversário. Visto a vestimenta de gala. Carrego um estigma de alguma espaçonave-mãe. Sou porque devia ser. Edvaldo Jacomelli nasceu em Irapuã, interior de São Paulo, em 22 de Maio de 1955. É escritor, cronista e poeta. Também é formado em Matemática e foi funcionário da Caixa Econômica Federal. É autor de vários livros, entre eles, “Profecia louca”, 1980, “Manhãs Ensolaradas”, 2007, “Irapuã”, 2013, “Colégio.com.Alegria”, 2015. Edvaldo Jacomelli também tem contos e poemas publicados em muitas coletâneas, além de ter recebido vários prêmios literários ao longo se sua carreira. Em Junho deste ano participou da Feira do Livro em Lisboa. Contato com o autor e sua obra no link: www.facebook.com/edvaldo.jacomelli #Katawixi #EdvaldoJacomelli #Literatura #Estigma #conto #contobrasileiro #literaturabrasileiradoséculoXXI #Irapuã

  • Hernán Sansone e a iluminação das abstrações culturais

    Hernán Sansone desenha pensamentos abstratos. Ele faz essa coisa difícil, que é iluminar o recôndito obscuro do território longínquo, ignoto, da nossa mente. E daí, da mesma forma que saíam os monstros dos mares na época dos descobrimentos, emergem os seres estranhos, finamente traçados, qual mapas dessas lendas do abstracionismo mental. Hernán Sansone diseña pensamientos abstractos. Él hace esa cosa rara, que es iluminar ese recóndito obscuro del territorio lejano, ignoto, de nuestra mente. Y de ahí, de la misma forma que salían los monstruos de los mares en la época de los descubrimientos, emergen los seres extraños, finamente trazados, cuales mapas de esas leyendas del abstraccionismo mental. Caput et navis Os pensamentos, os pecados, as crenças, as religiões, as lutas, as misérias, as civilizações, o desejo, a morte… tudo isso se reflete nos desenhos que, por sua vez, nos fazem refletir. Vai nisso um fundo de ironia, exatidão e amargor artístico. Na série “A morte está viva”, em que Hernán faz releitura de Marcel Duchamp, utilizando outras técnicas além do desenho, este fundo fica bem demonstrado. Los pensamientos, los pecados, las creencias, las religiones, las luchas, las miserias, las civilizaciones, el deseo, la muerte ... todo eso se refleja en los dibujos que a su vez nos hacen reflexionar. En un fondo de ironía, exactitud y amargor artístico. En la serie "La muerte está viva", en que Hernán hace relectura de Marcel Duchamp, utilizando otras técnicas además del diseño, este fondo queda bien demostrado. Desobediencia debida Intrínseco Falemos um pouco sobre a “tensão emocional e volitiva da forma” presente nos dibujos de Hernán: ela nos conduz a percebermos o paradoxo da possível precisão figurativa justamente sobre aquela zona da nossa mente que normalmente mal tocamos com as palavras. Geralmente as figuras mais nitidamente definidas em nossa mente são usadas por nós no nível mais convencional, ligeiro, automático e superficial dos nossos pensamentos. E os desenhos de Hernán trazem monstros das profundezas à tona porque, ao compor o conceito, as formas sub-determinadas se encaixam de modo ao mesmo tempo tradicional, mítico e estranho. Sobre la "tensión emocional y volitiva de la forma" presente en los dibujos de Hérnan: nos conduce a percibir la paradoja de la posible precisión figurativa justamente de aquella zona de nuestra mente que normalmente apenas tocamos con las palabras. En general, las figuras más claramente definidas en nuestra mente son usadas por nosotros en el nivel más convencional, ligero, automático y superficial de nuestros pensamientos. Y los dibujos de Hernán traen monstruos de las profundidades a la superficie porque, al componer el concepto, las formas sub-determinadas se encajan de modo al mismo tiempo tradicional, mítico y extraño. Parábola Menguar No trânsito entre conceito e figura, promovido pelo artista, os desenhos se revestem de estátuas, objetos hieráticos, fragmentos de esculturas e bricolagem cultural. A Grécia, a Europa e a América do Sul, essas abstrações culturais, são evocadas por Hernán através de seus desenhos. Nessa nossa era das telas dos computadores, justamente os traços finos, limpos e precisos, pretos, de Hernán, sobre o fundo esbranquiçado de tais telas, proporcionam aquele efeito de “iluminação” para o Livro da Globalização ou da Transcendência Solidificada. Lembramos que a ilustração iluminadora nos acompanha culturalmente como uma maravilhosa e delicada Arte desde o Antigo Egito e as edições ilustradas de seu Livro dos Mortos. En el tránsito entre concepto y figura, promovido por el artista, los dibujos se revisten de estatuas, objetos hieráticos, fragmentos de esculturas y bricolaje cultural. Grecia, Europa y América del Sur, estas