Nas imagens produzidas por Ivana Almeida não há referencialidade, mas tampouco uma abstração vazia. O sentido é dado pela geometria inexata em combinação com a sensação das texturas.
Há uma harmonização inusitada de elementos que são próprios da fotografia e que é propícia à fruição do meio digital.
Nas redes sociais, limpas de quaisquer arestas físicas, em que não há sobras de formas, essa fotografia da Ivana se imiscui como uma lembrança da realidade oculta mas nem por isso faltante.
Diferente de ver uma bela paisagem, que nos deleita pela evocação da amplitude, essa fotografia nos faz relembrar tudo aquilo que existe como necessidade, engrenagem, ligação, mas que está provisoriamente esquecido,relegado, imobilizado.
Recortes de superfícies mínimas, ordinariamente desprezadas.
Contraste entre texturas ou planos.
As formas sempre elementares, desconectadas de objetos, delineadas pela relação geométrica. E as coisas intensificadas, como uma ajuda, um realce aos outros elementos.
Madeira, metal e luz parecem ser os elementos preferidos na composição da imagem. Ali está a dureza, ou a possibilidade de uma aspereza. De qualquer forma, conceitualmente há essa “brincadeira” entre a evocação de uma sensação talvez incômoda ou desagradável, caso se entrasse em contato com o objeto fotografado, em contraste com sua irrelevância ou pequeneza.
Algumas imagens nem mesmo conduzem a objetos, são verticalidades de algum material plástico sujo ou limpo, sobre uma superfície enrugada, por exemplo. Cascas, pétalas, fios elétricos, fitas plásticas, fêixes, simetrias do inexato e do fragmentário, palimpsestos banais.
São formas de coisas que não foram feitas para serem vistas e que abruptamente emergem. Um cano mal tapado, fragmentos de raízes, buracos de tijolos faltantes numa parede, rachaduras, reentrâncias de folhas secas. Há uma exatidão na abordagem da beleza.
Embora saibamos que as imagens são recortes de objetos ou contextos mais amplos, nada falta à fotografia. O que vemos está sempre completo: uma beleza possível tanto quanto inesperada.
Há aqui um ver o oculto, como uma espécie de visão do investigador do inútil. Não há fantasia. E também não se trata de “detalhe”. São apenas limites criando imagens das ninharias, das irrelevâncias.
Sem recortar e mostrar o sulco do arame na madeira, os fios soltos de alguma armação sobre o fundo vermelho da parede, a ferrugem por baixo da tinta, o contraste entre a textura vegetal e o chapisco mineral, ninguém veria essas coisas.
Apesar de mostrar tudo isso. Apesar de destacar o irrelevante, nada sai de seu lugar. Não há outra transformação. Não há outra coisa a partir de outra coisa. Ivana não deforma, altera ou transforma, ela vê.
Ivana diz: “Minha fotografia é essa forma pictórica em relação com aspectos transitórios, efêmeros e de duração na contemporaneidade. Partindo de um levantamento de referências conceituais no campo da pintura e da fotografia proponho relacionar minha prática de imagens produzidas na ruas a obras de artistas como David Hockey, Georgia O’Keeffe, Mark Rothko, Francis Bacon”.
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