“Eu não vou na sua casa, pra você não ir na minha!” Brincando com a música cantada pela minha amiga Dona Selma do Coco que fala de visitantes inconvenientes, eu gostaria de cantar, digo falar: As pessoas na pseudo-global-aldeia estão mais do que nunca se fechando em seus mundinhos, todos constróem suas verdades, criam seus guetos e clubes, suas páginas na web, seus playlists, elegem seus universos, comunidades... O que é vendido como revolução não passa de blefe: todos os avanços tecnólogicos têm servido para as pessoas estarem mais distantes umas das outras, começando pelo controle remoto da garagem, que elimina a possibilidade da conversa com o vizinho: chega-se de carro e aciona-se a entrada direta do bunker, evitando o contato com o vizinho. Então muitas páginas depois, o punk não dialoga com o novo-punk, o rap da favela não conhece o samba.
E acaba que num mundo com tantas verdadezinhas pré-fabricadas inicia-se o descrédito na própria íntima-verdade e na verdade do outro. Vira regra o desrespeito por tudo que não se conhece. Não se pede aqui para ninguém viver a vida do outro, mas para se diminuir um pouquinho a altura do muro, para que se possa olhar e entender que do outro lado da rua, que no apartamento vizinho, na mesa de trabalho ao lado, que na outra mesa do restaurante, na fila do banco ou do teatro, existe vida e que esta vida é tão importante e bela quanto a vida dos olhos que estão agora olhando. Vida sendo vivida neste instante. Com os olhos verdadeiramente abertos, talvez se possa entender e apreciar tanta diversidade que explode e se recria a cada momento, por aí, nestas vidas Então tudo muda: eu vou na sua casa, pra você ir na minha!
texto do livro e exposição “interiores : diversidades”
de Fábio Takahashi e Walter Antunes