abstracciones culturales, son evocadas por Hérnan a través de sus dibujos. En nuestra era de “rede” de las computadoras, justamente los rasgos finos, limpios y precisos, negros, de Hernán, sobre el fondo blanquecino de las pantallas, proporcionan ese efecto de "iluminación" para el Libro de la Globalización o de la Trascendencia Endurecido. Recordamos que la ilustración iluminadora nos acompaña culturalmente como un maravilloso y delicado Arte desde el Antiguo Egipto y las ediciones ilustradas de su Libro de los muertos. Digo y me contradigo Muitos desenhos de Hernán Sansone são mostrados ao público sob o nome de sua personagem artística, “el Cíclope míope”, o qual explica, na apresentação de seu blog, o seu processo criativo com as seguintes palavras: “Ao meio-dia durante o almoço, nos 10 ou 15 minutos que a comida está atrasada, faço pequenos desenhos nos guardanapos, na toalha de mesa ou em qualquer papel encontrado lá”. Muchos dibujos de Hernán Sansone se muestran al público bajo el nombre de su personaje artístico, "Cíclope miope", que explica, en la presentación de su blog, su proceso creativo con las siguientes palabras: “Todos los mediodías durante el almuerzo , en los 10 o 15 minutos que se demora la comida, hago pequeños dibujos en las servilletas, en el mantel o en cualquier papel que encuentre por ahí”. Eclipse monetario Mas essa história de desenho de “hora de almoço” é apenas uma das histórias de Hernán. Uma outra bela história é seu livro artesanal “33 Revoluciones por Minuto” , em que desenha sua obra artística inspirado por 14 canções gravadas por Beatles, Violeta Parra, Sex Pistols, entre outros. “Cabeças de revolucionários políticos, criaturas fantásticas, animais, ícones pop e instrumentos de medição são intercalados com versos de Near the Revolution, Construction, Clandestine, Like A Rolling Stone ou La cucaracha”. O entrosamento dos desenhos de Hernán com a música também pode ser visto pelo percurso contrário no clipe para a música “La mitad del paisage”, do cantor, compositor e multiinstrumentista argentino Sergio Gobi. Pero esta historia de diseño de "hora de almuerzo" es sólo una de las historias de Hernán. Otra bella historia es su libro artesanal "33 Revoluciones por Minuto", en que dibuja su obra artística inspirado por 14 canciones grabadas por Beatles, Violeta Parra, Sex Pistols, entre otros. “Cabezas rodantes de revolucionarios políticos, criaturas fantásticas, animales, iconos del pop e instrumentos de medición se entremezclan con versos de Cerca de la revolución, Construcción, Clandestino, Like A Rolling Stone o La cucaracha”. El entramado de los dibujos de Hernán con la música también puede ser visto por el recorrido contrario en el clip para la canción "La mitad del paisage", del cantante, compositor y multiinstrumentista argentino Sergio Gobi. Objetividad Um trabalho recentíssimo de Hernán Sansone é a ilustração do próximo livro do escritor colombiano Ricardo Silva Romero, “Ficcionário”, que será lançado brevemente. Atualmente Hernán Sansone é diretor criativo das revistas Semana e Arcadia. Mora e trabalha em Bogotá, capital da Colômbia, desde 1996. Nasceu em 1967 em Buenos Aires, Argentina. Estudou Belas Artes em Prilidiano Pueyrredón e Design Gráfico na Universidade de Buenos Aires. Trabalhou como diretor de arte para as revistas Gatopardo, Mundo, Plano B e Larrivista. E fez várias exposições de sua arte em cidades como Buenos Aires, La Pampa, La Rioja, Córdoba, Mendoza, Havana, Montreal e Bogotá. Un trabajo reciente de Hernán Sansone es la ilustración del próximo libro del escritor colombiano Ricardo Silva Romero, "Ficcionario", que será lanzado brevemente. Actualmente Hernán Sansone es director creativo de las revistas Semana y Arcadia. Mora y trabaja en Bogotá, capital de Colombia, desde 1996. Nació en 1967 en Buenos Aires, Argentina. Estudió Bellas Artes en Prilidiano Pueyrredón y Diseño Gráfico en la Universidad de Buenos Aires. Trabajó como director de arte para las revistas Gatopardo, Mundo, Plan B y Larrivista. Y realizó varias exposiciones de su arte en ciudades como Buenos Aires, La Pampa, La Rioja, Córdoba, Mendoza, La Habana, Montreal y Bogotá. La divina distancia Enrolada Eufemismo Links: hernansansone.blogspot.com elciclopemiope.blogspot.com www.facebook.com/search/top/?q=hern%C3%A1n%20sansone www.instagram.com/elciclopemiope/?hl=en www.revistaarcadia.com www.zonadeobras.com/apuestas/2016/08/05/33-revoluciones-por-minuto-hernan-sansone/ www.youtube.com/watch?v=vZLinR5DDHA Foto: Álvaro Robledo #Katawixi #HernánSansone #Artesulamericana #Arteargentina #Artecolombiana #Ilustraçãocontemporânea #ElCiclopeMiope #LuamaSocio

