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Foto do escritorFelippe Pipeta

Achados e Perdidos do Ska!


Durante certa pausa da música pelos palcos aproveitei pra pesquisar e estudar mais sobre a história da origem do ska. Fazia tempo que queria dar uma atenção para a história e não só escutar, coisa que faço muito.

Sempre fui muito curioso em relação ao período que antecede o ska, antes dos anos 50 até chegar na batida. Como de fato chegaram ao ritmo? As explicações são sempre muito resumidas e com poucos detalhes do período pré-ska, pelo menos para mim.

Bastante gente pesquisou dos anos 2000 pra cá e a internet pra isso é maravilhosa. Ter acesso a artigos, matérias, estudos de universidades e muita música.

Lembro de ir nos primeiros festivais do Bourbon Street, quando ainda ocorriam lá na rua, na Alameda dos Chanés, e via as bandas de New Orleans tocando zydeco, rhythm and blues e algumas músicas com a base no contra-tempo (off beat).

Sempre me perguntei por que aqueles músicos americanos estavam tocando a base no contra-tempo, igual os jamaicanos tocam. Os jamaicanos os influenciaram ou foi o contrário? Quase a mesma pergunta me fiz sobre bandas klezmer de música judaica, e ainda algumas músicas eruditas europeias do passado com passagens no contra-tempo. A música é universal, claro, coincidências acontecem, mas muitas também têm uma explicação.

Escutando muita música, lendo artigos, matérias e até uma tese genial do estudioso Paul Kaupilla, que me esclareceu muita coisa, segue aqui um resumo desses meus estudos. A história de como o ska, a batida, o ritmo nasceu é sabida, ou melhor: as muitas histórias. Foram vários os fatores que levaram até chegar à batida do ska. Muita gente e caminhos levaram à origem da música jamaicana. Mas eu nunca soube dos detalhes, olhando de fora e longe dessa época é fácil intuir muita coisa, mas vou tentar destrinchar um pouco.

Sabemos que o ska é a mistura do mento, do calypso caribenho, com o jazz e o rhythm and blues americano, diga-se de passagem, esses dois ritmos caribenhos são misturas de ritmos africanos com melodias europeias vindas dos colonizadores.



A Jamaica foi colonizada por espanhóis e ingleses. A clássica história é que a ilha da Jamaica, por ser perto dos Estados Unidos, sintonizava as rádios americanas e os músicos tentavam reproduzir os sucessos americanos. Misturado à forte cultura local do calypso e do mento, surge o ska. Tá, mas e aí, como isso aconteceu? Não foi da noite pro dia!

A Jamaica, assim como muitas ilhas no Caribe, teve como primeiros colonizadores, os espanhóis, que dizimaram todo o povo nativo, os indígenas Taino e Arawak. Eles chamavam a ilha de Xaymaca (terra da madeira ou da água). Após a guerra, em meados de 1600, a colônia virou inglesa e muitos escravos continuaram a ser levados pra ilha formando uma “nova sociedade” Jamaicana.


Música dos escravos americanos de New Orleans e Jamaicanos Nos Estados Unidos proibiram os escravizados de cantar e tocar seus tambores, exceto em New Orleans, onde os escravizados tiveram menos restrições às suas músicas (pelo menos por um período). Aos fins de semana era permitido batucar e cantar na famosa Congo Square, e isso explica por que New Orleans é o berço do jazz.

A proximidade geográfica de New Orleans com a Jamaica também coincide com o fato dos escravizados da Jamaica poderem cantar e tocar mantendo sua tradição musical vinda da África. Os donos das plantações acreditavam que eles "rendiam mais" com a música.

A batida burru, vinda do oeste da África mais tarde, deu origem à música de culto rastafari e ainda foi levada ao ska por Count Ossie e Loyd Knibb, figuras importantíssimas na criação do ska.

Esse pode ser considerado um primeiro ponto comum, entre a Jamaica e New Orleans, que mais tarde, nos anos 50, também teriam em comum o contra-tempo (offbeat ou afterbeat), em suas músicas.

Anos 40 e 50: Big Band (jazz, rumba, merengue, cha-cha-chá e rhythm and blues) Não se fala muito do período antes do ska. Fala-se do calypso e do mento, mas nos anos 40 e 50 haviam Big Bands e combos que tocavam jazz, merengue, rumba e uma série de outros ritmos caribenhos. Um adendo para a formação dessas Big Bands, elas não eram numerosas como as americanas. Tinham um formato mais reduzido, o que baixava o custo e facilitava toda a logística de trabalho por ter menos pessoas.

Baba Motta, The Val Benett Orchestra, Sonny Bradshaw 7, são algumas dessas orquestras ou Big Bands, mas a The Eric Deans Orchestra foi sem dúvida a mais importante delas, e estou falando de pelo menos vinte anos antes do ska.

