As práticas artísticas são essencialmente educativas porque constituem cultivo da expansão de habilidades do ser a partir do próprio corpo engajado numa vontade - cumprida ou rejeitada -, e consequente capacidade intelectual organizando a elaboração do projeto artístico.
Pelas retomadas, interrupções, distâncias e intenções renovadas, típicas de qualquer fazer artístico, estende-se a cultura de sensações e fazeres. Um mundo se forma, se sustenta e se defende. Na educação de crianças e jovens trata-se do estabelecimento de uma espécie de reino, em que a identidade do eu estabelece-se como um ponto de partida porque tem sido ponto de chegada em suas obras. Os exercícios estéticos são propícios ao jogo identitário na medida em que propõem as práticas e conceitos de repetição e diferença no escopo do método.
Nas atividades artísticas evidencia-a o aprendizado a respeito da própria percepção pelas movimentações entre as geometrias e sequências. É como se dá, basicamente, a aprendizagem na música, dança, ou na disposição espacial em desenho, modelagem, etc. Ocorre aqui, privilegiadamente, a movimentação do indivíduo no eixo espaço-tempo possibilitando a compreensão de suas próprias forças e habilidades dentro da cultura humana básica do corpo individual. Daí o indivíduo se expande para o grupo e depois para a sociedade em geral.
A exemplificação da ordem sucessiva é um importante critério estético. Ela é uma das etapas primitivas do método artístico. Em música e em cores exprime-se nas escalas cromáticas, por exemplo. O percorrimento variado, pela dança, escultura ou quaisquer outras artes, em escala planificada, é uma espécie de jogo, o qual constitui o próprio território criativo disposto para a realização da obra.
A ordem sucessiva, como conceito estrutural para todas as artes, possibilita a leitura da homologia entre as várias artes e a ampliação criativa da expressão em qualquer uma delas. Nesse sentido, por exemplo, a dança é obviamente uma escrita. Mas mais que isso, ela pode ser uma aceleração, uma condensação. Na dança da colheita de maçãs, por exemplo, os movimentos são geometrizados (aqui entra a habilidade do desenho) e, para quem a vê, magicamente não se evidenciam as relação entre o corpo e as maçãs porque estas estariam invisíveis, embora elas se expressem e sejam compreendidas. Isso ocorre porque a estrutura do método que possibilita a expressão do ser como arte é tão harmônica e verdadeira, que torna possível o espetáculo. Aceleração, condensação, geometrização, repetição, enfim, organização do movimento, ao se realizarem na arte, comunicam-se como ser no mundo.
Desse ponto de vista a estética é um fator, em si, acelerador da sensação do tempo de vida partilhado por todos. Uma imagem condensa um dia, um momento. E esse objeto-imagem, que é mais duradouro do que o próprio momento, faz com que sonhemos uma vida duradoura, estetizada e, portanto, urgente, porque os momentos do sentimento interno de si sobrevoam, atrasados, a contextura dos objetos estéticos tão sobrecarregados de significados e se colocam em relação com o outro. É assim que a arte amadurece a vida. E preparar o amadurecimento é um dos motivos da educação.
Pela prática de uma técnica artística também se aprende a necessidade da espera durante o trabalho em direção a um resultado desejado. Trata-se de um processo que possibilita, entre outras coisas, aprender internamente a identificar a sensação de regulagem entre sentimento, intelecto e vontade. A percepção da dimensão interna nesses níveis é análoga à compreensão das escalas. Apossar-se desse tipo de realização psicológica é um fator desejável no desenvolvimento de uma personalidade. A dimensão psicológica impulsionada por um projeto e sua consecução expande o sentimento de um ser, ou centro do sentimento de ser. Essa centralidade, ou unidade, é fator de equilíbrio na dinâmica existencial e constitui, ela própria, uma obra.
Um aspecto importante na cultura da educação pelas artes é observar a singularidade de cada ser na interação com a técnica e o instrumento. Aqui, a relação de cada pessoa com sua arte é única. As regras estéticas são ao mesmo tempo provisórias e definitivas. Provisórias porque a adequação na utilização é sempre imperfeita, e definitivas porque voltam incessantemente a ser repetidas culturalmente.
Porém a rigidez quanto à fixação das ordens possíveis dos desenvolvimentos educativos equivale a uma rigidez estética no resultado artístico. O aprendizado consiste na cultura do desenvolvimento de capacidades. Esse é o básico do método em educação. Mas obviamente não há metodologias definitivas, por isso o educador sabe que sempre estará em jogo, na existência do desenvolvimento de seu trabalho, alguma causa, denominada método, se este for conscientizado.
E então o que é ser consciente neste caso? Significa poder? Ou é possível ser consciente sem poder? As duas coisas devem se complementar aqui. O método existe na esfera do poder, da regra para o direcionamento, comunicação e convivência, mas no âmbito da consciência sem poder, que deve também existir, o educador duvida do método, entra em confluência com a atitude contemplativa e vislumbra um ser humano exato, justo e pleno em sua própria liberdade, e aí abandona qualquer método. Porém sempre volta a ele, porque em sua posição, seu papel é proteger os desenvolvimentos a partir de um fazer e em tantas outras vezes sua necessidade é direcionar alunos, classes.
A esse tipo de ideia educativa há a crítica da insuficiência. Obviamente outros tipos de desenvolvimentos são efetivamente necessários a uma educação completa. Unilateralidades no contexto educativo resultam no incentivo à formação de personalidades egoístas e inflexíveis, as quais terão como consequência as várias dificuldades de se adaptarem a novas circunstâncias de vida. A prevenção para isso é uma educação que cultive a capacidade de maleabilidade na experimentação da harmonização entre as partes e ritmos do ser.
A dimensão do aprender é inesgotável porque, enfim, aprender significa ir com o outro. Entregar-se a outros limites que não os próprios. Nesse caso, o outro, se expressa pelas práticas da arte. Pelo lado das reflexões sobre a opressão, isso poderia ser considerado elemento de deformação, mas pelo lado das reflexões a respeito dos desafios às potencialidades realmente existentes no ser humano, aprender é um constante estímulo à vitalidade. É daí que surge a figura do educador ou professor.
Com alguém ensinando, estimulando, vai-se mais longe no desenvolvimento de algo, de um ser, de um fazer. Mas o professor também segue aprendendo. Do momento em que ele encontra o aluno, ele passa a aprender com ele. Com os limites do aluno, o professor aprende os limites do método e assim cria alternativas e soluciona enigmas em favor do desenvolvimento do aluno. Para esse professor, educar é uma arte. Esse professor ou educador é artista, e seu aluno também. Os dois amadurecem juntos, realizando a obra da criação.