  • Beleza e Arte são necessárias na Educação

    Em tempos em que a Beleza tem sido confundida com gosto pessoal - pois constata-se essa opinião em grande parte das pessoas que expressam suas opiniões educativas -, ou seja, em tempos em que a Beleza tem sido simplesmente esquecida… paira uma neblina espessa sobre a existência de sua forma privilegiada, justamente a Arte, a qual é, não obstante e oficialmente, uma necessidade no processo educativo. Relembrando a Beleza como uma coisa qualquer, boa e inteligente para a nossa vida, será que devemos dizer que o processo de Educação promovido pelos adultos poderia ser considerado, metaforicamente, algo belo? Por que não? Por que sim? A Beleza é importante e necessária porque é a expressão da subjetividade da personalidade. A Arte é um modo de representação privilegiado dessa expressão. Ao se fazer Arte, um Sujeito se mostra nisso, ou deveria se mostrar. O ensino da História da Arte é uma coisa bonita. Porém, necessário mesmo, em Educação, é fazer Arte como um modo de aprender sobre a Beleza. Mas não apenas a Beleza segundo regras estéticas e os fatos históricos de seus percursos técnicos, e sim a Beleza de acordo com os sentimentos, sensações e reflexões envolvidos pelos sujeitos do processo educativo. A Beleza como valor essencial não pode ser despertada apenas pela obediência a regras de Estética, ou pela análise de obras artísticas. Ela desperta junto com a auto-percepção da individualidade e personalidade. O Aluno se acha bonito. É difícil a emergência desse tipo de auto-percepção nas matérias tais como Matemática ou Biologia, em que o núcleo do aprendizado está na memorização de vocabulário específico e fórmulas de raciocínio simbólico. Porém na aula de Arte, justamente esse ponto da auto-percepção na estrutura da personalidade do aluno poderá ser estimulado. Em uma matéria como Álgebra, por exemplo, a rotina de ensino-aprendizado convencional convida o aluno a esquecer as impressões sensoriais e concentrar sua energia nas regras do jogo simbólico em nível mental em primeiro lugar. Em Educação Física, o aluno é conduzido a se esforçar fisicamente em primeiro lugar, relegando ao nível de ruído os setores emocionais e intelectuais da personalidade. É na aula de Arte que o aluno tem a chance de se aproximar com mais Liberdade da construção de sua própria personalidade. Aqui vai uma possível explicação sobre a necessidade e importância de se levar a sério os significados do conceito de Beleza na Educação: A palavra Beleza nomeia o objeto de representação, de uma espécie de processo de conhecimento, que vai da consciência da percepção dos sentidos, associando sentimentos e emoções que serão agregadas à caracterização de uma individualidade, a qual é o próprio aluno, ou seja, sua subjetividade, mediante uma prática estética. A ligação da Beleza e da Arte com a Liberdade de ser um indivíduo possuidor de caraterísticas únicas, está justamente nessa espécie de “canção da pessoa”, na relevância das peculiaridades singulares do indivíduo manifestando-se num objeto de representação da “glória” de sua existência. E a mesma medida de subjetividade do artista, contida na obra, se reflete e se completa na figura do sujeito-receptor da obra. Em sua obra filosófica Kant escreveu: “Para discernir se uma coisa é bela ou não, nós não relacionamos a representação a seu objeto, mediante o entendimento, para o conhecer, mas ao sujeito e ao sentimento de prazer ou desprazer que ele experimenta, mediante a imaginação, aliada, talvez, ao entendimento. O juízo de gosto não é, pois, um juízo de conhecimento; portanto, ele não é lógico, mas sim estético, entendendo-se por isto aquilo cujo fundamento determinante só pode ser subjetivo”. Ariano Suassuna explica: “A Beleza é, assim, não uma propriedade do objeto, mas uma certa construção que se realiza dentro do espírito do