Esse músico multi-instrumentista tem um papel muito importante na história da música jamaicana. Não se fala muito dele, por haver pouco registro, mas é um forte pilar da construção e do desenvolvimento da música jamaicana. Muito do que aconteceu nessa fase pelas mãos do Eric teve reflexo na origem do ska. Merece todo o reconhecimento da sua importância.


Alpha Boys School Pra quem não sabe, na Jamaica, muitos músicos saíram da Alpha Boys School, um orfanato que por conta de uma freira "guerreira", sim uma freira, a "Sister Ignacious", que incentivou o programa de música da escola e com isso formou alguns dos principais músicos da história da música jamaicana, tais como: Lester Sterling, Johnny "Dizzy" Moore, Tommy MacCook, Don Drummond, Rico Rodrigues, Yellow Man, Vim Gordon e muitos outros.

Eric Deans foi professor de música na Alpha Boys, um grande incentivador, que inclusive formou a primeira banda só de mulheres na Jamaica. E eu nunca soube disso e achei uma foto!



A importância da Alpha Boys, da Sister Ignacious, e Eric Voltando à história da The Eric Deans Orchestra. Alguns desses músicos que citei que tocaram na orquestra do Eric, saíram da Alpha Boys. O genial trombonista Don Drummond foi um deles. Tocavam uma série de ritmos, merengue, calypso, mento, rumba e o jazz.

Então temos um bom ponto de partida. De fato uma orquestra tocando todos esses ritmos foi começando a fermentar ideias na cabeças dos músicos que ali tocavam. E se lá atrás nos Estados Unidos os escravizados cantaram e tocaram seus tambores criando sua nova música, os jamaicanos aqui em 1940 dão o início à fusão escancarada da música americana (o jazz) com ritmos caribenhos.

Olha onde começa isso!!

Não é só lá no fim dos anos 50, como muito se fala. Tudo bem, no fim dos anos 50 para os 60, foi o auge, a transição mesmo, mas foi um processo longo até chegar à batida do ska. A Jamaica é uma pequena ilha no Caribe, porém por ser ilha e muito perto de outras ilhas, sempre esteve muito aberta, sempre circulando muita gente. Muitos dos músicos que citei nasceram em Cuba (Rico Rodrigues, Roland Alphonso, Tommy MacCook).

Com todo esse movimento a orquestra de Eric começa a fazer sucesso e a excursionar pelos Estados Unidos, Inglaterra e Caribe. Após uma excursão no Haiti, Eric Deans volta para a Jamaica como o rei do merengue, tocando em hotéis como o famoso Colonel Club. Porém, no fim dos anos 50 a orquestra acaba, seus músicos já famosos começam a atuar nos estúdios que começam a ser montados na Jamaica, gravações começam a pipocar e com isso começa a fase do pré-ska ou “early ska”.

Vejam a importância desse momento na história da música jamaicana, quase o Skatalites inteiro já estava ali no começo, participando de uma orquestra, aprendendo e tocando esses ritmos todos, incluindo Lloyd Knibb, o futuro baterista dos Skatalites. Esses ritmos fazem parte da base do que viria a ser o primeiro ritmo genuinamente jamaicano, o ska.

Encerrada essa etapa, em que foi dado o ponta-pé inicial de ritmos caribenhos com o jazz americano, a gente entra num outro estágio que é o rhythm and blues americano que dá origem ao rhythm and blues jamaicano.

O rhythm & blues e o sound system O R&B na Jamaica se mistura muito com a origem do sound system jamaicano. Sound system eram sistemas de som, com caixas e toca discos, que foram se popularizando por serem mais baratos para os promotores de baile. Ao invés de pagar mais caro por uma orquestra que tem muitos músicos, um dj resolveria tudo e ainda não há o intervalo de descanso que as orquestras faziam e deixavam a pista esfriar, levando o público embora para o próximo baile. Além disso esses bailes eram ao ar livre, mais acessíveis e baratos para o público que era muito pobre.

Aqui começa um outro importante ponto, os donos de sound system. Isso daria uma série de tv fantástica com todas as confusões e a indústria musical que se forma a partir do sound system. Quando digo indústria isso vai além da música jamaicana, chega ao rap e à música eletrônica.

O sound system e seus donos foram outro pilar importante em toda a produção e distribuição da música jamaicana. Com o passar dos anos os donos viraram produtores, gravando seus próprios artistas. Pra citar alguns nomes principais: Duke Reid e Sir Coxsone Dodd.

