Aqui é Sampa, cumpadre, terra do bandeirante, Que largou sua família sozinha a pedir esmola, Foi ao sertão escravizar índio guarani e xavante, Saiu este paulista pra matar o negro quilombola.
Aqui é Sampa, cumpadre, território quatrocentão, Onde a riqueza brotou do sangue de Luanda, Neste lugar, para quem produz faltou até o pão, Para o barão do café exibir o terno na varanda.
É lugar único em que republicano é escravista, Onde a senzala fria foi armadilha para o italiano, Em que caiu também japonês, seguinte da lista, Porque a mais-valia funciona, esse é o plano.
Na terra de capitães do mato, agora há cidade, Onde um chicote canta sobre mulher e criança, A mão de 14 horas move a fábrica, a sociedade, Um Matarazzo, de fazer fortuna, nunca se cansa.
Porque cá o rico faz o que quer, não o que deve, Ergue suas mansões, cercadas de tanta pobreza, No governo assassina a mãe que aderiu à greve, O burguês mantém o privilégio, sua falsa realeza.
Aqui, todo suor humano está a serviço do capital, O corpo do trabalhador, explorado, é descartável, No excluído se põe a culpa pela falta e pelo mal, Diz a duquesa: "sem mérito, você é responsável".
Aqui é o lugar onde se cria a Oban, da Ditadura, Onde estudantes e operários apanham nus, Porque a elite do conde a democracia não atura, Os corpos da rebeldia vão apodrecer em Perus.
Esta, compadre é a terra linda, urbe mais bela, Cujos filhos enjeitados vão dormir ao ar da Lua, É onde bruta especulação bota fogo na favela, O presente do nobre é palácio, do povo é a rua.
Texto: Walter Falceta
Fotos: Walter Antunes