contemplado, uma certa harmonização de suas faculdades”. O grande filósofo, educador, cientista e místico, Rudolf Steiner, faz da Arte o centro das práticas de sua pedagogia. Para Paulo Freire, o próprio educador deve ser um artista, e a Educação, uma Arte. Ele diz: “o educador repinta, redibuja, redança o mundo”. Piaget nos faz ver a aproximação das sementes do que vemos como Beleza e Arte no desenvolvimento da criança em seu “brincar”. Sobre a questão da Liberdade… este “princípio” na Educação é tão antigo e controverso quanto Rousseau. Obviamente os adultos, ao imaginarem as consequências dessa Liberdade, talvez se aterrorizem, principalmente em tempos de intenso medo realizado em grande parte pelo condicionamento político-social das emoções coletivas promovido pela cultura de Estado nas bárbaras circunstâncias atuais. Mas o Professor consciente jamais se deixará assustar pela falta de bom-senso que existe na negação da Beleza, Arte e Liberdade nesse mundo. Obviamente não se deixará de lado o ensino sobre a existência dos movimentos e personalidades artísticas de todas as épocas e culturas que estão incluídos no cultivo da Arte através da História. O tempo passa e a Arte tantas vezes sobrevive ao artista. Como se deduz do tema da “subjetividade” associada à Beleza e à Arte, não é demais lembrar que conhecer obras de arte é como entrar no espaço interior da mente de outra pessoa, participar ou apenas contemplar um Outro, meio que a partir do lado de “dentro” da pessoa. Nesse sentido, a Arte funciona como uma espécie de elo vivo entre presente e passado. Porém o Professor que dá importância à Beleza e à Arte não vai se preocupar exclusivamente em familiarizar os alunos com padrões estéticos, ou contentar-se simplesmente em discorrer, nas aulas expositivas, sobre os padrões existentes. Ele vai proporcionar aulas que busquem tornar os alunos sensíveis e interessados em descobrir e construir harmonias estéticas de acordo com suas próprias percepções. A oportunidade para essas percepções e para a elaboração de objetos artísticos deve existir na escola, acompanhada de reflexão, comentários e discussões sobre tudo isso. Ser sensível à beleza é estar com os sentidos abertos. Por fim lembramos que, se a Arte, como instrumento da Educação institucionalizada, pode ser uma aliada preciosa na formação da criança e do jovem, estando explícito o seu valor inclusive nos manuais oficiais de orientação da política nacional para a Educação, a qual enfatiza a necessidade de se considerar como centro do processo educativo a promoção do protagonismo do aluno como pessoa, ela chega ao grau de instrumento terapêutico de acordo com uma certa visão de mundo da atualidade. Os filósofos contemporâneos Alain de Botton e John Armstrong dizem que a Arte tem valor e utilidade como instrumento terapêutico correlacionado a sete “fragilidades psicológicas”. Em muitos casos a Arte funciona como: 1. um corretivo da memória fraca; 2. um provedor de esperança; 3. uma fonte de dignidade para o sofrimento; 4. um agente de equilíbrio; 5. um guia para o autoconhecimento; 6. um guia para a ampliação da experiência; 7. um instrumento de recuperação da sensibilidade. Nesse ponto, parece que essa visão sobre a Arte tenta preencher, filosoficamente, o espaço da diferença entre as heranças platônicas e aristotélicas, as quais vão se definindo por entre conceitos de Beleza e Estética, transcendência e forma, como pano de fundo para as discussões a respeito da Beleza e da Arte como necessárias na Educação. SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Rio de Janeiro: José Olympio Editora:,2005. 7 Edição. BOTTON, Alain de. Arte como Terapia. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. #Katawixi #LuamaSocio #ArteEducação #FilosofiadaEducação #Estética #EnsinodeArte #Beleza #Arte #FotosdeWalterAntunes #Escola #Professor #Aluno #Educação