Mas um pouco antes de chegarem nessa fase de produzir, eles tinham que comprar discos de orquestras e de artistas de R&B americano, lembrem-se que isso é nos anos 50, onde não se tinha toda a facilidade de hoje. Era roots o lance todo, vencia quem tinha as melhores e mais exclusivas músicas. Inclusive soldados americanos da base militar trocavam discos por entradas em prostíbulos.

Os jamaicanos começam a viajar para os Estados Unidos em busca de discos, músicas exclusivas pra tocar em seus sound systems, e muito, mas muito rhythm and blues é tocado nas festas. Com uma particularidade que fez toda a diferença, o R&B do sul dos Estados Unidos, um detalhe muito importante. Muito provavelmente o contra-tempo presente em toda a música jamaicana do final dos anos 50 vem daí.

Artistas americanos como Fats Domino, Rosco Gordon, Louis Prima, entre outros foram bastante populares na Jamaica. Eles têm em comum na sua música o contra-tempo (off beat ou after beat) bem acentuado e muito presente em suas composições.


Rosco Gordon é o artista que mais usava esse contra-tempo em suas músicas. Dizem que ele não era um pianista muito técnico e que por isso se resumia a fazer o off beat nas músicas. O fato é que isso gerou uma identidade e uma ligação imediata com o público jamaicano. Rosco foi muito tocado e excursionou na Jamaica.

Os contra-tempos já namoravam os ouvidos dos produtores e músicos jamaicanos da época. Essa ligação fica evidente quando os saxofonistas Lester Sterling e Roland Alphonso, ambos do futuro The Skatalites, tocaram com Rosco Gordon, absorvendo ainda mais a música e o estilo de Rosco.


R&B jamaicano ou blue beat No fim dos anos 50, por volta de 58, boogie woogie, jump blues e muito R&B são gravados na Jamaica. Laurel Aitken e muitos cantores de calypso entram em estúdio pra gravar e alimentar os sound systems que estavam a todo vapor.

Um pouco depois, por volta de 1960, nasce de fato a gravadora Blue Beat, que também vira nome de um sub-gênero, o rhythm and blues jamaicano, praticamente um "early ska". Exatamente onde entra o contra-tempo na música jamaicana, e aqui temos um grande primeiro passo para se chegar ao ska.



O sub-gênero Blue Beat “nasce” com o famoso contra-tempo, o ritmo continua shuffle mas a base, as guitarras e o piano são todos no contra-tempo. Um passo importante para a mudança e a criação de algo novo. Falando musicalmente, fica com o acento no “E” em compasso 4/4: “um E dois E três E quatro ” e segue repetindo esse modelo na base.

Vejam bem, esse primeiro uso do contra-tempo na música jamaicana é creditado ao Prince Buster, que pediu ao guitarrista Jah Jerry Haynes (futuro guitarrista do Skatalites), pra tocar e dar ênfase ao contra-tempo. Produtor, músico e compositor esperto que era o Prince Buster, certamente já ouvira antes esses ecos do contra-tempo vindo das raízes do R&B americano pelo já citado Rosco Gordon e Fats Domino, mas isso não tira o brilho nem a importância desse momento.


Derrick Morgan, Theo Beckford, Cluett Johnson e muitos outros gravam o blue beat (R&B jamaicano). Ainda não chegamos à batida do ska, estou falando só do contra-tempo, vejam que rolou mesmo uma transição para se chegar na batida, está quase chegando no que se tornaria o ska, mas ainda não é.

Podem escutar as gravações desses artistas que citei de 1960 até 61/62 são praticamente imitações de R&B, boogie woogie, tudo em batida shuffle e com a base no contra-tempo. Por isso mesmo os primeiros ska's são shuffle, é uma transição quase como um degradê mesmo, passo a passo.

A batida do ska Count Ossie foi fundamental para se chegar à batida do ska. Count foi um percussionista da comunidade rastafari. Ele levou o nyabing pra suas gravações, e o burru, vindo da África para os campos dos escravos, vem à tona na música "pop" jamaicana.

Ossie conheceu Prince Buster e Coxsone Dodd e gravou muitos singles como a música "African Shuffle". Escutem! É maravilhoso!! São metais com guitarra e percussão. Não tem bateria, o que ligou diretamente à música vinda da África (burru) com a música que estava sendo feita naquela época, que já era fruto de outras combinações da música africana. Aí começa a surgir um caminho novo ritmicamente falando, essa fase do Count Ossie marca e abre caminho para o ritmo ska surgir.

Em contra partida, na bateria convencional gravando o rhythm and blues jamaicano, tínhamos o baterista Arkland "Drumbago" Parks e também o lendário Lloyd Knibb a quem é creditada de fato a batida do ska.

