A abordagem relacionada com bacias hidrográficas imediatamente remete às questões com água. Mas outros pontos têm o mesmo peso e importância, como a cobertura vegetal.
Os ecossistemas naturais são responsáveis pela regulação climática, polinização, abrigo da fauna, dispersão de sementes, controle natural de pragas e doenças, recarga hídrica e, principalmente, por uma significativa contribuição para melhoria da qualidade das águas de superfície que chegam ao leito dos rios.
Além de tudo, estão ligados aos aspectos culturais e ao bem-estar da população.
Pela legislação, as áreas de preservação permanente e reserva legal teriam que manter mais de 20% da área da bacia com cobertura natural nos biomas brasileiros, com exceção da Amazônia, onde essa porcentagem é maior. Se tudo fosse ao “pé-da-letra” era para todos os cursos d’água estarem protegidos e os fragmentos interligados, estabelecendo uma “rede de proteção” e conectividade.
Um grande problema é que esses fragmentos apresentam uma progressiva redução da quantidade e do tamanho ao longo da bacia. Grande parte destas áreas sofre com problemas de fragmentação e degradação, o que resulta numa preocupante perda da diversidade animal e vegetal.
O que aparenta é que os “Povos das Bacias Hidrográficas” menosprezam os fragmentos florestais remanescentes. Pouca ou nenhuma atenção vem sendo dada às consequências do processo contínuo de perturbação das áreas protegidas por lei.
Na realidade, os fragmentos florestais, principalmente localizados em propriedades particulares, são abandonados e sofrem todo tipo de perturbações.
Seria necessária uma atenção no sentido de ampliar a revegetação das Áreas de Preservação Permanente – APPs, e alocar as Reservas Legais, nas propriedades que ainda não a possuem.
Nas proximidades dos fragmentos florestais, enriquecer e conectar a vegetação existente. Estas ações, permitiriam um menor efeito de borda nos fragmentos florestais e propiciaria uma maior permeabilidade do fluxo gênico na paisagem.
Entender a conectividade dos fragmentos é necessário para aumentar a qualidade da polinização e dispersão de sementes, bem como para fomentar o deslocamento da fauna ao longo de toda bacia.
Ações como essas, associadas a iniciativas de prevenção e combate a incêndios, enriquecimento vegetal e diminuição no uso de pesticidas, vão ao encontro da melhoria na qualidade dos fragmentos florestais e de toda a água produzida no interior da Bacia Hidrográfica.
A figura acima destaca diferentes formas de fragmentação e perturbação em um trecho da Bacia do Rio Pardo – SP.
Afonso Peche Filho
é Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas
Thiago Pinto Pires
é Engenheiro Florestal – Chefe de Divisão do Jardim Botânico de Jundiaí