Um príncipe e uma princesa; um amor proibido entre esses filhos de dois reinos inimigos; em consequência, uma trágica guerra envolvendo os cinco reinos vizinhos é deflagrada; a tragédia é tão grande, que forças superiores, no intuito de deter o avanço da hecatombe, decidem transformar o príncipe e a princesa em lagartos que, por fim, são petrificados num quase-beijo, juntamente com todo o povo, animais e plantas de todos esses reinos, que perduram em suas poses em movimento “congeladas” em esculturas de pedra para todo o sempre. Esse é o resumo da lendária origem das Sete Cidades do Piauí.
Quem nos contou essa história, com todos os detalhes, foi o Osiel, o nosso anfitrião que nos levou a passear pelo parque das Sete Cidades. Ele nasceu naquelas terras - quando aquele território ainda não havia sido transformado em parque pelo governo - e depois de adulto, tornou-se guia dos visitantes. Essa história foi contada a ele por sua avó, que por sua vez a aprendeu de sua avó.
Logo percebemos que uma das riquezas das Sete Cidades é a quantidade de histórias sobre elas. O lugar é tão misterioso, encantador e mágico que, de acordo com Erich von Daniken, autor de um famoso livro, “Eram os deuses astronautas”, com teses ufológicas sobre a origem das civilizações humanas, as Sete Cidades são obra de seres extraterrestres de civilizações avançadíssimas em relação às dos terráqueos.
Osiel nos conta que frequentemente acompanha ufólogos e místicos em suas pesquisas naquela região. Uma teoria sobre a existência de um caminho, que chegou a ter vários trechos pavimentados, que vai das Sete Cidades até uma cidade Maia, no México, cruzando toda a América do Sul e, por conseguinte ligando duas antigas civilizações, complementa a tese ufologista, corroborada pela coincidência de algumas figuras, entre as pinturas rupestres antiquíssimas, encontradas nos dos dois lugares.
Em meio a lendas e teorias, Osiel, que tem uma mentalidade bastante científica, e se intitula “curiólogo” por profissão, nos conta que, do ponto de vista geológico, com base também na presença de fósseis, as formações rochosas do local indicam que há milhares de anos aquele lugar foi o fundo de um oceano, esculpido por correntes marítimas. Mais tarde passou a ser esculpido pelos ventos e em certo momento se transformou em território habitado por vários povos indígenas que se sucederam na região desde que existe a humanidade na América do Sul.
A área do parque para visitação pública tem cerca de 490 hectares, percorrida através de um trajeto principal de 12 quilômetros. Tem muita coisa para ver. Para aproveitar bem é necessário dispor de, no mínimo, dois dias. Chegamos num sábado à noite, nos hospedamos no hotel do parque e exploramos a região durante o domingo e a segunda-feira.
Ao acordarmos na primeira manhã, tomamos café na companhia de um alegre currupião amarelo e preto; um pouco mais afastados estavam o cupido, todo preto, e o cancão, preto e branco. Aqui os pássaros são atrevidos e se aproximam da gente sem cerimônia.
Começamos a nossa visita pela sexta e segunda cidades: pinturas rupestres representando lagartos, mãos com espirais e formas geométricas variadas; a vista é maravilhosa, as formações rochosas, todas, sem exceção, inusitadas; Osiel vai nos direcionando a imaginação apontando para formatos de elefantes, cachorros, bois, sapos, tartarugas, esfinges, cobras, jacarés… mas vemos também animais vivos. Há peixes num lago do parque, conhecemos o mocó, um ratinho típico do lugar, vemos também cotias, urubus, gaviões e calangos de vários tipos.
A vegetação é uma das coisas mais lindas e das mais diversificadas que eu já tive a oportunidade de ver nessa vida, nesse Brasil. Osiel sabe a propriedade medicinal e a utilidade da maioria das plantas que vamos encontrando pelo caminho. Enquanto vai falando sobre elas improvisa uma pulseira para mim, trançando um broto de tucum (uma palmeira local); nos mostra o pau-pombo, que além de ser útil na construção civil também é bom para o controle da diabetes, se tomarmos o chá das folhas três vezes ao dia durante 15 dias, alternando com mais 15 sem tomar. Mostra-nos o jacarandazinho, de cuja semente faz-se atualmente lindas jóias; o mesmo se dá com a resina do jatobá, usada por artesãos para moldarem figuras de bichos. Aqui há muitíssima carnaúba; algum babaçu; a árvore janaguba tem um látex que é bom para a coluna; o pau-terra tem uma flor de pétala única; a gameleira é majestosa, mas contribui para a destruição das formações rochosas; da azedinha se aproveitam as folhas, caules e frutos para curar indisposições do estômago (eu provei, é gostosa); a canoinha é uma fruta apreciada pelos papagaios e pelos artesãos; o pequizeiro é a árvore mais bela do mundo.
No segundo dia alugamos uma moto para visitarmos as cinco cidades restantes. Deparamo-nos com os três reis magos; com as imagens originais que inspiraram as estátuas da ilha de Páscoa; reis, rainhas, soldados, damas, castelos, cavalos; muitas outras plantas, incluindo o murici e a flor alaranjada da bromélia espinhosa que há por ali. Finalizamos o passeio tomando banho numa bela cachoeira.
Despedimo-nos de Osiel e, de noitinha, pegamos o ônibus para Piripiri para continuarmos a nossa viagem pelo Piauí, o estado brasileiro com o povo mais gentil do Brasil. Partimos pensando em voltar num futuro não muito distante para saborear melhor tudo o que experimentamos um tanto quanto rapidamente.
Fotos: Walter Antunes
fotos Walter Antunes
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