Vamos lembrar do Lloyd, ele tocou no The Eric Deans Orchestra, junto com boa parte do que viria a ser o The Skatalites. Sua base e sua carreira desde o início sempre foi tocando ritmos latinos como a rumba, o bolero, o cha-cha-chá e o jazz. Por muita sorte no fim dos anos 50, ele foi parar na banda do Count Ossie, onde teve contato com os tambores nyabing e o burru. Isso foi decisivo e fundamental para o nascimento da batida ska, esse encontro com Count Ossie foi crucial, provavelmente, para toda a música jamaicana que seguiria dali em diante, para até depois do ska, ainda com o nascimento do rocksteady e do reggae.


Enfim, nasce o ska! Um fato muito interessante é que em 1962 ainda antes do The Skatalites, Coxsone conversa com Tommy MacCook e reúne músicos para gravar o disco "Jazz Jamaica - From The Workshop". A batida do ska ainda não está ali. Não faria sentido gravar um disco de jazz sendo que a principal batida da música jamaicana já existia.

Por volta de 62 mesmo, dizem que o produtor Coxsone Dodd, chegou para Lloyd Knibb e pediu pra ele puxar mais os metais, com uma pegada mais enérgica, provavelmente os músicos de metais estavam ralentando (característica dos músicos de sopro jamaicano, eles sempre tocam pra trás, layback), então ele começou a tocar o burru na bateria, de alguma maneira sintetizou nas peças da bateria a batida com o segundo e o quarto tempo fortes, provavelmente criando o famoso "One Drop" (baqueta no aro da caixa e batida do bumbo juntos) da música jamaicana e mantendo isso reto, direto, então manteve o shuffle no chimbal e nasce aí a batida do ska.

O primeiro ritmo nascido e criado na Jamaica. Após muito tempo tocando, reproduzindo e imitando músicas de fora da ilha, surge algo novo, bombástico e ainda num momento histórico. A Jamaica estava se tornando independente da Inglaterra em 1962. Imaginem que momento! E agora o ska se une ao contra-tempo da base, e o contrabaixo seguindo firme no chão com seu "walking" característico do jazz e do R&B. Nasce o ska shuffle que se desenvolve muito a partir do seu nascimento.

O nascimento do Skatalites O nascimento e o desenvolvimento do ska vem de muita mistura, de se fazer versões. A batida se desenvolveu e o próprio Knibb misturou ainda com muita coisa, ele mesmo dizia. Inclusive com a nossa bossa-nova. Escutem "Ska Ba". Tommy MacCook, numa entrevista, diz que é influência da bossa, é possível identificar na batida Lloyd Knibb mudando o acento no aro da caixa.

Todas essas pessoas aqui citadas são, para mim, os criadores do ska. É difícil creditar as pessoas e seus feitos, mas todos de alguma maneira deixaram sua marca e acrescentaram algo. A história dá muita margem a interpretações e o legado que fica é a música, que conta mais que qualquer outro dado ou data.

Ainda é curioso que os jamaicanos sempre tiveram um jeito muito particular de tocar o jazz, sempre tentaram reproduzir a música americana, como a de Glenn Miller, ou até o virtuosismo do Charlie Parker e Dizzy, ou as muitas músicas do Mongo Santa Maria (cubano) que pegaram de inspiração pra compor inúmeras músicas do Skatalites, mas ouso dizer que nunca soou igual. A raiz da música deles era muito maior, muito forte, por isso foram, fizeram e sempre serão muito autênticos.

Dessa história toda nasce o The Skatalites, e o nome do primeiro disco não poderia ser outro. "Ska Authentic" de 1964. O Skatalites foi a reunião dos melhores músicos de estúdio da Jamaica, a reunião foi de 1963 ao início de 1965. Membros originais: Don Drummond (trombone), Tommy MacCook (sax tenor), Roland Alphonso (sax alto) Johnny "Dizzy Moore" (trompete), Jackie Mittoo (piano) Jah Jerry Haynes (guitarra), Lloyd Brevett (baixo acústico) e Lloyd Knibb (bateria). Cantores: Jackie Opel, Doren Shaffer, Lord Tanamo.

Segundo relatos, muitos músicos gravaram e não dá nem pra saber quem estava em determinadas sessões de gravação, mas não dá pra deixar de citar o genial guitarrista Lynn Tait, o trombonista Rico Rodrigues, o grande mestre da guitarra Ernest Ranglin (que ganhou uma guitarra do próprio Les Paul, quando o viu tocar.), e um então jovem cantor, Bob Marley.

Reparem que durante esse período dos anos 50 em diante, tem sempre a figura do produtor por trás. Sempre o interesse comercial em fazer a música dar certo, e vender, e eu não tenho dúvidas que isso de alguma maneira impactou no sucesso que o reggae teve no mundo anos depois do ska.


Felippe Pipeta é instrumentista e compositor

fotos de Felippe Pipeta por Walter Antunes


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