Caminhar pela Cidade de Goiás é principalmente sentir-se na terra de Cora Coralina. A antiga capital do estado de Goiás é uma cidade ainda preservada em várias construções históricas, porém o espírito de Cora, sempre vivo, domina a paisagem desde sua casa (essa à esquerda, na primeira foto), transformada em museu, até as atividades econômicas. Muito doce feito com as receitas da poeta é feito por ali e vendido nas ruas e lojas.
É na Cidade de Goiás que vemos melhor o enorme significado da força da poesia que transforma a mulher humilde, antes confinada pelas paredes domésticas, expandindo-se pela cidade e pelo mundo. No poema “Aninha e suas pedras”, Cora, nascida Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas em 1889, deixara escrito seu método poético e prático refletido agora na paisagem:
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
Na casa onde Cora passou a infância e depois a velhice, agora funciona um museu, onde o visitante entra em contato com o ambiente em que ela viveu os últimos anos de sua vida. Quem visita o local tem a impressão de que Cora ainda está viva. Que ela saiu um pouco e que volta já. Na cozinha, o lugar em que Cora mais ficava, a gente vê as panelas e o fogão prontos para funcionar; no escritório, seus óculos, sua máquina de escrever, seus livros; no jardim suas flores.
Nas “Considerações de Aninha” a poeta já falava da sobrevida das criações a partir do criador:
Melhor do que a criatura
fez o criador a criação.
A criatura é limitada.
O tempo, o espaço,
normas e costumes.
Erros e acertos.
A criação é ilimitada. Excede o tempo e o meio. Projeta-se no Cosmos.
Passeando pelas ruas da cidade visita-se as históricas e belíssimas igrejas Nossa Senhora do Rosário, Igreja da Boa Morte e Nossa Senhora D’Abadia. Sobe-se os 100 degraus para visitar a Igreja de Santa Bárbara. Caminha-se pela Rua Abadia. Visita-se o Palácio Conde dos Arcos, o Museu de Arte Sacra e o Museu das Bandeiras. Curte-se a Praça do Chafariz e a Praça do Coreto.
Sobre a paisagem desse passeio feito pelas antigas ruas da cidade fundada no século 18, na época da mineração de ouro nos territórios dos extintos índios goiases, Cora escreve em “Minha cidade":
Goiás, minha cidade...
Eu sou aquela amorosa
de tuas ruas estreitas,
curtas,
indecisas,
entrando,
saindo
uma das outras.
Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.
Eu sou a dureza desses morros
revestidos,
enflorados,
lascados a machado,
lanhados, lacerados.
Queimados pelo fogo
Pastados
Calcinados
e renascidos.
Minha vida,
meus sentidos,
minha estética,
todas as vibrações
de minha sensibilidade de mulher,
têm, aqui, suas raízes.
Cora Coralina é a personalidade mais ilustre da Cidade de Goiás. A poeta passou a ser admirada por todo o Brasil depois de ter sido reconhecida como uma grande escritora por Carlos Drummond de Andrade. Seu primeiro livro, “Poemas dos Becos de Goiás”, publicado em 1965, foi lançado quando Cora já tinha 75 anos de idade e a consagrou como uma das maiores poetas da língua portuguesa do século XX.
Muitas pousadas, restaurantes, bistrôs e o Mercado Municipal garantem uma ótima infra-estrutura ao turista. Além dos doces, a comida típica do lugar é o “empadão goiano”, recheado de frango, carne de porco, linguiça, guariroba e queijo. E para além da cidade há cachoeiras e rotas que levam às maravilhas naturais dos outros municípios da região.
Cora Coralina em sua janela