Hoje em dia, muito se fala sobre sustentabilidade, mas, para a maioria das pessoas é um termo genérico, com significado difuso, muitas vezes atuando mais como um fetiche consumista moralista, do que uma preocupação consciente com seja lá o que for. Hoje vamos destrinchar esse termo e exemplificar práticas agrícolas sustentáveis, para que observemos os campos e produtos do nosso Brasil com outros olhos.
O que é sustentabilidade?
Como diria Voltaire, “antes de conversar comigo, defina seus termos”, de acordo com o Portal da Indústria, mantido pelo CNI/SESI/SENAI/IEL, sustentabilidade “é a capacidade de usufruir dos recursos naturais presentes no planeta sem comprometer o uso dos mesmos para as gerações futuras”. O autor desconhecido, ainda completa que, a sustentabilidade ambiental “relaciona-se à capacidade de suporte, resiliência e resistência dos ecossistemas”.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), “agricultura sustentável envolve fatores como conservação do solo, da água e dos recursos genéticos animais e vegetais, conservação ambiental e uso de técnicas apropriadas, economicamente viáveis e socialmente aceitáveis”.
Outro termo que considero importante para a nossa conversa é “segurança alimentar”, que significa, nas palavras da FAO, “a segurança alimentar ocorre quando todas as pessoas têm acesso físico, social e econômico permanente a alimentos seguros, nutritivos e em quantidade suficiente para satisfazer suas necessidades nutricionais e preferências alimentares, tendo assim uma vida ativa e saudável”.
Todos esses termos e suas definições formais precisam ser levados em conta por agricultores, governantes e ativistas conscientes e responsáveis. Observando-os com cuidado, vemos que eles se complementam, uma vez que promovem justiça a todos os envolvidos no processo da alimentação.
Conheça algumas práticas agrícolas sustentáveis
Enquanto no mercado, o marketing apela para galinhas criadas soltas e verduras orgânicas, práticas agrícolas sustentáveis para a produção em larga escala, que realmente põem a comida na mesa do povo, são deixadas de lado. Não que criar a galinha solta não traga conforto ao animal, ou que a verdura orgânica não seja mais saudável, mas essa é apenas a ponta do iceberg da sustentabilidade.
Antes de prosseguirmos, já que tocamos no assunto “galinha solta”, acho relevante observar que, no aspecto da preservação ambiental, criar milhares de galinhas soltas não gera um impacto positivo, afinal, elas pisoteiam e reviram o solo, comem todo tipo de broto e semente, além dos insetos, mas dentro do contexto da agricultura familiar, ou do controle de pragas, essa prática é altamente sustentável, algo que podemos comentar em outra ocasião.
Agora vamos a uma pequena lista contendo algumas práticas agrícolas sustentáveis pouco difundidas para o público.
Plantio direto
Assim como na maioria das práticas agrícolas sustentáveis, o Brasil é líder mundial na tecnologia do plantio direto. A técnica surgiu no hemisfério norte, mas foi trazida ainda nos anos 70 pelo produtor Herbert Bartz, do norte do Paraná, que a implementou e descobriu que funciona muito bem em terras brasileiras. Ao longo das décadas, a técnica vem sendo aprimorada por empresas públicas e privadas, através da experiência de pequenos e grandes agricultores.
Não foi necessariamente o viés da sustentabilidade ambiental que tornou esta uma das práticas mais populares do Brasil, mas sim da sustentabilidade e independência econômica. O plantio direto consiste em, ao invés de limpar toda a palhada da área após a colheita, mantê-la sobre o solo. Dessa forma, com o solo coberto, a estrutura dele é mantida, facilitando a infiltração da água, o abastecimento de lençóis freáticos, reduzindo a necessidade de irrigação, preservando os nutrientes do solo, além da microbiota, que é responsável por manter e produzir nutrientes e facilitar a absorção deles pelos vegetais.
Outro benefício observado, é que, como a massa seca de vegetais, da mesma forma como ocorre com todos os seres vivos, é composta principalmente de carbono, conservar a palhada ao longo dos anos promove a captura do carbono presente na atmosfera, afinal, o carbono vegetal provém da fotossíntese, ou seja, do ar. Mas não se preocupe, a palhada não vai se acumulando indefinidamente, pois ela vai sendo devorada por insetos e microrganismos, que acabam retornando parte do carbono ao ar, mas ainda assim, capturam uma parcela considerável.
Entretanto, essa palhada morta pode favorecer a proliferação de pragas, demandando ao agricultor a adoção de mais uma prática, que também promove a sustentabilidade, a rotação de culturas, além de outra um tanto controversa, que veremos adiante.