  • ATÉ A CHINA (EM SÃO PAULO)

    Exibição em São Paulo de Até a China, filme de Marcelo Marão Fui pra China só com bagagem de mão. Na China os motociclistas usam casaco ao contrário e os restaurantes servem cabeças de peixe, lagostins e enguias. A funcionária do evento estuda cinema e gosta de filmes de Kung Fu. Comprei pés de galinha embalados a vácuo. 27/08 - Domingo - 19:00 Centro Cultural São Paulo R. Vergueiro, 1000 31/08 - Quinta - 21:30 CineSESC R. Augusta, 2075 02/09 - Sábado - 15:00 Museu da Imagem e do Som Av. Europa, 158 www.kinoforum.org.br/curtas/2017/filme/52031/ate-a-china www.maraofilmes.com.br/ateachina

  • Eu S2 CG

    Qual o mundo em que nascemos? Qual o mundo que desejamos para nós? Com um gesto aparentemente simples e que está ao alcance de todos Wagner Pina utiliza um celular, a câmera de um celular, para revelar através de instantâneos uma cidade que ele não apenas vê, mas uma Campina Grande e um mundo que ele deseja que seja. Em tempos de selfies, auto-retratos, projeções da própria imagem, tempos de descompromissos e facilidades descartáveis, o artista utiliza o instrumento que está à mão de todos, não para meros registros, mas para encontrar a beleza das ruas, muitas vezes esquecida ou encoberta pela segurança dos vidros com filtro dos automóveis, pelos ambientes controlados que se espalham como shoppings, pelo comportamento cada vez mais ensimesmado das pessoas de uma sociedade que cada vez mais investe em vazios. Para se contrapor à mesmice com tecnologias utilizadas pela própria mesmice é necessário ter mais que apenas a vontade do artista. É preciso estar de olhos abertos de verdade, trabalhar, persistir na ideia, abrir-se ao novo sem preconceitos, inventar e se reinventar com o que se observa, misturar, mergulhar na nova história e se redescobrir. Isto tudo raras vezes se realiza, mesmo no mundo das artes, cada vez mais encalacrado na própria auto-imagem. Mas é exatamente o que Wagner Pina, artista e ser plural consegue em EU S2 CG. Aí retornamos... em qual mundo nascemos e qual mundo desejamos e incluímos nisto "o que fazemos" para que este mundo aconteça. Em sua declaração a Campina Grande, Wagner, como fotógrafo-artista e agente político, vai muito além de apenas revelar belezas não notadas aos olhos desatentos, ele traz as pessoas para o campo de ação de infinitas possibilidades da fotografia, da arte e da vida, basta a elas estarem de olhos e coração abertos. Este o mundo que o artista quer. Isso o que ele faz. Wagner Pina www.flickr.com/photos/wagnerpina foto de Wagner Pina foto Thercles Silva #fotografia #WagnerPina #CampinaGrande #Paraíba #novafotografia #Katawixi

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e produtos culturais, livres de vínculos institucionais, 
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