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Foto do escritorKatawixi

A hidrovia do fim do mundo



Mais de 50 organizações se opõem a projeto da Hidrovia Araguaia-Tocantins

Com eventos climáticos extremos mais frequentes, modificação de bacias pode resultar em graves impactos socioambientais e desperdício de recursos públicos bilionários.


Indicando uma série de ilegalidades, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação que pede a anulação do licenciamento concedido para a construção de trecho de hidrovia no Pará. A iniciativa foi endossada por pesquisadores em Audiência Pública na quarta-feira, 28 de novembro, realizada pela Comissão de Meio Ambiente do Senado.


O projeto denominado “Dragagem e Derrocagem da Via Navegável do Rio Tocantins” é uma nova tentativa de viabilizar a Hidrovia Araguaia-Tocantins e acende alerta para organizações em toda a extensão dos rios, que perpassam Pará, Tocantins e Goiás. Mais de 50 organizações da sociedade civil se manifestaram.


O projeto, organizado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), busca facilitar o escoamento de commodities agrícolas e minerais, mas envolve intervenções significativas no leito do rio Tocantins e, conforme ação do MPF, faltou ser realizada consulta prévia, livre e informada às comunidades que devem ser impactadas, e não houve a demonstração de viabilidade da obra.


As intervenções incluem a retirada de bancos de areia (dragagem) e de afloramentos rochosos (derrocagem) ao longo de 560 km, criando um canal de navegação para grandes embarcações e comboios de barcaças.


Artifícios ilegais

No entanto, para avançar com o empreendimento, foram adotados artifícios ilegais e sem embasamento técnico que reduziram artificialmente as “áreas de influência” do projeto.


Inicialmente, o empreendimento licenciado era a Hidrovia, mas após mudança de entendimento institucional, a avaliação de impactos ambientais foi restrita apenas às obras propostas, como um fatiamento das licenças ambientais, desconsiderando as consequências da hidrovia como um todo.


Além disso, foram adotados critérios artificiais para o cálculo de abrangência de impactos diretos e indiretos (3 km em caso de comunidades ribeirinhas e 10 km no caso de comunidades indígenas e quilombolas), o que exclui diversas comunidades que realizam atividades tradicionais de pesca e navegação na região.


“O resultado prático de uma avaliação incompleta é a precarização da vida e o empobrecimento das comunidades ribeirinhas. Portanto, a classificação como atividade não impactante jamais poderia ter sido adotada como premissa, pois carece de embasamento técnico e desconsidera a relação inextrincável entre a obra e o aumento do trânsito de embarcações”, explica o Ministério Público Federal na referida ação.


Destruição da vida e do futuro

Os impactos potenciais deste empreendimento são alarmantes e abrangem diferentes aspectos. O canal de navegação pode provocar erosão das margens e ilhas, alterar a força, velocidade e direção das correntes, contaminar a água por efluentes e outros danos à qualidade da água.


A dragagem e a derrocagem podem afugentar e perturbar o comportamento da ictiofauna, dificultar a recuperação dos estoques pesqueiros (região de lagos, lagoas e berçários naturais) e introduzir espécies exóticas no ecossistema.


As mudanças nas rotas de navegação e locais de pesca, somadas ao aumento do esforço pesqueiro, podem reduzir a lucratividade da atividade, vindo a comprometer toda a cadeia produtiva da pesca.


A pesca artesanal, amadora e o Turismo da Pesca Esportiva no rio Araguaia e Tocantins são as atividades econômicas mais importantes na região, e qualquer impacto terá repercussões graves sobre a segurança alimentar e nutricional dessas comunidades. A perda e alteração do habitat aquático e a diminuição da atividade pesqueira são consequências esperadas, com magnitude e relevância elevadas.


No mais, diante das mudanças do clima, conforme as previsões de crise hídrica, a navegabilidade do Rio Tocantins pode ser seriamente comprometida, tornando o investimento, que é bilionário, um desperdício de recursos públicos, com os custos recaindo sobre a sociedade e o meio ambiente.


Diante dessa situação, organizações com atuação nos três estados afetados iniciaram mobilização para discutir e divulgar os perigos que esse empreendimento representa, se opondo à continuidade da obra sem os devidos estudos, consultas e licenças que levem em consideração a amplitude dos impactos socioambientais.


Desta forma, assinam este posicionamento as seguintes organizações:


  1. A Vida no Cerrado - AVINC

  2. Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins - APA-TO

  3. Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins - ARPIT

  4. Articulação Tocantinense de Agroecologia - ATA

  5. Associação Alternativa Terrazul

  6. Associação Brasileira de Antropologia - ABA

  7. Associação da Comunidade Ribeirinha Extrativista Vila Tauiry - ACREVITA

  8. Associação de Amigos do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros - AVE

  9. Associação de Jovens Engajamundo

  10. Associação Indígena Apinajé PYKA MEX

  11. Associação Onça D’água - Tocantins

  12. Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente - ARCA

  13. Associação União das Aldeias Apinajé - PEMPXÀ

  14. Associação Wyty Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins

  15. Cáritas Brasileira Regional Norte 2

  16. Centro de Direitos Humanos de Cristalândia Dom Heriberto Hermes - CDHC

  17. Centro de Trabalho Indigenista - CTI

  18. Coalizão Pelos Rios

  19. Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática

  20. Coletivo Goiás Lixo Zero

  21. Coletivo Ideias Urbanas

  22. Colônia de Pescadores de Araguacema - Copesca Z-5

  23. Comissão Pastoral da Terra - Araguaia-Tocantins

  24. Comissão Pastoral da Terra - CPT Pará

  25. Comitê de Defesa da Vida Amazônica na bacia do rio Madeira - COMVIDA

  26. Conselho Indigenista Missionário regional Goiás-Tocantins

  27. Cooperativa de Trabalho de Catadores de Material Reciclável de Bela Vista de Goiás

  28. Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB

  29. FASE Amazônia

  30. Fórum de Defesa das Águas do DF

  31. Instituto Aldeias

  32. Instituto Altair Sales

  33. Instituto de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental - IDESA

  34. Instituto EcomAmor

  35. Instituto Madeira Vivo - IMV

  36. Instituto Plantadores de Água

  37. Instituto Pouso Alto

  38. Instituto Santa Dica

  39. Instituto Sociedade, População e Natureza - ISPN

  40. Instituto Zé Claudio e Maria

  41. International Rivers

  42. Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB

  43. Movimento Estadual de Direitos Humanos e Ambientais do Tocantins

  44. Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu - MIQCB

  45. Movimento Sos Cerrado

  46. Movimento SOS Chapada dos Veadeiros

  47. Museu da Águas Brasileiras

  48. Núcleo Rondônia do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental

  49. Observatório de Conflitos Socioambientais do Matopiba

  50. Observatório de Políticas Socioambientais de Goiás

  51. Preserva Serrinha

  52. Rede Cerrado

  53. Rede Jandyras

  54. Rede Pouso Alto Agroecologia

  55. Sociedade Ecológica Porto das Antas

  56. SOS RIO Piracanjuba

  57. Territórios Globais - TG




Foto Rio Araguaia por Walter Antunes


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