Rotação de culturas
Como o nome sugere, a rotação de culturas consiste em alternar a cultura agrícola ao longo do tempo, conforme o calendário de produção e a incompatibilidade de pragas. Dessa forma, após o plantio de uma espécie, outra bastante distinta é escolhida para sucedê-la, conforme as orientações agronômicas. Por exemplo, após uma safra de milho, podemos cultivar o feijão, plantas vulneráveis a pragas bastantes distintas. Dessa forma, a policultura ocorre ao longo do tempo, e não do espaço, viabilizando ainda mais os processos mecânicos e a alta produtividade.
Outro benefício advindo desta prática é que os vegetais não apenas sugam o solo, seu metabolismo e a forma como enraízam, pode produzir nutrientes, em especial o nitrogênio pelas leguminosas, assim como pode melhorar a estrutura do solo, um caso clássico é o das gramíneas, como o milho, que possuem raízes finas e profusas, que aumentam a porosidade do solo, facilitando a infiltração da água e proporcionando habitat para insetos e microrganismos benéficos às culturas.
Uso responsável de defensivos agrícolas e fertilizantes
Muito difamados, os fertilizantes e defensivos agrícolas têm papel importante, mesmo para quem busca uma agricultura sustentável, desde que utilizados com responsabilidade, afinal, eventualmente, pode ocorrer uma grande infestação, demandando o uso de defensivos para não inviabilizar a produção, o que não apenas traria enormes prejuízos para os agricultores, como também colocaria em risco a segurança alimentar da população.
Já os fertilizantes são sempre obrigatórios na agricultura de alta produção, afinal, mesmo com o plantio direto, produtos são tirados da terra em um ritmo maior do que são repostos, dessa forma o agricultor não tem alternativa, senão aplicar fertilizantes, que podem ter origem das fezes fermentadas de animais, de rochas moídas, ou de processos químicos industriais.
Em todos os casos, é muito importante o monitoramento e a orientação especializada para que não haja erros, que causariam prejuízos ambientais e financeiros. Ao aplicar defensivos inadequados, no momento errado, ou em quantidade inferior à necessária, o produto não fará efeito e o agricultor terá prejuízo com a praga e com a compra do produto. Em quantidades exageradas, pode causar desequilíbrio ambiental, prejudicando outros insetos, até mesmo mamíferos, aves, contaminando rios, lençóis freáticos, matando peixes, envenenando a água que bebemos e causando prejuízos ao agricultor, que comprou um produto extremamente caro, em quantidade maior do que o necessário, com o risco de receber multa e ter a lavoura posteriormente impactada pelo desequilíbrio causado.
Outra prática importante para o uso consciente dos defensivos, é reservar uma área da lavoura onde não serão aplicados, que será, ao menos parcialmente comprometida pela praga. Isto pode parecer estranho, mas Darwin explica: ao aplicar o defensivo sobre toda a lavoura, toda a praga vulnerável será exterminada, restando apenas os indivíduos resistentes, que se reproduzirão e infestarão novamente a área, de forma que o produto não servirá mais para eles. Reservando uma área, muitos indivíduos não resistentes sobreviverão e se reproduzirão com os demais, diluindo o gene da resistência, que demorará mais a se manifestar. Outra prática neste mesmo sentido, é mudar o defensivo aplicado, de tempos em tempos, conforme a orientação especializada.
Integração floresta-lavoura
Esta prática consiste em manejar a floresta para produzir dentro dela, sem desmatá-la completamente. Isto faz mais sentido em culturas não mecanizadas, em espécies que se beneficiam, como o café, ou na criação de animais. Dessa forma, espécies nativas são mantidas e o produtor pode até mesmo acabar descobrindo produtos que são extraídos desses vegetais, como folhas, frutos, galhos e seiva, que podem ser utilizados para fins alimentares, medicinais, ou para fazer artesanato.
Existem espécies nativas que podem demorar séculos para alcançar o estágio adulto, além de outras que beneficiam de diversas maneiras os vegetais que as rodeiam, por isso, até mesmo grandes culturas podem permitir que alguns desses indivíduos permaneçam, sem impacto em processos mecanizados.
Barraginhas
A ideia das barraginhas é bastante simples, mas genial! A pessoa precisa moldar o terreno, de maneira que, em chuvas, a água não escorra longas distâncias pela superfície, o que levaria os nutrientes embora para os rios, que ficariam contaminados e causaria erosões. A modelagem deve favorecer a formação de pequenos lagos, as barraginhas, onde a água fica contida e pode infiltrar no tempo que o solo é capaz de proporcionar. Dessa forma, além de evitar todos os problemas citados, o agricultor tem menos gastos com irrigação e as estradas ficam mais seguras e com manutenção mais barata.
Você conhecia essas práticas de agricultura sustentável?
Percebe como elas não apenas favorecem a sustentabilidade ambiental, mas também a segurança alimentar?
Quando têm o conhecimento, os agricultores querem adotar práticas sustentáveis que valorizem sua terra, tragam economia e permitam que ela continue produzindo ao longo do tempo, por isso, compartilhe este texto!
Ariel Leon Socio Bonfim Redator em Diolinux, estudante de engenharia e computação