Doença do solo deve ser considerada um fenômeno complexo e multifatorial, influenciado por fatores como ocupação e uso inadequados, redução progressiva da biodiversidade, fogo, plantas exóticas, monoculturas, manejo equivocado de tecnologias.
São os denominados impactos ambientais cumulativos e sinergéticos. São cumulativos aqueles impactos que ocorrem de forma frequente, produzidos pela dinâmica de ocupação e uso das áreas para produção; são sinergéticos os impactos em associação simultânea, produzindo ou contribuindo para uma ação coordenada.
O adoecimento do solo agrícola pode ser entendido como o surgimento de condições negativas para o desempenho vegetativo e reprodutivo das plantas cultivadas. As condições negativas são popularmente conhecidas no Brasil como “cansaço” das terras, degradação, fadiga ou contaminação. Além disso, fatores ambientais como o clima e o tipo de solo podem aumentar a complexidade do adoecimento.
Na prática, os sintomas desse “estado doentio” começam com o aparecimento de poeira, poças d’água e crostas superficiais. Tudo começa com o desmatamento e a exposição do solo à radiação solar intensa e às chuvas torrenciais frequentes. Ao longo dos anos o efeito acumulado da mobilização contínua, vai fragilizando de forma lenta e gradual, condenando áreas aos processos erosivos.
O perfil epidemiológico do solo permite identificar os fatores tecnológicos, operacionais, biológicos, químicos e físicos que levam ao seu adoecimento, mas o principal fator é, sem dúvida, a “miopia tecnicista” de profissionais e agricultores que negam a possibilidade de caminhar para uma transição agroecológica, praticando atividades mais harmoniosas com a natureza, fundamentadas nos aspectos do desenvolvimento ambiental e humano da agricultura.
Afonso Peche Filho
Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas
fotos Walter Antunes